Ao regressarem a casa, Amélia e Henrique estavam cansados, tinha sido um espetáculo de muita emoção e esterismo. Amélia ao colocar o pé no primeiro degrau das escadas, olha para trás e diz-lhe:
- Estou cansada, acho que vou dormir. E Henrique, obrigada por me levares à ópera, gostei muito, mesmo. Sabes onde poderei dormir?
- Ah sim sei. Lá em cima há um corredor, no fim desse corredor viras à direita e é a segunda porta.
- Hahahaha, agora fizeste-me lembrar naquele dia quando nos conhece-mos pela primeira vez. Lembras-te? Quando te perguntei onde era a secretaria?
- Lembro-me muito bem. Ao menos tive a sorte de te conhecer Amélia.
Amélia ficou corada. Depois virou as costas e disse-lhe:
- Até amanhã.
- Boa noite... - Disse ele no seu pensamento.
Amélia ao acabar de subir as escadas, passou pelo corredor e virou à direita, tal como Henrique lhe tinha dito. Ela abriu a segunda porta que era provavelmente o quarto dos convidados. Como era bonito aquele quarto! Sem dúvida que estava bem recebida. O quarto era grande, com móveis de madeira pintados, grandes espelhos, anjos em bronze e uma janela com uma vista lindíssima.
Amélia veste o seu pijama, abre a cama e em cima dela pôs o seu diário. Não iria propriamente escrever nele mas sim ver algumas fotos que tinha guardadas. Ela acende o candeeiro que estava a seu lado numa mesa de cabeceira. Por de trás da capa do seu diário, estavam guardadas algumas fotos da sua família em momentos passados quando era pequenina. Era tão parecida com sua mãe! Com os cabelos negros e aos caracóis e um olhar intimidante. Ficou muito comovida ao ver aquelas fotos, quando a sua família era dita "normal", uma vida sem problemas e de fantasia. É sempre bom recordar a infância. Entre aquelas fotos todas, havia uma em que estava seu pai e sua mãe no dia do casamento. Como eram felizes... - Pensava ela. Amélia, ao acabar de olhar para a foto beija-a e diz:
- Boa noite mãe, boa noite pai.
Mas havia outra coisa que a incomodava... Parecia que tinha um sentimento diferente quando estava com Henrique, já não o via como amigo. Talvez gostasse dele mas, não sabia se ele sentia o mesmo por ela. Era esquisito, não estava nos seus planos de vida gostar de alguém, mas parece que o destino mudou de ideias.
Ao acabar de pensar nisto, desliga a luz do candeeiro e dorme confortavelmente.
Na manhã seguinte, Amélia, tal como Henrique iriam para a Universidade mas desta vez ainda mais cedo do que o costume. Hoje a Universidade celebrava o seu aniversário. Ao acordar, Amélia vestiu-se muito bem já que era uma ocasião especial. Depois desceu as escadas, onde Henrique a esperava ao pé da porta de entrada. Ao vê-la, ele ficou maravilhado. Estava tão bonita! - Pensava ele.
Amélia olha para ele a sorrir e diz-lhe:
- Bom dia.
- Bom dia Amélia, estás um espanto!
- Obrigada, és muito querido.
- Vamos tomar o pequeno-almoço?
- Vamos com certeza.
Ele abre a porta da sala de jantar onde já estavam seus pais que não sabiam que tinham visitas. A avó de Henrique, Helena, perguntou-lhe:
- Henrique não sabia que tínhamos visitas...
- Mãe, pai, apresento-vos Amélia de Carvalho uma colega minha da Universidade.
- Prazer em conhecê-los.
- Igualmente. - Responderam os avós de Henrique.
- Seja bem vinda, esta casa também é sua. - Disse-lhe o avô de Henrique.
- Muito obrigada, fico internamente grata. - Respondeu-lhe Amélia.
- Então o que trás a menina de Carvalho a esta casa?
- Problemas familiares... - Disse ela baixando a cabeça.
- Oh tenho muita pena.
- Não é da família Miranda de Carvalho? - Perguntou o avô de Henrique, Luiz.
- Sim sou. Como sabe?
- Conheço o seu avô, já trabalhei com ele no vosso negócio de vinhos.
- A sério? Que coincidência.
- A menina está a tirar que curso? - Perguntou Helena.
- Neste momento estou a tirar medicina mas quando acabar o curso irei tirar filosofia e matemática.
- Não é muito comum haver uma mulher tão estudiosa como você Amélia.
Amélia não responde, simplesmente mostra um sorriso e não diz mais nada.
Depois da refeição, eles foram para a Universidade. Ao chegarem, encontram um ambiente de festa pela Universidade, não é todos os dias que há festejos. De manhã não haveria aulas só à tarde. Vasco estava à porta a pensar nalguma coisa como é costumo. Amélia ao reparar nele, tapa-lhe os olhos com as duas mãos. Vasco assustando-se, fica curioso para saber quem era. Portanto começou com as suas teorias:
- Quem é que me interrompeu no momento do pensamento? Hum... Deixa-me ver. Cheira intensamente a perfume, as mãos são delicadas... Será Amélia de Carvalho?
Amélia destapa-lhe os olhos. Ele olha para ela e solta uma gargalhada:
- Hahaha, era mesmo você que me interrompeu o pensamento. Mas foi uma surpresa agradável. Já pensas-te em como hoje está o tempo?
- Não mas ei de pensar. - Disse ela abraçando Vasco.
Henrique assistia àquela cena muito aborrecido. Decide então intervir na conversa:
- Ah eu também estou aqui, obrigado por repararem.
- Oh peço desculpa não tinha reparado em si. Então como vai meu caro Henrique?
- Bem.
- Estou a ver que não dormiu muito bem, está com cara de poucos amigos...
- Pois, os mochos acordaram-me. - Disse ele cruzando os braços.
- Bom se não se importarem vou para o laboratório.
- Mas não há aulas esta manhã. - Disse-lhe Vasco.
- Pois não mas quero aproveitar para fazer uma experiência. Até logo.
- Adeus Amélia! - Responderam os dois em coro.
- Ai esta Amélia é tão estudiosa... - Disse Vasco para o ar.
- Vasco, preciso de falar consigo.
- Claro vamos a isso.
Eles foram então para um lugar mais isolado onde ninguém os pudesse ver. Henrique iniciou então a conversa:
- Sê sincero comigo, gostais de Amélia?
- Oh meu caro isso agora estará fechado nos meus sentimentos.
- Não brinque comigo! Não vou repetir mais nenhuma vez. Gostais dela ou não?!
- Tenha calma não se irrite. Não tenho culpa que ela goste mais de mim do que de si e que você seja ciumento...
Henrique dá um soco a Vasco e ele cai no chão, desencadeando uma luta.
Amélia, que estava no laboratório, ouviu a discussão e ficou preocupada. Não podia abandonar a experiência, estaria a desrespeitar uma das regras de laboratório. E ainda por cima, o abandono poderia causar uma explosão ou derrame de ácidos. Decidiu então arrumar os materiais e ver o que se passava. Ao abrir a janela, Amélia vê Henrique e Vasco a lutar descontroladamente, já estavam magoados e sem forças. Ela ao ver aquilo grita:
- Parem!
Eles olham para a janela e vem Amélia a implorar para que paracem com aquela discussão. Ela fecha a janela não conseguindo olhar para eles, pensando que até se davam bem... Mas estava enganada.
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A Minha Motivação |livro 1|
Historical Fiction| A Minha Motivação livro 1 | Amélia de Carvalho, a primeira mulher a frequentar a Universidade de Coimbra (1871-1966). Amélia é uma jovem de 23 anos de finais do século XIX, que vive à frente do seu tempo. Ela quer muito ter uma vida que não é típi...