Vamos falar sobre amor próprio

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Sim, eu voltei.

 Gostaria de tornar os próximos capítulos menos infelizes e mais inspiradores.

Escrevi vários rascunhos nesse sentido, mas não senti que ficassem bons o suficiente.

Quero continuar a ser 100% eu, como sempre fui. E continuo a não ser a pessoa mais inspiradora do mundo.

A verdade é que não é isso que procuram por aqui, e só me apercebi disso depois de conversar com alguns de vocês.

Procuram conforto nas minhas palavras, procuram encontrar alguém que vos compreenda, que partilhe os mesmo sentimentos que vocês. Autenticidade.

Isso fez-me refletir melhor sobre o meu objetivo em relação ao que pretendo fazer por aqui, e decidi que continuarei a partilhar os meus sentimentos e as minhas vivências por aqui. E espero que continuem por aí, a acompanhar-me.

Hoje quero falar-vos sobre amor próprio.

Não planeei o que escrever, mas sei que quero fazê-lo, que preciso de o fazer.

Sinto que devo começar pelo inicio.

Quando tinha apenas 6 anos fui á minha primeira consulta no oftalmologista, lembro-me desse dia como se fosse hoje.

Lembro-me de estar sentada naquela cadeira dura e fria, com as luzes brancas apontadas para os meus olhos.

No fundo da sala havia um quadro branco, que de repente ficou colorido.

O médico pediu-me que olhasse para ele e perguntou:

-Consegues dizer-me qual é a cor da porta da casa?

Eu olhei e tudo o que via era um monte de cores sobrepostas, e perguntei-lhe inocentemente:

-Que casa?

Naquele momento eu consegui ver na expressão do médico que havia algo de muito errado na minha resposta, e  alguns minutos depois ouvi-o dizer á minha mãe que eu era quase cega.

Naquele momento eu queria muito chorar, mas não queria que eles me vissem a chorar, as meninas crescidas não choram.

E eu não chorei.

Ouvi a minha mãe a desabafar sobre o assunto com o meu pai depois do jantar, e fingi não perceber do que se tratava.

Uma semana depois, comecei a usar óculos, e não consigo descrever a felicidade que senti quando comecei a ver. Quando as coisas que me rodeavam deixaram de ser um monte de cor desorganizado. Foi provavelmente um dos dias mais felizes da minha vida, é quase impossível recorda-lo sem chorar.

Umas semanas depois estava no meu primeiro dia de aulas, com uns óculos verde musgo, com umas lentes extremamente grossas, que me deixavam os olhos ridiculamente minúsculos.

Não foi preciso muito tempo na escola para começar a ouvir criticas impiedosas das outras crianças sobre o meu aspeto. Nunca tinha pensado muito sobre isso, mas depois dessas criticas eu comecei a passar muito tempo em frente ao espelho, e a verdade é que concordava com eles, os óculos eram horríveis, e ficavam-me muito mal.

Mas como podia eu odiar um objeto que me permitia ver o mundo como ele realmente era?

Foram precisos muitos anos para aceitar-me com eles, para olhar para o espelho e gostar daquilo que vejo.

Foram anos a publicar fotos nas redes sociais sem eles.

Foram anos a ouvir comentários, tal como: "Anabela, ficas tão mais bonita sem óculos".

Como se os óculos já não fossem suficientes para arruinar a minha auto-estima, a mãe natureza decidiu ser generosa comigo, e dar-me mais uns mil motivos para me odiar.

E foi exatamente isso que fiz, odiei-me por demasiado tempo.

Passava mais de meia hora a trocar de roupa por me sentir constantemente gorda, mais de meia hora para cobrir o rosto de maquilhagem, e mesmo assim, sair de casa insegura, incapaz de levantar os olhos do chão enquanto caminhava.

As minhas amigas fartavam-se de dizer que não entendiam como eu podia ser tão insegura quando tinha tantos rapazes atrás de mim.

E esse é um erro comum, achar que a nossa auto-estima depende do que os outros pensam e sentem por nós.

Mas não depende.

Ou melhor, não deve depender.

Não podemos procurar o amor que nós falta noutra pessoa, porque afinal de contas, essa pessoa pode partir a qualquer momento, e vai levar tudo com ela.

Ultimamente tenho estado num caso de amor próprio tão intenso que por vezes até me assusta.

Deixei de ser a rapariga que fica corada por ouvir um elogio, e passei a ser que responde "Eu sei".

Passei a mostrar o meu corpo com muito mais regularidade.

Passei a caminhar de cabeça erguida, de sorriso no rosto.

Os momentos de insegurança são cada vez menos frequentes, e as pessoas admiram-me por isso. Principalmente as que me conheceram no passado.

Sinto que agora  aprendi a amar-me, cada curva, cada cicatriz, cada traço da minha personalidade.

E agora que sei o que realmente amar significa, sei amar de uma forma complemente diferente as pessoas que me rodeiam.

E estou completamente apaixonada por alguém, de uma forma que nem consigo explicar a intensidade daquilo que sinto.

Mas sei que esse amor que sinto por ele nunca será maior do que aquele que sinto por mim própria.













Aquilo que eraWhere stories live. Discover now