Capítulo 32 - Um componente surpresa

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Depois de dois dias, sua solicitação foi atendida. A Secretaria de Segurança do Estado liberou as imagens das câmeras de segurança da Rodocenter, o último local onde supostamente Douglas fora visto em público.

Uma câmera instalada no lado esquerdo da rodoviária, onde o fluxo de pessoas era maior, e também o local mais próximo da maioria dos embarques, registrou a chegada de um veículo popular de cor azul-claro. Era um Palio 97, da Fiat.

Não dava para identificar a placa e muito menos os ocupantes do carro, pois a resolução do vídeo era baixa, mas William tinha certeza de que já tinha visto o veículo na garagem da república dos meninos.

Em menos de um minuto a porta do passageiro se abriu e dela saiu um homem segurando uma mochila. Ele se despediu do motorista e jogou a mochila para trás, ajustando-a nas costas.

Dênis saiu com o carro.

Douglas atravessou a rua e conferiu as horas no relógio de pulso. Depois de alguns segundos, tirou o celular do bolso da calça e demorou ao menos cinco segundos fitando a tela do aparelho.

William observou Douglas atender o telefone, mas não era possível enxergar sua expressão. Quando o garoto se aproximou da entrada principal da rodoviária, saiu do campo de visão da câmera.

Em outro vídeo, filmado de outro ângulo, porém, com a mesma resolução de merda, foi possível ver a continuação dos passos do rapaz foragido.

Douglas segurava o celular junto à orelha e, num dado momento, parou de andar. Olhou para todos os lados, como se estivesse perdido, ou até mesmo tentando encontrar alguém, talvez um parente que tivesse ido visitá-lo. Alguns minutos depois, ainda parado no mesmo lugar, movimentando apenas a cabeça em várias direções, desligou o celular e o pôs no bolso.

Seu olhar, pela primeira vez, se fixou em um ponto, e daquele ponto surgiu um homem que vestia uma jaqueta marrom, em cujos bolsos estavam metidas suas mãos. Se era algum parente distante ou um grande amigo, não parecia estar com muita saudade de Douglas, pois o homem parou de frente para o rapaz e o cumprimentou apenas com tapinhas nas costas. Douglas balançou a cabeça em sinal positivo e depois disso o homem se ofereceu em levar sua mochila, embora o garoto não precisasse de ajuda. Mesmo assim, ele aceitou o gesto cavalheiresco.

A nova figura que caminhava junto com Douglas apontou para algum lugar. William viu Douglas assentir com a cabeça mais uma vez, e ambos rumaram para a direção indicada.

A dupla saiu do alcance da segunda câmera.

Um terceiro vídeo, filmado pela câmera instalada do lado direito da Rodocenter, mostrava o ponto de ônibus apinhado de gente e suas malas, mas foi possível ver os últimos passos dos dois. Douglas e o recém-chegado foram caminhando para a praça que havia na frente da rodoviária e viraram à esquerda, sempre com passos apressados e bem próximos um do outro.

Os dois entraram na rua principal, onde ficavam as pousadas. William conhecia aquela região, e sabia que a maioria das casas daquela rua eram pensões baratas. Para seu azar, não havia estabelecimentos comerciais por ali, portanto, buscar por novas filmagens seria inútil. Perguntar aos populares se tinham visto Douglas por ali também seria como caçar uma agulha no palheiro, pois a quantidade de transeuntes era grande, era fácil de se embrenhar e se camuflar, ou até mesmo de ser confundido no meio de tanta gente.

O vídeo acabava ali. Douglas e o acompanhante entrando na rua das pousadas e sumindo. William tinha a plena noção de que poderiam muito bem ter entrado num carro e partido para sabe-se lá onde.

O detetive socou a mesa depois de assistir a tudo. Claro que veria muito mais vezes os vídeos, mas naquela hora estava nervoso demais para pensar com precisão. Foi até a copa tomar um café expresso, quase sem açúcar, e de lá, entre as brechas foscas e lisas dos vidros, viu a bela secretária ocupada com seus afazeres.

Beatriz usava um blazer azul-escuro e tinha os cabelos presos em um coque. Usava uma cor mais vibrante de batom naquele dia, que William não conseguia definir ser era um cor-de-rosa bem forte ou vermelho, mas seus lábios estavam lindos do mesmo jeito. A maquiagem simples que ela usava a tornava ainda mais atraente, realçava sua beleza, e parecia muito natural.

A sala do café começou a ficar cheia, alguns policiais interromperam a piada do momento e cumprimentaram o detetive.

William pegou um copo d'água quando terminou o café, e por mais alguns segundos fitou a bela moça. O detetive conferiu as horas e percebeu que já era tempo de comer alguma coisa.

Beatriz organizava alguns papéis na mesa, deixando tudo pronto para o segundo round pós-almoço. Quando se levantou, por reflexo, olhou para a copa, e os olhares dos dois se cruzaram.

Involuntariamente. ele sorriu. E ela sorriu em resposta.

William bebeu seu último gole de água, jogou o copo plástico na lixeira vermelha, conforme as normas impostas pelo setor de meio ambiente, e foi até o balcão da recepção.

Beatriz perguntou se ele precisava de algo.

— Preciso espairecer a cabeça — respondeu.

— Eu estou saindo para almoçar, mas se o senhor precisar de alguma coisa, pode me falar que eu...

— A única coisa de que realmente preciso agora é de uma boa refeição e de relaxar. Acredite, as novas descobertas no caso d'O Cúmplice e o Assassino estão me deixando tenso.

— Compreendo — disse ela.

— Gosta de comida japonesa, não é?

— Eu adoro, senhor.

— Não sei se tem companhia para o almoço hoje, mas pensei em ir ao Japan Sushi Bar.

— Eu amo aquele lugar — falou ela, com um sorriso iluminado.

— Vamos? — convidou William.

Pela primeira vez, depois de anos, os dois saíram juntos para almoçar.

William havia tomado coragem e aquilo o faria bem, pois precisava se distrair um pouco, descarregar alguns pensamentos antes de começar a busca pelo novo rosto que tinha aparecido com Douglas. Precisava da mente mais livre para poder seguir com seu trabalho.

O almoço foi bem mais descontraído do que ambos imaginaram. William já havia esquecido o quanto era bom estar acompanhado de uma bela mulher, a qual despertava algumas coisas a mais do que seu instinto masculino.

Agora, de volta ao trabalho, ele experimentava uma atmosfera diferente desde que entrara em sua sala. Realmente a presença de Beatriz fizera a diferença naquele dia.

Com a cabeça no lugar e a mente mais clara, ele pôde se concentrar no que fazer com o novo suspeito.

Quem era o homem de barba que usavauma jaqueta marrom e que caminhara ao lado de Douglas? Um amigo? Um conhecido?Seu cúmplice?

O Cúmplice e o Assassino (COMPLETO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora