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Depois de muitas horas de pé, a pintura já estava concluída. Quando o pintor virou a tela surgiram mitos sorrisos por parte da família Miranda de Carvalho que tinham deixado a sua marca na longa fila de quadros de outras gerações. Mas, entre essa alegria, estava a dúvida de Amélia:

- Mas porque é que estes espíritos são tão teimosos? - Pensava Amélia que já estava cansada das atitudes infantis de Henrique.

Ela queria acabar com isto de uma vez por todas com esta maldição mas parecia cada vez mais impossível. Henrique poderia enganar ou possuir seja quem for, até as pessoas que não tem nada haver com a situação. Mas Amélia conhecia a sua fraqueza, e se Henrique continuá-se a usar a sua família para se render, então teria de se ver livre da alma. Amélia tinha medo de que aquele sonho viesse mesmo a acontecer e que ela poderia ser morta da pior maneira. Henrique não ia parar até conseguir-se vingar dela mas, se ele quer tanto isso, porque é que ainda não fez? Será que ele se quer vingar de mais alguma coisa? Amélia não poderia estar descansada enquanto Henrique andasse por aí a tirá-la do sério e o mais estranho, é que só ela é que o via, nem os seus pais nem Alice ainda repararam no fantasma.

- Oh Amélia, não achas que está muito bonito? - Perguntou a sua mãe maravilhada.

- Sim, está magnífico... - Diz Amélia mostrando um sorriso.

Logo a seguir, colocaram o quadro ao lado de todos os outros que ilustravam uma história com mais de quinhentos anos! Era tradição todas as gerações terem um quadro que demonstrasse a longa existência da família Miranda de Carvalho. Como Amélia era filha única, e não queria casar-se ou ter filhos, provavelmente seria o último quadro posto. Era uma preocupação para seus pais saber que Amélia não ia construir uma família e que iria viver e trabalhar sozinha para uma cidade que nem conhecia.

Seus pais saíram da sala juntamente com o pintor para lhe agradecer e indicar-lhe a saída, enquanto Amélia permaneceu na sala ficando a olhar para o quadro. De repente, sente uma mão a tocar-lhe no ombro ficando a tremer, com receio que fosse Henrique. Ela olhou para trás e viu Alice a olhar para ela muito emocionada. A empregada sentou-se numa cadeira que ali estava e diz-lhe:

- Está tão lindo menina! - Diz-lhe olhando para o quadro.

- Pois está. - Diz Amélia indiferente.

- A menina desde que acordou que anda muito estranha. Passa-se alguma coisa?

- Eu poderia contar-lhe mas não vai acreditar...

- Oh menina, sabe que me pode contar tudo!

- Eu sei mas, é tudo muito estranho e quando parece que já está tudo bem, voltamos à desgraça!

- O que é que quer dizer com isso?

- Lembra-se do meu colega da Universidade que faleceu?

- Sim menina, nem me lembre disso, foi horrível!

- Ele anda a perseguir-me...

- A menina tem a certeza?

- Claro que sim, ele quer-se vingar de mim Alice, de mim!

- Então porquê?

- Isso eu não sei mas, ele não vai parar com isto até me matar!

- Ai credo não diga uma coisa dessas...

- Infelizmente é verdade Alice e eu já estou farta desta história! Eu tenho que lhe banir a alma.

- Como?

- Eu vou precisar de um espelho de prata, mas acho que não temos nenhum cá em casa.

- Não se preocupe menina, eu arranjo-lhe um espelho de prata.

- Onde é que vai arranjar isso?

- Como arranjar não sei mas vou tentar procurar pelas carroças que trazem as mercadorias.

- Vai roubar Alice?!

- Não tenho outra forma...

- Está bem, combinado então?

- Combinado! - Diz Alice dando-lhe um aperto de mão a Amélia.

Depois disto, o relógio toca e são três da tarde. Amélia despede-se de Alice e vai para o seu quarto buscar os livros para chegar a tempo à Universidade. Enquanto Amélia punha os livros numa mala, deixara cair uma foto meio rasgada. Ela apanhou-a do chão e, ao virar, fica muito séria a olhar para ela. Esta foto era de Henrique, a que ela rasgara tantas vezes... E ainda tinha a marca do batom quando a beijou. Nessa altura tudo era diferente e Henrique era visto como um grande amigo, mas agora, era um inimigo. Amélia colocara a foto novamente onde estava e saiu de casa para seguir caminho até à Universidade.

Ao chegar lá, eram três e meia e ela chegara mesmo em cima da hora. Amélia entrou na sala já um pouco cansada com a correria para conseguir chegar a tempo mas, quando entrou, reparou que estava completamente vazia. Nem um professor, nem um único aluno, neste momento só lá estava Amélia. Ela sentou-se no seu lugar com esperança de que alguém pudesse aparecer, mas o tempo passava e ninguém aparecia e ao aperceber-se disso, saiu da sala, triste por não haver aula. Diante desta tristeza toda, aparece Vasco que estava a andar na sua direcção e Amélia acenou-lhe, muito feliz por vê-lo.

- Olá Amélia. - Diz ele beijando-lhe a mão.

- Já não te via à algum tempo.

- Pois, eu tenho estado muito ocupado a fazer os meus projectos depois de terminar o curso... Então e você Amélia?

- Eu também tenho estado a pensar no mesmo mas, parece que os meus pais não querem que eu vá para Lisboa.

- Vai sair de Coimbra?

- Tem de ser, lá há mais oportunidades de trabalho do que aqui.

- Bom é uma pena saber que se vai embora... - Diz Vasco muito abatido.

- Eu volto para cá no verão para também visitar a família e também a ti. - Diz Amélia levantando a cabeça de Vasco.

Depois de Amélia fazer este gesto, os olhos de Amélia e os de Vasco ficam a olhar um para o outro durante algum tempo. Vasco aproxima-se lentamente de Amélia tentando beijá-la. Amélia desvia devia a cabeça e vai-se embora com o passo acelerado. Ele vai atrás dela e agarra-lhe pelo braço, ficando de frente um para o outro, e Vasco diz-lhe:

- Se te vais embora, só quero que saibas que sempre te amei.

Amélia fica muito nervosa a ouvir estas palavras sem saber o que haveria de dizer. O seu coração estava a bater tão rápido que parecia que ia explodir. Vasco beija-a e Amélia retribui-lhe. Ela nunca tinha sentido isto por ninguém e, talvez amasse Vasco como ele lhe amava. Será que era desta vez que Amélia tinha descoberto o seu verdadeiro amor?

A Minha Motivação |livro 1|Onde histórias criam vida. Descubra agora