CAPÍTULO XLIV

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 "A vontade ganha metade de uma guerra!"

GABRIELA SAHANI

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A vida não estava tão mau, tudo estava rolando como eu queria, ou tentava querer. Havia ganhado a primeira bateria do torneio e garotas não faltavam para me ajudar a passar o tempo. Mas, meu tempo ainda era dividido entre as coisas que a velha Gabi fazia e as pessoas a quem ela ama. Ou melhor, a pessoa a quem ela ama.

Era gritar "Festa" e a velha Gabi tomava conta de tudo. Cada pensamento sujo, cada desejo louco. E, acredite, eles ficavam cada dia mais loucos. Eu corria na praia por quilômetros sozinha com a cabeça cheia de turbulência, mas, quando sentava com os manos, umas cervejas e umas garotas, eles voltavam com tudo, com a esperança de saciar algo que estava além de mim.

Venci a segunda prova com pontos sobrando, tudo estava uma loucura, meu corpo mandava em minhas ações e quando recebi sua ligação naquele dia, eu estava bem irritada. Não deveria estar? Um dia, garota que eu amava estava em coma depois de um acidente gravíssimo e no outro ela havia me deixado.

Não sei, talvez apenas eu consiga entender o que aconteceu comigo depois da Cindy, ninguém deve se colocar no meu lugar, nem eu vou ficar de vítima, mas, eu merecia mais. Tenho certeza de que eu merecia bem mais do que aquilo.

E as horas se passaram além de mim, eu comemorei, bebi, ganhei broncas e fiquei com umas garotas. Literalmente, algumas. O que tinha com a Kira se intensificou mais do que eu gostaria e aí apareceu a Haiá, a loira pode facilmente ser chamada de furacão. Eu me vi nos extremos quando acordei hoje pela manhã com as duas nuas em minha cama.

Eu tinha que fazer alguma coisa. Essa nem a velha Gabi não é mais. Me tornei a sombra de alguém que eu já devo ter sido, ou sei lá, não sei mais quem eu sou. Fiz tatuagens novas e substitui o dia pela noite.

O fato de ela ter me ligado exigindo algum tipo de atenção tinha me deixado muito irritada, o que me impediu de dizer algumas boas verdades pra ela foi à tensão do momento em que eu estava, não poderia brigar naquela hora.

Mas, quando eu me vi frente a frente com Cindy Simmons novamente, foi como se uma parte morta fosse revivida. E tudo o que eu senti, passei e sinto por ela foi jogado em cima de mim. Como uma onda em recifes rasos, eu estava arrasada.

Dispensei as garotas numa boa. Cindy, aparentemente, não estava bem com isso.

─ Nossa! Parece que você esqueceu o inesquecível ─ atirou de uma vez, como se tivesse o direito de me cobrar qualquer coisa que fosse.

─ Falou a garota que não pensou duas vezes antes de me deixar pra trás ─ joguei de volta, afinal, não iria deixar que ela pisasse em mim depois de tudo. Ninguém pisa em mim e não sou bote reserva para que peguem quando querem e precisam.

─ Desculpe.

─ Por me deixar sem explicações ou por vir exigir de mim algo a que não tem mais direito? ─ pergunto, de braços cruzados, olhando impaciente e batendo o pé, a mesma marrentinha da qual me lembro. ─ Entra aí.

─ Obrigada.

─ Mas, não tenho muito tempo, Cindy! Daqui a pouco começa mais uma bateria e eu preciso ganhar esse caralho! Sentir que ainda ganho alguma coisa na vida.

─ Você é a mesma exagerada de sempre ─ diz, se sentando no sofá. As meninas e eu havíamos feito uma meia faxina de manhã, mas, se não tivéssemos, Cindy estaria assustada.

─ Exagerada? ─ pergunto, parando no meio do meu levantar da garrafa sobre a mesa. ─ Isso tudo aqui é minha vida, pra você pode ser um exagero, mas, ganhar esses torneios é importante pra mim. Ter a minha vida de volta é importante pra mim.

Além do horizonte - Romance Lésbico (Completo)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora