Aquilo que era

Não posso voltar de novo

Seguro as minhas emoções, não posso voltar de novo. Mas o pânico em que me deixaste, arranja sempre forma de me assombrar, não posso mais conter-me.

Pensei que as tuas palavras me trariam algo conforto, mas não consigo deixar que elas me distraiam. A tua voz rouca permanece, e não há nada doce nela.

Não posso permitir sentir-me assim, deixar que me leves á insanidade. Essa é a grande diferença entre as nossas opiniões. Sabes como me posso perder no meu íntimo, sem precisar de ti. E tu? Continuas a viver á margem de algo tão claro como as poças de lama no inverno.

Inverno, que bela metáfora para o que resta de nos.

Lembro-me bem da primavera, os pássaros cantavam de peito erguido, e até os ventos sopravam á favor. Lembro-me ainda melhor do calor que se seguiu, do longo verão que nos envolveu em finos lençóis. Mas acredita que também me lembro do Outono, de quando as folhas começaram a cair. Acho que és inteligente o suficiente para saber que no inverno só os ramos secos restam.

Provavelmente vou querer abandonar os meus próprios concelhos, provavelmente vou querer deixar tudo para trás, quando estiver sozinha contigo.