Depois da visita ao Palácio de Belém, Amélia segue então para a estação para regressar a Coimbra. Ela gostou bastante de Lisboa, era capaz de se habituar a viver aqui. Já na estação olhou para o relógio e eram seis e um quarto. Passado um pouco, chega o comboio e desta vez estava mesmo a abarrotar de gente. Amélia não queria esperar pelo próximo comboio, demoraria uma eternidade. Ela entra no comboio com muita dificuldade e ao passar por um monte de gente ela fica a pensar:
- Só me deparo perante multidões!
A viagem demorou mais algum tempo pois era hora de ponta. Mas passado umas horas chega a Coimbra e Amélia pensa:
- Finalmente!
Até que algo de inesperado acontece... Enquanto Amélia estava a sair da estação, sente-se tonta e fraca, ao ponto de acabar desmaiada no chão. Uma varina que ia a passar repara em Amélia desmaiada e vai socorre-la. A pobre mulher, sem saber o que fazer pede ajuda:
- Alguém que me ajude! - Gritava a varina.
Ela tenta pegar em Amélia mas não conseguia. Amélia estava tão pálida... Parecia que estava morta. As temperaturas estavam baixas em pleno mês de fevereiro. A vaina cobriu Amélia com um coburtor e arrastou-a até um lugar mais quente. Ao acordar, Amélia vê uma estranha a olhar para ela e fica assustada:
- Quem é você?! O que estou aqui a fazer?
- Não se preocupe que eu não lhe vou fazer mal. A menina estava desmaiada e decidi socorrê-la.
- Obrigada e desculpe a minha reação, normalmente não costumo confiar em ninguém.
- Eu compreendo-a, não devemos dar muita confiança, principalmente a desconhecidos.
- Se não se importar tenho de ir para casa, os meus pais já devem estar preocupados.
- Claro vá lá então.
- Obrigada mais uma vez.
- De nada menina.
Amélia vai para casa e ao abrir a porta não vê ninguém. Já era tarde e seus pais estariam a dormir. A única pessoa que estava acordada era Alice, que estava a lavar a loiça. Amélia estava esfomeada, não comia desde manhã. Talvez por essa razão ela tivesse desmaiado durante o caminho.
- Oh menina chegou! Estava a ver que não vinha.
- Atrasei-me. Estou esfomeada, não tem nada para comer?
- Por acaso tenho aqui um resto do jantar, quer?
- Uma pessoa esfomeada come qualquer coisa.
Alice põe o prato à frente de Amélia e ela coscuvilheira como sempre pergunta:
- Então menina onde esteve?
- Em Lisboa, não viu o recado?
- Que recado?
- Não viu? Que estranho...
- Os seus pais viram mas não me disseram nada. Mas conte-me o que é que foi fazer a Lisboa. - Diz a empregada curiosa sentando-se ao lado de Amélia.
- Fui convidada pela Rainha para falar com ela no Palácio de Belém.
- A sério?! Não pode...
- É verdade, olhe para a carta que recebi hoje de manhã.
Alice lê a carta muito impressionada com o convite.
- E do que é que falaram...
- Sua majestade queria ser a minha madrinha no curso de medicina.
- Isso é fantástico Amélia. - Dizia a empregada.
- Bom vou-me deitar. Obrigada pelo jantar.
- De nada menina, boa noite!
- Até amanhã.
Amélia ao deitar-se, não conseguia adormecer. Ainda pensava neste assunto, seria Amélia conhecida pelo país? Amanhã teria de ir para a Universidade e esta notícia iria-se espalhar rápidamente.
No dia seguinte Amélia foi para a Universidade com algum receio do que as pessoas iriam dizer acerca do "casamento" com Henrique.
Ao chegar à Universidade, vê Vasco muito deprimido a olhar para o nada. Ele veio ter com ela e perguntou-lhe:
- É verdade que vai casar com Henrique?
- Vasco sabes que isso não é verdade...
- Ai não? Não se fala noutra coisa.
- Achas mesmo que iria casar com uma pessoa que conheço à uns dias?
- Então não vais casar com Henrique?
- Vou mas vai ser um casamento falso.
- Porque razão?
Amélia contou a Vasco o que estava a acontecer com sua mãe. Vasco muito pensativo perguntou-lhe:
- Porque escolhes-te Henrique e não eu?
- Foi a primeira pessoa que vi. Não sejas invejoso...
Vasco ficou muito triste ao saber do "casamento" entre Amélia e Henrique. Apesar de ser falso, ele gostava de Amélia desde a primeira vez que a viu.
Amélia foi para a biblioteca onde estava Henrique à procura de um livro. Ela chega-se discretamente para junto dele e diz-lhe:
- Parece que andas à procura de uma agulha num palheiro. - Diz ela a rir-se.
- Oh Amélia, que surpresa tão agradável. Sabe é que nunca fui muito bom a encontrar seja o que for.
- Nem imaginas o que me aconteceu ontem!
- Conta lá...
- Recebi um convite em nome da Rainha Dona Amélia para ir ter com ela ao Palácio de Belém. Sua majestade quer ser minha madrinha no curso de medicina.
- A sério? Os meus parabéns Amélia. - Diz ele dando-lhe um abraço.
- Fiquei tão feliz... Sinto que o meu trabalho está a ser bem feito. É bom ser reconhecido pelo que fazemos.
- É, ao menos tens essa sorte. Já eu nem um livro consigo encontrar.
- Deixe-me ajudar-te.
Amélia ajuda Henrique a encontrar o tal livro. Até que as suas mãos tocam-se e Amélia fica muito envergonhada. Ficaram a olhar um para o outro durante algum tempo. Henrique beija Amélia mas ela, não gostando da atitude, dá-lhe um estalo e sai da biblioteca.
- Que estúpido... - Pensa Amélia a respeito dele.
Os seus dois amigos passaram a amar Amélia e ela já não sabia o que fazer. Amélia tinha confiado nele para a ajudar e Henrique reage desta forma.
O mundo parece estar sentrado nela, já basta as discussões que tem com sua mãe, as mentiras que diz para ir para a Universidade e agora ainda tem que lidar com estes namoricos.
No final do dia, ao regressar a casa, vê sua mãe muito feliz a ir ter com ela abraçando-a com muita força. Amélia ficando sufocada com o abraço diz-lhe:
- Mãe estás a magoar-me...
- Ai desculpa filha mas é que estou tão orgulhosa de ti! Já tratei de tudo para o casamento! E como correu a visita ao Palácio de Belém?
- Bem.
- Conta-me tudo! - Disse Diana curiosa.
- A Rainha Dona Amélia queria ser minha madrinha no curso de medicina.
- Ai que bom! Isto não pode estar a acontecer...
- É muito bom mãe ser reconhecida por vossa majestade. - Amélia ao dizer isto, sorriu para sua mãe.
Amélia, depois desta pequena conversa, foi para a salão de música onde passou a tarde a tocar piano, para se distrair com tudo o que se estava a passar à sua volta.
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A Minha Motivação |livro 1|
Historical Fiction| A Minha Motivação livro 1 | Amélia de Carvalho, a primeira mulher a frequentar a Universidade de Coimbra (1871-1966). Amélia é uma jovem de 23 anos de finais do século XIX, que vive à frente do seu tempo. Ela quer muito ter uma vida que não é típi...