CAPÍTULO DOIS

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2. O meio irmão da Danny, as aventuras da Holly e más ideias.


ISAIAH CAMERON

       Após Dorothy Gale ter desaparecido do meu campo de visão, decidi permanecer encostado às grades de ferro caso ela voltasse, porém ela e o Totó nunca mais apareceram e a campainha já havia soado para a primeira aula da tarde. Enquanto me dirigia até à sala onde ia ter espanhol, a minha cabeça apenas conseguia formular questões e questões à volta daquele acontecimento inesperado (e que podia nunca ter acontecido). Uma pessoa não muda do dia para a noite, mas Dorothy tinha sofrido uma volta de cento e oitenta graus. Eu lembro-me do ano passado em que a via completamente sozinha nos cacifos, ou mesmo nas aulas de história, mas agora não vem às aulas da tarde e anda a cavalgar num cavalo de metal velho com um cavaleiro de quinta categoria em vez de ter ficado com o príncipe das neves a conversar pela primeira vez. Não conseguia entender porquê, para ser honesto. Na realidade eu não lhe vi as feições, mas, por favor, todos são um zero à esquerda à minha beira. Eu sou o Isaiah e isso basta.

– ISAIAH! – Ouvi a minha todo-o-terreno a chamar-me ao mesmo tempo que acenava na minha direção. Sorri-lhe e aproximei-me do seu corpo de pequenas dimensões, recebendo, depois, um olhar acusatório e confuso. – Onde é que tu estiveste este tempo todo? – A Kia é uma daquelas raparigas que necessita de respirar o mesmo ar que eu e, claro está, que sentiu a minha falta. – Encontraste-a?

– Sim, mas um gajo qualquer veio buscá-la numa mota que ao teu lado é um grande monte de sucata, deixa-me que te diga. – Pisquei-lhe o olho, mas ela acabou por me dar uma bofetada no braço. Eu não tenho culpa de ela ter nome de uma marca de automóveis.

– És impossível! – Resmungou, revirando-me os olhos. – Viste-lhe a cara?

– Não. Ele não teve a audácia de retirar o capacete da cabeça e, sinceramente, ainda bem.

       Kia ia responder-me, contudo, a professora Falsete apareceu e abriu a porta, mandando-nos entrar com o sotaque tipicamente agudo. O registo era tão agudo que era capaz de rachar quinhentos copos de vidro de uma só vez (e eles na porra da China!). Encaminhei-me para um lugar à beira da parede e tive a oportunidade de ter a companhia da minha melhor amiga. Retirei o caderno de inglês – sim, eu não me dei ao trabalho de ir ao cacifo –, e tentei passar para o mesmo os gatafunhos que a Falsete escrevia no quadro, prestando atenção às suas recomendações e pedidos para uma boa dinâmica de sala de aula, limitando-me a responder ''Sí profesora'' em cada momento que ela se calava.


       Depois da aula de espanhol ter acabado, a todo-o-terreno pediu-me para esperar por ela para continuarmos a conversa que a Falsete interrompeu. Enquanto caminhávamos pelo corredor, Kia levou-nos para a beira do cacifo de Danny, que surpreendentemente estava com cara de poucos amigos. Encostei-me à parede e a minha melhor amiga abordou-a pelo lado oposto, acabando por lhe questionar o que é que se passava. A minha ideia era ignorar aquela conversa e contemplar o resto do mundo adolescente presente, porém quando ouvi o nome de Dorothy, tomei toda a atenção possível.

– ... A Dorothy não apareceu! E ainda por cima a Álgebra, Kia. Aposto que foi aquele desmiolado que a veio buscar e esqueceu-se que ela ainda tem aulas e não é uma vagabunda como ele. – Danny explanou, descarregando toda a raiva que emanava no seu tom de voz na porta do seu frágil cacifo. Entreolhei Kia de modo a obter alguma resposta, contudo, ela apenas me mandou esperar e assim lhe obedeci.

– O Isaiah viu-a a ir de moto com alguém...

– É ele! É aquele estúpido, orangotango, cabeça de ovo! Porque é que ele existe? – Danielle continuava a berrar para os céus as suas lamentações e insultos que eu deduzi que fossem para o Totó da mota.

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