Vazia

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Fecho os olhos.

Ainda sinto o gosto amargo a tabaco que deixas-te na minha boca.

O meu coração ainda bate depressa, demasiado depressa na verdade.

As lágrimas caem na areia, e misturam-se com a agua salgada, das ondas do mar.

As pessoas caminham ao meu redor, a maioria nem dá conta da minha presença.

Nenhuma delas pode sequer imaginar o quão vazia eu estou. O pouco que restava de mim fica aqui.

A tua voz sussurra, vezes sem conta, que me amas. É como se ainda conseguisse sentir as tuas mãos frias na minha pele.

Mas a fotografia dela, com um belo sorriso, ao teu lado não me saí da cabeça.

Ninguém me disse que seria fácil, mas nunca me disseram o quão difícil iria ser.

Eu fico a olhar o mar, numa cidade que não é a minha. Enquanto tu já nem deves estar a pensar em mim.

Enquanto tu a tens nos braços e finges que nada aconteceu entre nós.

Enquanto finges que ela é a única na tua vida.

Não consigo conter-me, o choro torna-se mais forte. As pessoas começam a notar a minha presença.

Ouço uma voz de fundo perguntar-me se está tudo bem.

A verdade é que nunca esteve tudo bem, nunca vai estar.

Levanto-me, pego na minha mochila, e começo a correr, com as poucas forças que me restam, com os sapatos a enterrar-se na areia.

Sinto o meu coração despedaçar-se, ou o pouco que restava dele.

As portas do comboio fecham-se.

Parte de mim está do lado de dentro, mas a outra parte fica aqui contigo.

Numa cidade que talvez não volte a visitar.



Aquilo que eraWhere stories live. Discover now