CAPÍTULO OITO

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8. Falta de divertimento, o porco nojento e o juízo de valor.


ISAIAH CAMERON

     Eu não queria admitir a ninguém que estava a pensar demasiado relativamente ao que a Lindsey aproveitadora me tinha dito no outro dia, mas eu não conseguia evitar. Tinha o direito de saber qual tinha sido o motivo para ela me perguntar uma coisa daquelas, porém tinha a noção que a minha ex nunca ia dizê-lo a não ser que eu iniciasse uma discussão de modo a arrancar-lhe toda a verdade. O que não me deixava avançar com este plano era o facto de estar farto de andar a discutir com as pessoas dia sim, dia não. Precisava de alguém do meu lado, só não sabia bem quem é que deveria ser. Por um lado, tudo me levava ao meu raio de sol. Kia nunca me ia desapontar. Por outro, não sei se ela seria a melhor aliada porque a todo-o-terreno nunca quis saber realmente da minha ex e nada sabe sobre ela que me possa ajudar.

     Por simples e grossas palavras: estou na merda.

     Por falar na minha situação atual, ainda não tinha falado com a Dorothy, mas tencionava fazê-lo hoje à tarde em inglês. Tenho consciência de que não é a melhor altura para resolver os meus problemas pessoais, mas, para dizer a verdade, eu não quero realmente saber. Até posso tentar que seja antes da aula, ou depois, todavia, não pode passar de hoje, pois odeio a sensação de ter as palavras entaladas na garganta.

– Isaiah, já fizeste o 3.2? – Nicholas perguntou-me com os seus olhos de cachorrinho, o que me fez encarar o meu caderno e perceber que ainda não tinha iniciado sequer a proposta.

– Hm, não, mas eu já te apanho. – Suspirei contra o livro e pedi aos meus neurónios para desligarem dos meus afazeres futuros e começarem a pensar em funções antes que o polaco se decidisse levantar da sua querida cadeirinha para vir bisbilhotar o meu progresso quase nulo nos exercícios recomendados por ele.

– O que é que se passa contigo? Parece que estás na lua. – Nick sussurrou enquanto escrevia números misturados com letras, entusiasmado.

– Quem me dera estar na lua em vez de estar aqui. – Confessei, fingindo que sabia o que estava a fazer naquele momento. O meu colega do lado começou a brincar com o seu lápis entre os dedos, demonstrando desmazelo pela primeira vez desde o início da aula.

– Pensa de uma forma mais positiva. – Afirmou Nicholas. – Depois de inglês estamos de fim de semana. Acho que ambos estamos a precisar de descansar.

– Talvez. – Disse, indiferente, encolhendo os ombros de seguida. – Devia combinar alguma coisa para fazer... Preciso de resfriar as ideias.

– Olha, como estou de castigo por ter chegado bêbedo a casa da última vez, não posso sair, mas se quiseres passar por lá, és bem vindo. – O rapaz segredou-me como se fosse uma criança envergonhada e eu tentei controlar a minha vontade de rir visto que me tinha lembrado do que se tinha sucedido, no entanto, anuí.

– Vou manter isso em mente, obrigado. – Acatei a sugestão apesar de não ser bem o que tinha pensado fazer. Precisava de me divertir um pouco, longe destas histórias do lobo mau que estão sempre a advir sabe-se lá por que razão. Contudo, se não tiver nenhuma opção mais apelativa, ao menos sabia que Nick estava disposto a ser o meu ouvinte de serviço.

      Mesmo sem vontade, continuei os exercícios com mais atenção até ao fim da aula. Por incrível que pareça, o Mr. Pulaski não quis saber de nós e eu acabei por desperdiçar o meu precioso tempo a exercitar o meu cérebro com números em vez de me lamentar sobre a minha vida comigo mesmo.

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