Capítulo 10: Torrencial

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Fleur Delacour não era feita de gelo por mais azuis e cristalinos que seus olhos pudessem ser. Muito menos, era intocável por maior que fosse a sua beleza. Ela era humana, como qualquer um e, no instante que Hermione a abandonou na biblioteca, ela derreteu e desabou

Seu corpo escorregou pelas lombadas dos livros empilhados na estante em que se encostara. Seus dedos formigavam pelo pacote que entregara a Hermione sendo que, naquele gesto, ela entregara muito mais. Naquele livro estava o seu adeus, mas, também, a sua saudade.

Nas palavras que sentenciavam um fim, Fleur procurava convencer-se. A jovem procurava acreditar que, depois de tanto perder em favor dos outros, ela já estivesse acostumada para entregar ainda que não tirassem dela.

Cada dia em que pisava na academia, ela perdia sua personalidade em favor de sua popularidade. A cada vez que negara o que sentira por Hermione desde quando a conhecera, ela deixava de se amar... E, naquele dia, quando cedera a Roger e negara Hermione, Fleur a perdera, para sempre.

As perdas faziam parte da sua vida, assim como a solidão. Fleur acostumara-se a partidas sem despedidas e a casas vazias. A atenção dada a ela vinha do que ela não era - a menina bonita e feliz, filha de pais ricos, bem criada e culta - e não pelo que ela queria que os outros vissem. E, quando finalmente fora enxergada, tivera que, novamente, perder.

Mas, perder um amor era uma coisa séria. A partida de Hermione significava muito mais do que um coração quebrado para Fleur, quando a morena saíra de sua vida, ela permitira que a própria Fleur destroçasse a própria alma. A loira não machucara apenas Hermione em sua decisão, mas, também, ferira a si mesma.

Fleur negara o que era, o que amava e o que queria ser.

Em um adeus, Fleur destruíra seu passado, seu presente e o seu futuro.

As pressões sociais destruíram o que ela ainda tinha conseguido manter intacto em seu peito. A ganância de Roger aliada a sua covardia foram capazes de transpor a única muralha que ela erguera em volta de seu coração. Fleur sentiu-se fraca, incapaz de enfrentar tudo que se erguia avassalador a sua frente.

Ela precisava da coragem de Hermione.

Fleur não sabia se conseguiria manter as aparências, mas, ela precisava... Nem tanto por si, mas por Hermione.

A líder de torcida não soube quanto tempo ficou chorando sozinha na biblioteca, contudo, quando se levantou, os resquícios de seu choro ainda estavam impressos em cada pedacinho de seu rosto. Ela, mais uma vez, optou em não enfrentar o que a aguardava.

As pessoas que a viram no corredor e esperavam ansiosamente pela sua volta não mereciam ver aquele lado de si, por isso, Fleur entrou em seu carro e voltou à mansão.

No caminho, enquanto pensava o que a aguardava, não chegou à outra conclusão que não fosse óbvia: não havia nada para ela que não fosse a solidão.

Superficialmente, Fleur Delacour parecia a mesma de sempre na manhã seguinte. Internamente? Ela estava quebrada, era misteriosa a forma como ela conseguia esconder tamanha tristeza em uma máscara de felicidade. Poucos perceberiam o que ela, de fato, sentia. E nesses poucos, com certeza, Hermione Granger estava incluída.

Porém, Fleur não encontrara Hermione nos corredores. Ainda que seu peito doesse a cada pensamento vinculado à morena, Fleur não se esforçava para abandoná-los porque o pouco que restara a ela, além da solidão, eram os pensamentos, as lembranças, as sensações, a memória. Fleur, mais uma vez, agarrava-se às migalhas de algo que tivera como um todo.

Não era a primeira vez que Fleur contentava-se com o pouco quando podia ter o mundo. Não era a primeira vez que ela se escondia na superficialidade quando, tudo que queria, era gritar pelo que tinha dentro de si.

You Belong With Me [FLEURMIONE]Where stories live. Discover now