Capítulo 20

478 21 14
                                    

Caleb poderia passar horas e horas de seus dias admirando a visão que tinha bem ao seu lado: a visão de uma mulher dormindo tão serena e tão pacificamente linda, sobretudo, estando como estava usando de sua jaqueta como quem precisasse daquilo para se sentir segura diante dos sonhos que provavelmente estavam invadindo seu subconsciente como de praxe, afinal, quem está livre de ter sonhos? Quem até mesmo está livre de ter pesadelos?

Ao menos, àquela noite, sobre o longo e terno olhar de Caleb, Hanna não tivera nenhum pesadelo e isso fizera com que o homem ao seu lado a admirasse mais, a olhasse mais e se apaixonasse mais, até que não pôde livrar-se do inevitável e tirara o pequeno cochilo que de fato, foi pequeno por conta dela já que a mesma mexera-se meio que agitadamente e sem querer, por achar que estava numa espaçosa cama de casal, lançara seu braço na direção de seu rosto, fazendo-o despertar-se ligeiramente junto ao seu tom de reclamação por levar uma mão tão pesada em seu rosto: não espera que uma mulher delicada como a loira, tivesse uma mão tão pesada ao ponto de fazê-lo sentir dor.

- Outch! Cuidado com essa sua mão.

- Mas o que...

Hanna piscou três vezes seguida, mexeu-se sentindo dor em algumas partes de seu corpo, tentou se esticar: não conseguiu. Apavorou-se, disparando a falar sem nem mesmo pensar:

- Onde estou? Por que estou... Caleb! O que você fez comigo? Onde nós estamos? Por que nós estamos parados no meio do nada e por que, por que...

Caleb então esperou que a mulher se acalmasse por conta própria já que aparentemente parecia estar fazendo um reconhecimento, aos poucos, de onde estavam: era evidente que seu olhar estava capturando tudo o que via por entre o vidro, como quem relembrava de momentos, como quem sabia onde estava, porém, sabia também que não deveria estar ali embora parecesse ansiar por deixar um riso brotar de seus lábios. Por isso, sem excitar, ele lhe direcionou a palavra:

- Bom dia, amor.

Lentamente Marin virou o olhar em sua direção e engoliu em seco, tentando controlar certa raiva que lhe subia por seu sangue como também buscava não parecer tão mexida diante da palavra que fora a escolhida pelo homem que agia como se não tivesse a levado para o lugar onde tiveram sua primeira vez juntos. Simplesmente não conseguia acreditar que estava parada no meio de um camping, literalmente, como se estivesse acampando. Acampando dentro de um jipe, vale ressaltar.

Como dormira e nem mesmo se dera conta disso? Em sua defesa, ela o atacou com palavras que nem mesmo eram medidas antes de serem ditas:

- Bom dia, amor? Bom dia, amor? É isso que você tem para me dizer depois de me trazer para o meio do nada como se fosse uma porcaria de sequestrador barato? Você está louco? Perdeu a noção das coisas? Eu não deveria estar aqui. Nós não deveríamos estar aqui e...

Sorrindo e cansado de ouvi-la dizer palavras que nem mesmo desejava, ele sabia, Caleb segurou o rosto dela entre seus dedos e logo tratou de beijá-la, sentindo certa relutância, mas com o passar dos segundos, transformando isso em um beijo apaixonado, doce e terno. Nem mesmo preocupando-se com hálito e todas essas coisas que para ele tampouco importa, pois, simplesmente, não importava. Tudo o que importava era beijá-la e ser beijado por ela, o que, de fato, aconteceu para que ao se separarem, ela murmurasse mais uma vez mais uma pergunta, desta vez mais calma:

- Nós estamos onde acho que estamos?

Com suas testas próximas uma da outra, o rapaz fez uma breve concordância com um aceno de cabeça e buscou pela mão de uma Hanna que logo segurou a sua de volta, numa resposta em silêncio de que não acreditava naquilo, embora, não fosse nada de mais.

AmnesiaOnde histórias criam vida. Descubra agora