Realidade

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                          Tomás

O sol escaldante bate em meu rosto e mesmo com todo esse calor eu não me importo, dois anos já se passaram e eu ainda não me acostumei com essa sensação de liberdade.

Depois que saí da prisão estou assim meio bobo, as vezes fico parado por horas simplesmente olhando o nada e quando dou por mim já estou voltando no passado, mas hoje está sendo diferente nunca tinha chegado tão perto da fazenda de Bento Calazans e isso me incomoda bastante. Moro e trabalho na fazenda de dona Magda ela sabe de tudo o que aconteceu, e quando saí da prisão tive uma surpresa quando à vi me esperando na porta, ela era uma grande amiga de minha mãe, quando eu era criança sempre a visitava pois éramos vizinhos e depois que minha mãe morreu e meu pai desistiu de viver ela sempre deu apoio a mim e a meus dois irmãos mais velhos mas como eu era o mais novo ela se preocupava mais comigo, sempre me dava bons conselhos e ainda assim fiz o que fiz, sei que a decepcionei bastante e mesmo assim lá estava ela me esperando quando saí, me ofereceu um emprego em sua fazenda e me acolheu. Na época pensei em recusar pois voltar pra esses lados me traria lembranças dolorosas mas ela me mostrou que onde quer que eu vá o passado vai me acompanhar então resolvi encarar meus demônios e aceitei a sua proposta.

Já estou aqui a dois anos, fiquei preso por quatro longos anos. Nesses quatro anos que estive preso muita coisa mudou em minha vida, meu jeito de ver o mundo e meu jeito de ver as pessoas sempre fui um cara do bem e confesso que eu era meio ingênuo. Meus irmãos sempre se aproveitavam dessa ingenuidade para me colocar em várias enrascadas mas hoje sou um homem que não se deixa levar por nada sempre estou atento para ver de onde vem a próxima rasteira, não me preocupo com ninguém a não ser com dona Magda e com essa fazenda que não está indo nada bem, tenho trabalhado duro todos os dias mas sem dinheiro e ainda devendo um empréstimo no banco as coisas estão indo de mal a pior .

Adoro cavalgar por aí sem pensar nos problemas e principalmente sem pensar nela mas hoje quando vieram me falar dessa cerca que estava arrebentada na divisa da fazenda do poderoso Bento Calazans e que não tinha ninguém para arrumar uma sensação estranha tomou conta de mim uma sensação que a muito tempo eu não sentia.

E aqui estou eu, pensado em tudo que aconteceu a seis anos atrás parece que estou vendo nós dois cavalgando por estas terras, não pensávamos em nada quando estávamos juntos a não ser no quanto era maravilhoso o amor que sentíamos um pelo outro. Eu tinha vinte anos e ela dezessete, trabalhava na fazenda do seu pai à alguns meses, ela não morava com o seu pai pois ele e sua mãe tinham se separado quando ela ainda era pequena mas depois de uma discussão com sua mãe resolveu se mudar para a fazenda. Parece que estou até vendo ela chegando toda marrenta e cheia de si, quando a vi já fiquei todo interessado mesmo sabendo que esse interesse atrapalharia os planos de meus irmãos. Comecei a me aproximar dela e não demorou muito já estávamos envolvidos lógico que sem ninguém saber quando que o poderoso Bento Calazans deixaria sua querida filha se envolver com um peão, mas nós não nos importávamos com essa imensa diferença que nos separava e gostávamos de aproveitar a companhia um do outro, lógico que eu estava afim de algo mais, pois mesmo tendo apenas dezessete anos ela era linda e tinha um corpo de dar água na boca de qualquer marmanjo mas não sei o que deu em mim eu a respeitava e com o passar do tempo eu me envolvia mais e mais até que tudo aconteceu......

-Tomás!!!
Sou arrancado dos meus pensamentos por um peão que está me chamando.

-Tá dormindo peão tô ti chamando faz um tempo e você nem me ouviu.

-Que dormindo da onde, vê bem se eu tenho tempo pra dormi a essas horas, você que não deve ter chamado pra eu ouvir -  tento disfarçar que eu realmente estava com a cabeça no mundo da lua.

-Tá bom vou fingir que acredito e não notei que você tá muito desligado hoje, nem arrumou a cerca ainda.

-Para de me encher o saco -  falo já bravo com ele que parece que sente prazer em me aborrecer -  era pra você esta aqui não eu, mas já que você esta aqui é bom que me ajuda.

-Que nada vou arrumar sozinho - ele tira o chapéu da cabeça e vejo sua cara emburrada -  a dona Magda mandou eu chamar você ela precisa que você vá até a cidade .

-Na cidade? Fazer o que? Ela sabe que eu odeio ir lá  - seco meu rosto com as costas da mão pois só de falar em ir na cidade já começo a suar.

-Sei não, mas ela disse que era urgente acho que tem alguma coisa a ver com o banco, o gerente ligou lá na fazenda hoje - a simples menção ao gerente do banco meus nervos pioram ainda mais.

-Que droga tenho certeza que é sobre a dívida, está quase vencendo o tempo para pagar e nós não temos nem metade do dinheiro.

-Então vai logo porque ela estava bastante nervosa começou até a passar mal.

-E você só me fala isso agora seu imprestável, era a primeira coisa que devia ter me dito.

Bastou ele falar que dona Magda passou mal larguei tudo peguei o meu cavalo e saí correndo. Cheguei na sede da fazenda em poucos minutos, já entrei correndo e fui ver como ela estava não sei o que faria se algo de ruim acontecesse a dona Magda ela é a única pessoa que me importo nesse mundo e sei que ela também do seu jeito está sempre cuidando de mim.

Quando à vi  sentada na cozinha com o olhar perdido meu coração se apertou ela estava pálida e tentava disfarçar as lágrimas mas sei que ela tinha chorado.

-Dona Magda o que aconteceu o Valter disse que a senhora não estava se sentindo bem e mandou me chamar.

-Não se preocupe, o Valter é muito exagerado eu estou bem foi só uma queda de pressão, pedi a ele para te chamar por outro motivo - ela tenta disfarçar mas a conheço o suficiente para saber quando ela não está bem.

-Nem tente me enrolar vou ligar para o médico vir agora mesmo - falo já decidido a tomar uma providência.

-Deixa de ser teimoso menino já disse que estou ótima, lhe chamei por que quero que vá até o banco sei que você não gosta de ir até a cidade mas o gerente disse que talvez houvesse a possibilidade de um pouco mas de prazo para pagar o empréstimo, então vai logo porque ele já esta lhe esperando - quando ela diz sobre um pouco mais de tempo para pagar a dívida um lampejo de esperança me faz sorrir.

-Tudo bem eu vou mais a nossa conversa sobre o médico não acabou sua teimosa vou marcar uma consulta o mais rápido possível.

Ela sempre faz isso me enrola e não procura um médico tenho notado ela bem abatida ultimamente, mas por hora deixa ela pensar que me engana, dei um beijo na sua bochecha e saí na esperança de voltar com uma boa notícia.

Na cidade foi melhor do que eu esperava o gerente do banco nos deu um pouco mas de prazo para pagar a dívida, sei que muito em breve a fazenda voltará a dar lucro pois investimos muito em uma nova raça de cavalo. Saí de lá louco para dar a boa notícia para a dona Magda quem sabe assim ela não fica mais animada. Não gosto de vir a cidade principalmente durante o dia, nem todo mundo aqui me conhece mas tem sempre aqueles que me olhan torto, então resolvi mas algumas coisas que tinha que resolver e peguei a estrada de volta já estava quase escurecendo e essa caminhonete velha vive dando problema pela estrada não queria ter que caminhar até a fazenda principalmente a noite .

Mal saí da cidade e essa droga de caminhonete parou do nada tentei consertar mas acho que dessa vez ela não quer mesmo facilitar a minha vida o jeito era ter que caminhar até a fazenda.

Esse é nosso peão Tomás, vamos para o próximo capítulo e ver o que acontece.
Não se esqueça da minha estrelinha.
Beijoca a todas😘😘

Marcados Pelo PassadoWhere stories live. Discover now