Amélia, depois de o jantar com Alice, sentia-se feliz por saber que não estava sozinha quanto aos seus planos para o futuro. A sua empregada era mais sua mãe do que Diana estando sempre presente, ajudou-a nos momentos mais difíceis e, mesmo quando parecia impossível, Alice olhava sempre para o melhor caminho. Muitos segredos que Amélia escondeu a sua mãe e que ainda hoje estão para revelar. Alice sempre guardou-os muito bem, podendo Amélia confiar nela para o que der e vier mas nem todos poderem dizer o mesmo.
Apesar de se ter esquecido da memória, lembra-se de passar mais momentos com a empregada do que a própria mãe, o que a deixava triste. Às vezes pensava que tinha sido um acidente por parte de seus pais e que nunca tinha sido desejada. E o mais estranho, é que seus pais tem personalidades completamente diferentes! Diana é uma mulher muito exigente e tudo tinha de ser feito como ela queria porque senão fazia-te a vida negra. Enquanto que o seu pai era mais paciente e arranjava sempre soluções para os problemas sem se preocupar muito. Como é que duas pessoas tão diferentes podem acabar juntos? Esta é a prova de que os opostos atraem. Já Amélia era muito autónoma e moderna para a sua época. É uma mulher diferente das outras é verdade, aprendia muito depressa e era conservadora. Alice pode ser atrapalhada e bisbilhoteira mas era uma pessoa que não faltava à sua palavra. Como quatro pessoas tão diferentes podem viver na mesma casa!
Amélia esteve a pensar nisto antes de se deitar e, vendo por esse lado, a sua família era muito estranha. Ela sentia que muito ainda estava para acontecer, apesar de não saber quando e onde. Quando fechou os olhos, parecia que passado dois segundos já era de dia. Mas que horas eram quando adormeceu? Amélia levantou-se bastante cansada, os seus olhos fechavam-se vezes sem conta e não parava de bocejar. Depois sentou-se no tocador onde ficou a pentear-se lentamente. Passado uns minutos ouve gritos vindos de lá debaixo, o que a deixou preocupada. Amélia saiu do quarto a correr, desceu as escadas e foi ver o que se passava. Quando chegou à sala de jantar, encontrou uma cena de terror... Os seus pais estavam deitados no chão juntamente com Alice. Amélia andou devagarinho para ao pé deles e viu que estavam mortos e tinham marcas de balas pelo corpo. Ela começou a tremer de medo e olhou à volta para ver se via alguém. Quando olha para trás vê uma sombra na parede e decide ir atrás dela. A sombra, à medida de que Amélia se aproximava, dizia:
- Vem Amélia!
A sombra foi até à cozinha onde desapareceu depois de Amélia lá entrar. Ela, com a voz a tremer, pergunta:
- És tu outra vez Henrique, não és?
De repente as gavetas abrem e fecham-se com violência e os utensílios de cozinha voam em volta de Amélia. Durante esta cena de casa assombrada, grita:
- Eu sei que és tu Henrique, mostra-te!
Depois de Amélia dizer isto, Henrique aparece à sua frente com os braços cruzados e diz-lhe:
- Não te faças de desentendida, tu sabias que eu ia voltar.
- O que é que tu queres de mim agora? E porque é que matas-te a minha família?
- Não te preocupes Amélia, o pior ainda está para vir...
- O que é que eu te fiz para merecer isto?
- Eu não te tenho que relembrar pois não?
- O quê? Diz-me, eu perdi a memória não te lembras?
- Só quero que saibas que ainda vais acabar por me fazer companhia.
- Não eu não vou deixar que isso aconteça! Eu conheço a tua fraqueza Henrique.
- Eu sou um espírito, um espírito é um ser imune sem fraquezas.
- Tu não tens domínio sobre o mundo real só da mente.
- Talvez agora não tenha mas as coisas mudam Amélia, as coisas mudam!
Depois de Henrique dizer isto, Amélia acorda e fica aliviada por ter sido um sonho mas, será que era apenas um sonho ou um aviso para o que poderá acontecer? Agora não era só ela que estava em perigo mas também a sua família. Mas como haveria de explicar-lhes isto? Seria mais uma das suas loucuras e ninguém ia acreditar na sua história traumática. Amélia levanta-se rapidamente e sai do quarto para verificar que estava tudo bem. Quando desce as escadas, encontra Alice na entrada a varrer o chão e ao ver que estava bem, diz:
- Alice estás bem! - Diz dando-lhe um abraço.
- Sim estou bem menina... - Diz Alice um bocado atrapalhada.
- Estava com medo que não pudesse estar bem, você e os meus pais.
- Mas porquê menina? Passa-se alguma coisa?
- Não se passa nada, só tive um pesadelo horrível em que vos tinha encontrado mortos no chão... Foi horrível! - Diz Amélia assustada.
- Ai credo menina! Está tudo bem não se preocupe. - Diz Alice fazendo um pequeno sorriso.
- E os meus pais onde estão?
- Estão na sala menina.
Amélia respirou fundo, fechou os olhos e disse para si própria:
- Ainda bem que foi apenas um sonho!
Ao chegar à sala, viu os seus pais a falarem com um senhor de barbas que tinha uma cara de meter medo a olhar para os quadros que tinham na sala. Quando Amélia entrou na sala, os seus pais fizeram silêncio e ficaram a olhar para ela tal como o homem de barbas. Ela aproximou-se deles e perguntou junto ao ouvido de sua mãe:
- Quem é este?
- Amélia quero-te apresentar o Filipe Gonçalves, é um pintor extraordinário e eu e o teu pai estávamos a pensar em ter um quadro que representasse a nossa geração familiar.
- Ah eu sou a Amélia. - Diz ela cumprimentando o homem.
- Prazer e conhecer-te. - Diz o homem cumprimentando também Amélia.
- Bem podemos começar já. - Diz o pai de Amélia para o pintor.
- Muito bem, quero uma cadeira ali no meio onde se vai sentar a senhora Diana, a Amélia fica à sua esquerda e à direita fica o senhor Gonçalo.
Depois de já estarem todos nas suas posições bem quietinhos, o Filipe Gonçalves começa a fazer o quadro que haveria de estar exposto na sala ao lado de todos os outros quadros das gerações passadas da família Miranda de Carvalho. Enquanto os minutos passavam Amélia ficava cada vez mais aborrecida por não se puder mexer nem por um segundo, até que reparou em algo de muito estranho atrás do pintor. Às vezes parecia ilusão mas também parecia real, ela via umas mãos em cima da cabeça do pintor! Amélia notou que ninguém via as mãos por isso talvez seria imaginação dela. O pintor olhou fixamente para Amélia e diz-lhe:
- Não se mexa muito Amélia, por favor...
Amélia estava a fazer um esforço para não se mexer mas não conseguia evitar quando via aquelas mãos vadias. Aquelas mãos seriam de certeza as de Henrique, mas Amélia não poderia fazer nada pois a vida da sua família poderia estar em risco.
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A Minha Motivação |livro 1|
Historical Fiction| A Minha Motivação livro 1 | Amélia de Carvalho, a primeira mulher a frequentar a Universidade de Coimbra (1871-1966). Amélia é uma jovem de 23 anos de finais do século XIX, que vive à frente do seu tempo. Ela quer muito ter uma vida que não é típi...