CAPÍTULO I

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"O amor, que não é mais do que um episódio na vida dos homens, é a história inteira da vida das mulheres."

Madame de Stael

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GABRIELA SAHANI 

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Estava chovendo. Trovões estrondavam no céu escuro e relâmpagos iluminavam os poucos prédios daquela área. Cidades pequenas teem disso, pouco movimento na rua, mesmo para um final de domingo. A chuva parecia aumentar e, daquela forma, eu tinha certeza, logo as ruas estariam inundadas, os relâmpagos continuavam a cruzar o céu e agora até mesmo os carros já não passam mais.

Mamãe sempre dizia, Ava sempre avisava com aquela voz que chegava a ser um abraço: "Leve o casaco! A previsão é de chuva, leve o guarda-chuva!". Sorrio ao lembrar, mas, o que fazer? Será que eu sou o único ser humano que detesta carregar casacos e sombrinhas?!

Inspiro tentando formar um pouco de coragem para encarar a chuva, estou no pequeno hall de entrada da lanchonete no final da rua, eu teria que atravessar, andar alguns quilômetros até a minha casa.

– Ótimo dia pra sair sem o seu carro, queridinha! – repreendo a mim mesma. Inspiração profunda e me jogo na chuva sem me importar com a escova que deu um bom trabalho pra fazer.

Enquanto ando na rua, meus olhos vislumbram um vulto pequeno, assombreado pela escuridão naquele canto e um pouco iluminada pelo poste de luz amarela ao lado. Meus olhos foram do pequeno volume ali para o alto do poste, alguns insetos voavam ao redor, balancei a cabeça e agora vi que o vulto se mexia.

Passei a mão sobre os olhos, borrei a maquiagem... Droga! Mas, quem nunca?! A chuva só aumenta e ao chegar mais perto, noto que o pequeno volume na verdade era uma garota andando de lá pra cá e cá pra lá. Pela força que impunha em seu caminhar, não duvidei de que logo fosse afundar a calçada. Ela parecia brava e, por Deus, adoro pessoas bravas.

Olhá-la daquela maneira me deixava curiosa, pude ouvir algumas coisas de seus lábios. Não sei por que, mas eu estou aqui parada no meio desta chuva olhando para uma garota com raiva. E assim ela encosta a sua cabeça no poste e começa a chutá-lo. Não faça isso. Vai se machucar. Pensei! Mas, o que ela faria se eu decidisse me aproximar dela?

Eu ouço choros, ela chora entre soluços com sua cabeça encostada no poste. Seu corpo treme e suas mãos socam contra ele.

– Por quê? – ouço com muito custo. – Porque logo comigo?

Quando eu penso que irei ouvir mais algum de seus soluços. Ela levanta seu rosto e suas lágrimas misturadas com gotas de chuva, seu corpo faz um movimento como se ela não estivesse surtando, e assim que o seu corpo se vira e pude vê-la. Seu olhar está sério, não sei por que, mas, me vejo indo em sua direção, só que paro assim que um carro preto para ao lado dela.

– Não vou voltar com você. – não ouço quem diz algo a ela, mas, sua raiva parece estar em cada palavra que ouço nitidamente. – Acha que me faz de idiota? Te vi com ela, Steven. Vai e me deixa aqui. – Steven. Seria um namorado dela? – Você me traiu. Odeio traidores. – Namorado. Namorado, com certeza. E porque eu estou tão interessada nisso?

O carro acelera para longe dela, mas, na arrancada, a água da rua voa para cima do seu corpo pequeno, ela derruba as malas no chão e corre atrás do carro. Seria cômico se não parecesse tão dramático.

– Filho da puta. – na corrida e irritação, ela tropeça e acaba caindo na água. Bate com as mãos ao lado de seu corpo sentado no meio da rua. Então, ela começa a rir.

Além do horizonte - Romance Lésbico (Completo)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora