Capítulo 21 - Seguindo em frente

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Chovia muito. Aquele tipo de tempestade que demora horas a passar, que deixa o clima mais denso e a sensação de estar prestes a virar um peixe.

Usava um casaco preto, de lã grossa e gola alta, que cobria metade do meu pescoço, mas não me fazia ter a sensação de estar sendo sufocada. Era um casaco bonito, que marcava a cintura e acentuava o busto, daquele tipo que se compra nas grifes de Nova York. Botas de cano longo protegiam dos meus pés até os joelhos, fazendo com que o jeans justo que vestia por baixo parecesse mais quente do que realmente era. Meu cabelo estava preso num coque frouxo e inúmeros fios de cabelo voavam com o vento. Os lábios roxos e o nariz avermelhado indicavam que estava mais frio do que costumava ser quando saia para a rua.

Eu estava em um lugar que não lembro já ter estado. Era uma construção de madeira branca com detalhes em dourado, localizada no centro de um lago quase que completamente congelado. Provavelmente deveria ser um deque que ligava o lago a algum lugar especifico já que existia um enorme corredor do mesmo material e igualmente coberto de telhas de barro. Esse corredor era largo e as paredes tinham entalhes na madeira para que o sol pudesse penetrar o ambiente nos dias ensolarados. Se pudesse apostar, diria que aquele lago se tornava uma pista de esqui quando o inverno estava mais rigoroso, e o deque, bem provavelmente, era usado para que as pessoas pudessem admirar os patinadores sem ter que ficar expostos ao frio e a neve.

No meio do quiosque havia uma enorme abertura quadrada emoldurada com um parapeito para que as pessoas pudessem descansar os cotovelos enquanto admirassem a vista.

Era exatamente o que eu estava fazendo naquele momento. Estava olhando para o lago, com os cotovelos pousados no parapeito da janela.

Estava séria e pensativa, e mesmo que estivesse olhando para frente era nítido que não estava olhando para nada em especifico. Meus pensamentos pareciam voar para algum lugar que meu sonho não me dava acesso. Fiquei naquela mesma posição por um tempo, contando somente com o som da chuva que caia nas telhas. Era um lugar silencioso e a chuva só fazia com que parecesse ainda mais solitário do que já parecia ser.

Ninguém deveria sair de casa com uma chuva daquelas.

-Imaginei que te encontraria aqui.- disse uma voz.

Meu eu do sonho parecia saber muito bem quem estava ali, pois não se virou para olhar quem era e nem disse uma palavra se quer. Apenas continuou olhando para o nada, permanecendo no mesmo silencio.

O dono da voz se aproximou de mim sem fazer muito barulho. Parou ao meu lado e esfregou as mãos uma na outra para se aquecer. Nem assim desviei meu olhar do lago.

Ele tirou as luvas que cobriam as suas mãos e depois de guardá-las no bolso do casaco se acomodou exatamente como eu. Olhou para frente e suspirou fazendo com que fumaça saísse da sua boca devido ao frio.

-Você sabe que a gente precisa conversar.- disse ele olhando para mim.

Finalmente olhei para o lado e lá estava o garoto de olhos cinzentos me olhando como se fosse a coisa mais normal do mundo estarmos ali.

Ele usava um gorro preto na cabeça que cobria metade dos cabelos e ficava sobrando na nuca. Não era um jeito muito eficiente de se usar um gorro já que parte da sua cabeça ficava exposta, mas ficava bonito e ainda por cima deixava à mostra o par de argolas prateadas que eu tanto gostava. Seu casaco era de algum tipo de tecido impermeável e era tão preto quanto as suas calças e botas de cano curto. Ele sabia muito bem que eu gostava de vê-lo de preto.

Mas não foram as suas roupas que prenderam a minha atenção e sim aquele par de olhos tão marcantes e convidativos. Neles havia um misto de mistério, cautela e diria até de certo poder. Mas se ficasse olhando pra eles por algum tempo, como estava fazendo, podia ver o quanto eles estavam preocupados em estar presos aos meus.

1- A Telepata_ PersuadidosWhere stories live. Discover now