Capítulo 02 Ratos, esgoto e o que mais?

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Abri os olhos lentamente, pisquei duas ou três vezes, tentando entender o que estava acontecendo, senti o ardor repousar sobre a minha cabeça com ferocidade. Imediatamente, levei as mãos ao machucado e me sentei lentamente. Eu estava em uma cela escura e úmida. Havia restos de comida e ossos de pessoas mortas que, muito provavelmente, apodreceram ali. O lugar era fétido e havia ratos que se locomoviam com rapidez. Gritei e gritei novamente, sentindo muita dor e já quase sem forças, mas ninguém apareceu. Eu estava tonta, provavelmente tinha perdido muito sangue, então me levantei e tentei caminhar até as grades, cambaleando, e apaguei novamente. Acordei com uma jorrada de água no rosto, amarrada a uma cadeira e, sentindo minhas bochechas arderem.

Um homem de grande porte e estatura, robusto, batia no meu rosto com o dorso da mão e gritava. Foi quando me dei conta de que, de fato, eu havia sido sequestrada.

Eu não conseguia entender bem o que ele falava, apenas ouvia o nome do rei Robert e dos meus pais. Por um momento, pensei que estivessem mortos.

Havia mais um homem, franzino e baixo, com dentes tortos e amarelos e um hálito horrível que eu mal tinha notado a presença até que se dirigiu a mim.

– Onde eles estão, madame? – perguntou-me com desdém.

– Eles quem? – retruquei com outra pergunta um pou-co confusa.

– Caso não tenham te falado, moça, seu pai vai trabalhar para nós e você também. – disse o franzino com uma expressão que me deu ânsia.

O homem mais forte enrolou meu cabelo em suas mãos e forçou minha cabeça contra uma mesa em uma pancada forte, desmaiei novamente.

Alguns dias se passaram e eu continuei presa naquela cela sem comida, sem notícias e sem conseguir entender o que estava acontecendo. Apenas podia ouvir alguns soldados falarem meu nome ou o dos meus pais e alguma coisa sobre um desaparecimento e um plano.

Mais dias se passaram, a essa altura, eu mal tinha forças para erguer meus braços, meus olhos estavam fundos, tinha olheiras escuras, minha pele era pálida e eu tossia muito. Perdi a noção do tempo ali dentro, a iluminação era escassa e eu mal sabia quando mudava o dia.

Enquanto tentava entender como e por que aquilo tudo tinha acontecido, escutei um barulho repentino e alguns tiros. Um homem chegou por trás de um guarda que estava em pé há poucos metros da minha cela, passou uma faca na garganta dele silenciosamente. Vi o corpo do homem desabar no chão sem emitir qualquer ruído. Então, quando me dei conta, percebi ser Luke, meu amigo de infância, que há alguns anos havia se juntado à escola militar da cavalaria do reino.

– Luke! – esbocei um sorriso, aliviada.

– Shhhhh, Laura. – ele sussurrou. – Vou te tirar daqui.

– Mas como... Como me achou? – perguntei com a voz fraca sem conseguir me mover muito.

– Estávamos à sua procura há algum tempo. Venha, explico tudo no caminho.

Luke conseguiu abrir a cela, ajudou-me a levantar e me ofereceu seu ombro para que eu me apoiasse. Ele entregou uma pequena arma de fogo em minhas mãos e disse:

– Se vir alguém, atire sem pensar, mire no coração.

Fiquei um pouco chocada com aquela ordem, mas meu corpo não aguentava mais, então evitei questionar.

Saímos da cela em um longo saguão escuro. O piso parecia feito de madeira e rangia conforme pisávamos, o lugar era imenso, mas realmente nojento, parecia alguma masmorra que há muito não era frequentada por faxineiros. Este saguão dava em uma escada espiral. Subimos para um pequeno escritório, as paredes eram forradas de veludo terracota, levemente avermelhado e algumas poltronas de couro preto. Havia na parede um espaço que devia ser o lar de algum quadro dali arrancado e uma mesa com algumas coisas quebradas em cima, incluindo um belíssimo abajur francês.

Laura Sophia Heyes (Degustação)Where stories live. Discover now