CAPÍTULO UM

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1. Senhoreca do carro, regresso de Holly e o Totó.


ISAIAH CAMERON

        Se há coisa que eu odeio é ter aulas de história às oito e meia da manhã. Qual é a necessidade de ter aulas tão cedo? Apanho sempre trânsito no caminho para o secundário e, para que não bastasse, eu, Isaiah Cameron, o rapaz mais interessante de toda aquela espelunca, ia chegar atrasado à sua primeira aula do dia. A culpa nem é minha (desta vez), mas sim do ser humano que não coloca a porra da sua lata velha em andamento! Grunhi alto e deslizei o vidro da minha janela, levando com a brisa matinal no meu rosto. De seguida, enchi os meus pulmões de ar poluído de gás vindo de todos os automóveis ali presentes, coloquei a cabeça de fora e gritei sem pensar duas vezes:

– ARRANQUE COM ESSA MERDA! NÃO É COM QUILOS DE BATOM QUE VAI REJUVENESCER!

       A senhoreca, indignada, começou a buzinar-me durante cinco minutos e, se eu não tivesse a minha querida avó no pensamento, havia saído do carro para lhe berrar na cara, porém as minhas reclamações resultaram e a velha desapareceu, deixando-me continuar o itinerário até ao secundário o mais rápido que me fosse possível. Entre paragens bruscas em passadeiras e sustos com animais, já conseguia avistar as grandes paredes brancas que me iam servir de abrigo durante horas a fio nesta azarada terça-feira, e também me foi possível verificar que o parque de estacionamento estava lotado e teria que parar o carro duas ruas acima da escola. Como eu disse, azarada terça-feira. Estacionei o automóvel à frente de uma florista que eu nem sabia que existia, peguei na minha mochila e corri apressadamente, ativando o alarme do carro pelo caminho. Num cenário de estrela de Hollywood, estaria agora a desviar-me das pessoas como se fosse um ninja sem vestígios de suor na minha testa macia, mas, infelizmente, sou um mero adolescente que dá encontrões aos vários peões e ao ar indefeso, tropeçando nos próprios pés apenas porque está com pressa para ir à primeira aula horrenda de muitas do ano.

       Ofegante e sem sentir as pernas, atravessei o portão da escola que se encontrava completamente vazio, o que me deu a oportunidade de recompor o meu ar deplorável antes de me dirigir ao bloco onde estava a ter aulas. Limpei as gotículas salgadas que escorriam pela face com a manga da minha camisola preta e passei os dedos no meu cabelo loiro para o desembaraçar, acabando por entrar no edifício. O corredor estava sombrio e silencioso, pouca esperança entrava pelas janelas e os cacifos estavam intactos. Abstraí-me dos meus pensamentos ridículos e dirigi-me até à sala confiante, preparando-me mentalmente para conhecer a minha professora de história deste ano. Não queria que fosse a Ms. Holly outra vez, pois já tinha tido uma sobredosagem da sua atitude arrogante durante o ano letivo anterior. Mirei a porta de madeira escura e respirei fundo, agarrando segundos depois na maçaneta, e rodei-a, dando de caras com os meus novos colegas de turma a olharem-me como se eu fosse a coisa mais interessante que lhes tinha acontecido até agora (sejamos realistas, era verdade e eu não os culpava), porém o meu ar parou de circular quando vi aquele ser com uns lábios estranhamente monstruosos sentada naquela cadeira confortável, mas de tamanhos reduzidos face à anatomia do seu traseiro, a lançar raios lazer invisíveis na minha direção. Revirei os olhos, fechando a porta atrás de mim, e dirigi-me para o lugar vazio à beira do Nick, que se encontrava ligeiramente aliviado por me ver.

– Isaiah. Sempre pontual. – Ms. Holly atirou o comentário para o ar e o típico sorriso cínico estava nos seus lábios prontos para serem contemplados. – Teve saudades minhas?

       A velha estava a provocar.

– Quase morri por não a ver durante estas férias. A sua vida social esteve parada, não esteve? – Retribuí a provocação de bom grado como nos bons velhos tempos enquanto tirava o meu caderno para cima da mesa.

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