Capítulo 01 Entrevista, pedras e afins .

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Ao sair pela porta dos fundos, deparei-me com uma enorme multidão de fotógrafos que gritavam meu nome. Havia flashes por todos os lados e pessoas tentando se aproximar a fim de conseguir autógrafos ou apenas segurar as minhas mãos. Por um segundo, cheguei a pensar se não me esquecera de escovar os dentes.

Tudo estava uma loucura, as pessoas gritavam efusivamente e se aproximavam quase como em um ataque terrorista. Entrei apressadamente no táxi que me aguardava.

Já dentro do carro, soltei instintivamente um longo suspiro de alívio, o que fez com que o irônico motorista risse da minha condição.

– Deve ser muito difícil... – ele disse. – Sabe, ser rica e famosa. – completou com um ar de desdém.

– Com certeza. – respondi, fingindo não ter entendido suas alegações frustradas.

– Sabe mocinha, na minha província, as pessoas costumam morrer de fome e, muitas vezes, são açoitadas em praça pública. – falou, com um ar ofensivo e, ao mesmo tempo, defensivo, dirigindo-me um olhar nocivo pelo espelho retrovisor.

Obviamente, eu entendi o posicionamento daquele homem. O nosso país acabara de vencer uma guerra e havíamos mandado muitos suprimentos ao exército, o que fez com que as províncias empobrecessem consideravelmente. A miséria que já existia ia se alastrando cada vez mais e pessoas morriam todos os dias. Aqueles que tinham uma condição um pouco melhor, perdiam bens e dinheiro a cada instante, estava tudo um caos e a população tentava apenas sobreviver a esta condição.

As costureiras já não tinham mais serviço, porque ninguém despenderia de proventos em uma barra de calça e deixaria um filho morrer de fome. O plantio na área rural não estava produtivo, pois a guerra destruiu os campos e a colheita e, por fim, o que sustentava o nosso país era a bondade do rei Robert Barak, que, a todo custo, tentava formar alianças com outros países de melhores condições. Mas o que distraia mesmo o povo era a mídia, e ali eu me inseria como uma modelo de fama e talento, conferindo entrevistas a jornais e revistas de grande circulação, além de participar de pequenos projetos sociais.

– Olha, meu senhor, eu sinto muito que sua família tenha sofrido tanto. – ergui um trocado a mais além do pagamento da corrida para ajudá-lo.

– Acha que me compra com esse dinheiro sujo, sua vadia? – bradou ele exasperado enquanto proferia uma série de palavras de baixo calão. – Acha mesmo que isso é trabalho digno? Acha que...

Desci do táxi apressadamente, deixando o dinheiro sobre o banco e corri em direção ao Grand Plaza Musique.

Uau!! Quantos palavrões em uma única frase! – pensei enquanto caminhava até a entrada do prédio.

Avistei a senhorita Maria, minha assistente pessoal e produtora, uma senhora de 50 e poucos anos, esguia, de pescoço longo, olhos arredondados e aparência impecável, cabelos grisalhos e cacheados, sempre bem-arrumados e presos com grampo em um belo coque alto. Ela costumava usar ternos finos, com saias na altura das canelas, meias finas e sapatos de saltos muito exuberantes.

– Minha pequena princesa, fico honrada que tenha chegado no horário desta vez. – dizia com uma expressão séria, arqueando uma sobrancelha. – Vamos, temos muito o que fazer e... – ela fez uma pequena pausa. Naquele momento, tive certeza de que havia algo errado. Eu realmente poderia esperar qualquer coisa daquela mulher, ainda mais quando ela sempre tinha algo a reclamar ou melhorar, então ela prosseguiu. – O que foi que houve com este cabelo, teve uma guerra com seu travesseiro ou o quê? – ela questionou com uma expressão desajustada.

Pronto! – pensei. – Encarnou a dona Agnes Heyes.

Sem mais delongas, subimos a enorme escadaria de mármore do Grand Plaza Musique até chegarmos a um extenso corredor de carpete preto. As paredes eram de cor creme, texturizadas, e havia alguns quadros extremamente assustadores de pessoas velhas com ternos estranhos e, também, com o rosto muito maquiado.

Laura Sophia Heyes (Degustação)Where stories live. Discover now