Reencontro

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Elisa

Não acredito que estou quase chegando, estou cansada e a ansiedade está me deixando muito nervosa depois de tanto tempo sem vir a fazenda nem sei mais o que esperar , confesso que senti muita saudade mas sou covarde e preferi a distância a ter que encarar as lembranças dolorosas de uma traição que ainda dói.

Sempre que sentia saudade meu pai me visitava, acho que ele notava que não me fazia bem ir e até mesmo falar da fazenda então nunca me pressionou a voltar, até agora.

Logo que terminei a faculdade de medicina veterinária ele me pediu para voltar, no começo nem quis falar no assunto pois tinha plena certeza de que não voltaria mas depois de um tempo pensando melhor decidi que era hora de enterrar o passado e seguir com minha vida, não sei como será , mas tem horas que brigo comigo mesma, não sou mais criança tenho que deixar de sofrer por algo que já se foi, mas meu coração não me obedece e ainda tem o Ricardo ele não merece uma pessoa pela metade, sei que ele notou que eu sempre fiz o possível para não vir para a fazenda mas nunca questionou nada, por isso ele ficou muito surpreso com minha decisão e fez o possível para eu desistir e agora estou aqui e ele lá, por um lado vai ser boa essa distância pois assim poderemos amadurecer nossos sentimentos e ver o que vai dar, gostaria muito de estar mais envolvida com ele mais não consigo me livrar da sensação de que todos os homens são iguais.

Envolvida em meus pensamentos continuei dirigindo alheia a tudo à minha volta só quando olhei para o lado me dei conta da mudança da paisagem, o ar tinha ficado mais puro e o verde predominava senti um calafrio quando avistei a pequena cidade que meu pai tanto amava e que ficava um pouco antes da fazenda .

Entrei na cidade olhando tudo e admirando o quanto as coisas tinham mudado, tinha várias lojas, as casas estavam mais modernas e para minha maior surpresa tinha uma grande lanchonete que parecia bem movimentada, fiquei de certa forma feliz por ver que as coisas por aqui mudaram para melhor, pensei até em dar uma parada para fazer um lanche mais aí lembrei que meu pai estava me esperando e que a tarde já estava chegando e passei só olhando até porque terei muito tempo para visitar a cidade.

Saí pela estrada de chão batido que levava a fazenda e pela primeira vez no dia uma forte alegria invadiu meu coração, dentro de poucos minutos ia poder abraçar meu pai, meu irmãozinho Pedro e Beatriz a esposa do meu pai que aos poucos se tornou uma segunda mãe, não que eu e minha mãe não somos próximas mas Beatriz se tornou pra mim uma pessoa maravilhosa que tem um lugar muito especial em minha vida, parece que estou até vendo a minha chegada a fazenda , causei todos os problemas possíveis para Beatriz, ela porém teve uma paciência enorme comigo e na fase mais negra da minha vida estava do meu lado.

Com a cabeça no mundo da lua e louca para chegar o mais rápido possível pisei fundo no acelerador, então me dei conta que o celular estava tocando e enquando me distrai o procurando em minha bolsa já era tarde de mais só senti uma forte pancada e vi o meu mundo rodando e ficando um pouco escuro.

Notei que tinha batido na traseira de uma caminhonete velha parada no meio da estrada, fui ficando cada vez mais tonta senti um pouco de sangue escorrendo da minha testa derrepente ouvi uma voz me chamando e fiquei um pouco aliviada talvez essa pessoa pudesse me ajudar mais ai comecei a sentir uma forte dor de cabeça e uma sensação estranha foi tomando conta de mim e quando aquele estranho se aproximou tirou os cabelos do meu rosto e nossos olhares se encontraram fiquei completamente sem ar, era ele ou eu estava delirando não suportei e tudo se apagou.

Tomás


Mas que droga antes que eu pudesse tirar essa lata velha do meio do caminho veio um louco e bateu na traseira, só vi quando já estava em cima, saí correndo e fui ver se alguém tinha se machucado. Notei que era uma mulher e que tinha um pequeno corte na testa, ela estava com os cabelos jogados na testa o que dificultou para eu ver se tinha mais algum ferimento e se era alguém que eu conhecia.

-Moça, moça _ abri a porta da caminhonete e balancei o seu ombro devagar para ver se ela estava desmaiada ,fui tirando os cabelos que estavam tapando o seu rosto e quando ela me olhou um pouco assustada e nossos olhares se cruzaram, nada no mundo havia me preparado para ver de quem se tratava a pessoa que tinha batido, era ela , a mulher que povoava os meus pensamentos dia e noite a mulher que atormentava os meus sonhos e meus pesadelos , quando olhei para ela foi como se eu tivesse levado um soco no estômago tive que me controlar para não sair correndo dali, então ela foi ficando pálida e desmaiou.

Fiquei apavorado, e sem saber como agir, só podia ser mais um dos muitos pesadelos que tive ao longo desses anos, tentei me acalmar pois sabia que isso era a mais pura e assustadora realidade ela estava aqui bem na minha frente e o pior estava ferida, sangrando e desmaiada, tinha que tirar ela daqui e leva-la a um hospital.

Tirei ela detrás do volante com o máximo de cuidado possível e à deitei no banco ao meu lado, para minha sorte mesmo a caminhonete dela estando bem amassada quando liguei ela deu a partida na hora, consegui dar meia volta e acelerei para a cidade rumo ao hospital.

NÃo sei como cheguei lá tão rápido até parece que o desespero me guiava, a todo momento eu olhava para ela para ver se ela tinha acordado mas ela não se movia o que aumentou o meu desespero, assim que cheguei a porta do hospital desci correndo e fui chamar um enfermeiro, não querendo movê-la pois poderia ser pior, gritei para o enfermeiro que veio correndo com uma maca, e eu o ajudei a colocá-la na maca e ele a levou para dentro do hospital, fui atrás e queria acompanhá-la porém as enfermeiras me barraram, sentei na sala de espera e o que me restava era esperar, fiquei ali por horas, ou será que não passou tanto tempo assim, só sei que o tempo não passava e a minha angustia só aumentava, até que um senhor que eu deduzi ser o médico veio falar comigo.

-Boa tarde meu nome é doutor Fernando o senhor é que trouxe a senhorita que sofreu um acidente?

-Sim doutor como ela está, ela vai ficar bem, ela já acordou,ela...

-Calma, calma_ me interrompe o médico_ uma pergunta de cada vez, ela vai ficar bem, mas o senhor é o que dela ?

Nessa hora eu gelei, não poderia de forma alguma dizer que a conhecia e muito menos dizer o meu nome, pois se o pai dela soubesse que eu a trouxe para o hospital com certeza chamaria a polícia e diria que eu a machuquei de propósito, teria que mentir e fingir que a encontrei na estrada.

-Eu não sou nada nem a conheço eu simplesmente a socorri, os documentos dela devem estar no carro posso pegá-los e o senhor avisa a família dela, mas doutor ela vai ficar bem mesmo?

O médico fez uma cara estranha, tenho certeza que notou que para quem dizia não conhecer a moça eu estava muito preocupado mas não me questionou nada e me deu detalhes de como estava Elisa.

-Claro que sim, ela teve um corte na cabeça que levou alguns pontos e ela já foi medicada, já já ela acorda pois agora ela foi sedada por causa da dor.

Consegui respirar aliviado e mesmo querendo entrar naquele quarto e ver com meus próprios olhos se ela estava bem peguei os documentos dela no carro e deixei na portaria e fui embora dali o mais rápido possível não queria estar presente quando Bento Calazans chegasse, e mesmo querendo ficar e saber mais notícias fui embora sem olhar pra trás.

Saí do hospital meio sem rumo, como pode uma coisa dessa, depois de tanto tempo, depois de tanto pensar nela nós nos reencontrarmos dessa forma, sonhei tantas vezes com esse momento, imaginei tantas formas em pedir o seu perdão e nem coragem de falar com ela eu tive sou mesmo um covarde e a deixei sozinha naquele hospital.

Marcados Pelo PassadoWhere stories live. Discover now