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Amélia juntamente com Alice permaneceram lá até ela acordar. Demorou algum tempo mas lá acabou por abrir os olhos. Diana abre os olhos devagarinho... Repara na sua filha que estava à sua frente. E Diana pergunta-lhe:

- O que é que aconteceu? - Pergunta ela olhando para todos os lados.

- A mãe lembrasse de querer-me tirar o diário?

- Lembro-me, mas o que é que me aconteceu?

- A mãe caiu das escadas. É normal que não se lembre mas agora tem que descançar.

A mãe sorriu para ela fazendo uma festa na bochecha.

A empregada que era um pouco coscuvilheira, a fingir que continuava o seu trabalho encostou o ouvido na porta para ouvir a conversa. Amélia que ia em direção da porta, abriu-a e Alice mudou rápidamente de posição fingindo que estava a limpar o pó.

- Então como está a dona Diana?

- Já acordou. Não se lembra muito bem o que aconteceu mas é natural. Agora o mais importante é que ela está bem.

- Tem toda a razão menina, nem imagina o susto que apanhei ao ver a sua mãe inconsciente no chão.

- Imagino. Não foi um momento muito simpático. A culpa foi minha. Pela primeira vez a minha mãe pode zangar-se comigo e com razão.

- Não queria que isso acontecesse, pois não Amélia?

- Não. Só estava a tentar recuperar o que me pertence.

- Claro. Agora se não se importar tenho muitas tarefas para fazer. Com licença. -Disse a empregada deslocando-se para a cozinha.

Ao Alice ir-se embora, Amélia sobe novamente as escadas e vai até ao quarto de sua mãe onde ela lá estava. Ao abrir a porta vê Diana a dormir profundamente, não ouvindo o que ela dizia. A filha senta-se junto à mãe e vai-lhe dizendo o que pensa:

- Peço mil desculpas mãe. Não queria que tivesse caído das escadas por minha culpa... Só não queria ficar sem o diário. Compriendo que se preocupe comigo e que queira que tenha um estilo de vida como as outras mulheres mas, eu sou assim e tenho gosto em estudar, ler, ser mais culta. Talvez um dia irá perceber o meu lado. - Diz Amélia olhando para a mãe.

Depois deste pequeno momento, Amélia pega no seu diário, que estava na mesa de cabeceira e leva-o devolta ao quarto. Amélia tranca a porta do seu quarto, senta-se na secretária, abre o seu diário e começa a escrever.

                                           19 de Fevereiro de 1894

Querido diário:

Hoje foi um dia um pouco intenso, minha mãe ia-me tirando este precioso diário e acabou por cair das escadas... Sinceramente não compreendo a sua reação quando estou a ler ou a estudar. Uma mulher não é só aquela que permanece em casa e cuida dos filhos... As mulheres são capazes de fazer muito mais do que isso. Nasci na altura errada, onde ver uma mulher dedicada em estudar, ou mesmo ve-la a ler é estranho. As pessoas foram mal abituadas quanto a este assunto. Quando é que estas mentalidades vão mudar? Acredito que esse dia irá chegar mas não estarei cá para ver.

Amélia ao acabar de escrever fecha o diário e coloca-o dentro de uma gaveta. Ouve passos, batem à porta. É seu pai.

- Filha posso falar contigo?

- Espere só um momento... - Disse ela atrapalhada.

Ela ao arrumar as suas coisas e de se ajeitar, abre a porta ao seu pai Gonçalo.

- Já soube o que aconteceu à tua mãe.

- Já? Quero que saiba que foi um acidente.

- A Alice contou-me. Onde está ela?

- No vosso quarto.

- E ela está bem?

- Está tudo bem. Poderia ter ficado pior.

- Agora queria-te dar uma notícia.

- Claro sente-se. - Disse Amélia pondo uma cadeira no meio do quarto.

- Trago boas notícias!

- Então o que é? Diga-me. - Disse ela entusiasmada.

- Como estás a acabar o secundário e fiquei muito feliz com as tuas notas. Eu inscrevi-te na Universidade de Coimbra, recordas-te?

- Sim foi a semana passada...

- E adivinha só o que eu trago aqui.

Gonçalo tira do bolso do seu casaco uma carta da Universidade. Amélia ao vê-la fica nervosa e o seu coração começa a bater com grande velocidade.

- Deixe-me ver.

Amélia abre a carta lentamente e com muito cuidado, até parecia estar com receio de lê-la. Chegou o momento da verdade, ou sim ou não. Amélia espantada enquanto olhava para a carta, sorriu para seu pai e disse-lhe:

- Fui aceite! - Disse ela abraçando seu pai.

- Parabéns.

- Vou ser a primeira mulher a entrar para a Universidade de Coimbra. Mas como é que a mãe vai reagir a isto?

- Queres que eu fale com ela?

- Não vai ser necessário. Eu própria consigo falar com a mãe. Mas não vai ser hoje, são muitos acontecimentos ao mesmo tempo. Amanhã ela irá saber.

- Estou muito orgulhoso de ti. - Disse o pai.

- Era bom que a mãe disse-se o mesmo.

Amélia sai do quarto muito contente com a notícia que o pai lhe deu. Não estava à espera desta surpresa, uma mulher na Universidade? Isto demonstra algo de positivo. As mulheres estão a ganhar terreno nos estudos.

Amélia, filha de gente rica, iria ocupar a maior parte do seu tempo na Universidade? Esta notícia iria-se espalhar rapidamente pelas ruas de Coimbra.

A Minha Motivação |livro 1|Onde histórias criam vida. Descubra agora