Capitulo 26

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Agora que estavam todos os sobreviventes fora do labirinto ja não sabiam o que fazer.
Era um corredor escuro do qual não viam o fim.
- Eu vou à frente. - disse Minho.
- Eu vou atrás - ofereceu-se Thomas.
Joana foi entre Chuck e Teresa pelo corredor escuro até a escuridão se tornar demasiado densa a ponto de o seu único guia ser o som dos passos do Chuck à sua frente.
Andaram durante quase 10 minutos pela total escuridão até ouvir o Chuck:
- Há aqui qualquer coisa... Parece... Um escorrega? Estão todos a descer.
Joana ouviu-o a afastar-se. Esperou uns segundos, avisou Teresa do escorrega e sentou-se escorregando quase imediatamente. Era ecorregadio como se estivesse coberto com óleo, o que, se calhar era verdade.
Sentiu o vento na cara enquanto escorregava a alta velocidade.
Ao fim de uns minutos a descer pela escuridão chegou ao fim, deu uma cambalhota e bateu com a cara no chão.
- Au... - disse levando as mãos à cara.
Logo que se levantou Teresa caio-lhe em cima e segundos depois Thomas, ficando os três uns em cima dos outros a gemer de dores.
Lá se conseguiram desembaraçar ao fim de uns segundos.
Joana procurou Minho e Newt e viu que eles, tal como todos os outros, estavam a observar o local. Já havia luz, e haviam mais pessoas.
Vinte a trinta pessoas com batas brancas, blocos de notas e com expressões neutras encontravam-se ali com eles. Não sorriam, nem pareciam zangadas, nem tristes, nem com nada que as fizessem parecer humanas. De vez em quando um ou outro acenava afirmativamente com a cabeça como se estivesse satisfeito com algo mas a expressão neutra regressava sempre.
Estavam separados deles por um vidro e agiam como se os clareirenses não os pudessem ver.
- Quem é aquela gente? - sussurrou Chuck.
- São os criadores - replicou Minho cuspindo para o chão - Vou partir-vos a cara! - gritou ele em plenos pulmões, mas ninguém se mexeu. Alguns anotaram algo nos seus blocos, mas mais nada.
Então em frente deles apareceu uma mulher também com bata branca e com a mesma expressão neutra. A seu lado estava alguém com a cabeça baixa e com um capucho.
Ficou tudo em silêncio durante uns segundos.
- Sejam bem vindos - disse finalmente a mulher - Passaram-se dois anos e tão poucos morreram. Incrível...
A raiva cresceu dentro de Joana.
- Desculpe? - perguntou Newt
A mulher olhou-o fixamente.
- Correu tudo de acordo com o plano, senhor Newton. Embora esperássemos que mais de vocês tivessem desistido pelo caminho. Mas até trouxeram uma a mais não tenho razões de queixa - disse fitando Joana.
A mulher olhou de relance para o colega encarapuçado. Tirou-lhe o capucho e ele levantou a cabeça. Tinha os olhos cheios de lágrimas, era o Gally.
- O que é que ele está aqui a fazer?! - gritou Minho.
- Vocês agora estão em segurança - respondeu a mulher como se não o tivesse ouvido.
- Por favor, acalmem-se.
- "Acalmem-se" ?! - exclamou Minho indignado. - Quem é você para nos mandar acalmar? Nós queremos falar com a polícia, com o presidente da câmara, com o presidente... Seja lá com quem for!
Joana, pelo que conhecia do seu melhor amigo, receava que ele se arma-se em parvo e fizesse algo de que se iria arrepender.
- Não tens ideia do que estas para aí a dizer, rapaz. Esperava um pouco mais de maturidade por parte de uma pessoa que passou os Testes do Labirinto. - replicou a mulher agora com um tom condescendente.
Minho, que se preparava para responder foi impedido por Newt que lhe deu uma cotovelada no estômago.
- Gally - disse Newt - O que é que se passa aqui?
Gally fitou-o sem responder. Parecia fora de si. Algo não estava bem.
- Gally? - tentou Joana mas sem sucesso.
- Um dia irão agradecer-nos o que fizemos por vocês. Isso garanto-vos eu, e também confio na vossa capacidade para o aceitarem. Se não o fizerem então tudo terá sido feito em vão. Os tempos são negros, senhor Newton. Muito negros.
Joana perguntava-se o porquê de ser ignorada e desprezada pela mulher. Calculava que seria por não pertencer ali e de ter, de algum modo, alterado o rumo dos Testes.
- Como devem calcular, existe uma última Variável. - A mulher deu um passo atrás fazendo com que Joana fizesse o mesmo instintivamente.
- Gally? - tentou Thomas mais uma vez.
- Eles... conseguem controlar-me... Eu não... - Gally abriu muito os olhos e levou a mão à garganta como se estivesse a sufocar. Depois ficou muito quieto, tranquilo e de corpo descontraído.
Ele levou a mão ao bolso de trás e tirou uma coisa prateada, uma faca.
Num movimento rápido levantou a mão e lançou a faca em direção a Thomas.
Mas esta não lhe acertou... Acertou no Chuck que se pusera em frente a Thomas.
Ela soltou um soluço de choro cobrindo a cara com ambas as mãos. Não, não podia estar a acontecer. O Chuck não. Pensou.
Thomas gritava o nome dele ajoelhando-se a seu lado.
- Tho... mas - tentou o pobre rapaz dizer. - Encontra... a minha mãe. - parou durante uns segundos - Diz-lhe... - mas não conseguiu terminar a frase.
Fechou os olhos.
Morrera.
O Chuck estava morto.
O rapazinho alegre de bochechas rosadas morrera ali nos braços de Thomas.
Lágrimas escorriam-lhe pela cara. Newt apareceu a seu lado, ela encostou a cabeça no seu ombro e chorou ainda mais.
Thomas largou Chuck e levantou-se furioso. Seguiu a passos largos em direção ao Gally e bateu-lhe. Atirou-o ao chão e começou a agredi-lo libertando toda a sua raiva.
Contra aquilo que Joana pensava, nem a mulher nem os restantes Criadores os tentaram separar. Apenas os observavam como se estivessem a ver um filme.
Newt e Minho correram até ele e arrancaram-no de cima do Gally. Thomas ainda dava murros no ar de tanta que era a sua revolta. A Joana apetecia gritar: "Não! Deixem-no estar! Ele que lhe bata só mais um bocadinho." O ódio que sentia era inexplicável.
Mas esse sentimento pareceu rapidamente desaparecer sendo substituído pela tristeza da ausência de Chuck.
Thomas voltou para perto do rapazinho caído encharcado em sangue e agarrou-o uma última vez antes de se deixar cair para trás.
E sem mais nem menos tiros ecoavam pelo ar. Os Criadores atrás do vidro foram mortos numa questão de segundos tal como a mulher que falou com eles. Tudo acontecia demasiado depressa.
Um homem armado chegou-se a eles.
- Não há tempo para explicações - disse-lhes o homem, numa voz tão carregada como o seu rosto. - Sigam-me e corram como se as vossas vidas dependessem disso. E acreditem que dependem.

No lugar erradoWhere stories live. Discover now