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Amélia ainda estava espantada com o que aconteceu na lição de piano, tinha sido a primeira vez que Henrique agira assim sem ela estar sozinha, o que a deixava ainda mais preocupada. Nem sozinha, nem acompanhada ela poderia estar a salvo dos espiritualismos de Henrique. Ela teria de evitar aquilo que se passou na igreja ou senão um grande mal cairia sobre ela. Amélia poderia não ter o seu tabuleiro de madeira todo bonito nas suas mãos mas, poderia falar com alguém que tivesse essa experiência na sua mente. Teria de falar com uma vidente urgentemente para saber o que iria acontecer de mal nos próximos tempos e ao menos ela ainda chegava a tempo de corrigir o futuro. Isso seria uma situação muito complicada porque se Diana soubesse o que ela andava a fazer, bem que teria um castigo muito maior do que se usasse o seu tabuleiro. A melhor opção, e talvez a mais fácil, era recuperá-lo. Mas, onde é que o terá guardado? A sua casa era tão grande que nem conhecia todos os seus cantos. Amélia não o poderia encontrar sozinha, teria de pedir ajuda a alguém que estivesse sempre do seu lado e que fosse uma tela branca em que pudesse pintar à vontade e que, principalmente, conhecesse bem a casa. Essa pessoa era Alice. Amélia saiu logo do quarto e foi à sua procura. Desceu as escadas e foi para a cozinha onde sabia que a empregada passava a maior parte do tempo. Antes de entrar, espreitou pela porta e viu Alice a limpar o chão. Alice olhou para ela e gritou:

- Ai menina que susto! - Disse deixando cair a esfregona.

- Desculpe, não a queria assustar... -  Disse Amélia apanhando a esfregona do chão.

- O que é que a menina anda a tramar para estar ali escondida atrás da porta a espreitar?

- Bem, eu andava à sua procura.

- À minha procura, porquê?

- Vou precisar que me ajude a encontrar o tabuleiro de comunicar com os espíritos.

- Nem pense nisso menina, já basta a sua mãe o ter tirado. Não conte comigo para essas malandrices!

- Vá lá Alice... Eu garanto-lhe que a minha mãe não vai descobrir, depois voltamos a pôr onde estava guardado.

- Mesmo assim é muito arriscado.

- Mas sabe onde é que está por acaso?

- Sim, está no quarto da sua mãe mas nem pense em lá entrar! - Disse Alice suspirando.

- Obrigada. - Disse Amélia dando-lhe um abraço.

Depois de agradecer à empregada, Amélia saiu da cozinha a correr até ao quarto de sua mãe. Alice, tentando impedi-la, gritou:

- Amélia! Não faça isso...

Quando sobe as escadas, Amélia encontra Diana a descê-las. Ela estava tão nervosa com o que a sua mãe poderia-lhe perguntar, que decidiu ser ela a começar a conversa:

- Bom dia mãe. - Disse Amélia sorrindo.~

- Olá filha, dormis-te bem?

- Sim... Ia agora mesmo acordar-te! Já viste que horas são?

Diana olha para o relógio e fica espantada:

- Ah já são dez horas! Tenho de ir imediatamente para o centro. Eu hoje vou chegar tarde que tenho uma coisa combinada com os teus tios. Tenho de ir filha, até logo!

- Adeus... - Disse Amélia tentando manter o sorriso.

Depois de Diana sair de casa, Amélia sentia-se finalmente livre e assim poderia ir ao quarto de sua mãe buscar o tabuleiro sem ela dar por isso. Amélia continuou a subir as escadas e foi até quarto que era o último do corredor. Ao chegar lá, respirou fundo e abriu a porta. Amélia olhou para os dois lados para garantir que ninguém estava lá e entrou devagarinho. Amélia, ao entrar pela primeira vez, ficou a pensar:

- Este quarto é muito maior que o meu!

Ela sentia-se mal a fazer isto, era má educação entrar no quarto dos pais, principalmente às escondidas! O mais difícil agora era encontrar o tabuleiro, podia estar em qualquer lado! Ao menos o tabuleiro não era pequeno, por isso, não poderia estar guardado em espaços muito pequenos. Amélia abriu gavetas, armários e nada. Parecia que cada vez que mais tentava procurar, era mais impossível de o encontrar. Até que Amélia tropeçou numa caixa que estava no chão e olhou para debaixo da cama e viu algo que se parecia mesmo com o seu tabuleiro. Amélia tirou-o e viu que era mesmo o seu querido tabuleiro. Ao achá-lo, levou-o para o seu quarto e trancou a porta para não receber visitas inesperadas. Ela pousou-o em cima de uma mesa, pôs a folha por baixo e por fim as mãos sob aquele tabuleiro de madeira tão bem arranjado. Amélia fechou os olhos e disse em voz alta:

- Espíritos, o que me tem para contar à cerca do meu futuro?

O tabuleiro começou a mexer-se e parecia estar a escrever à uma eternidade. Quando parou, Amélia levantou-o e viu lá escrito:

Desafiador

Amélia pegou na folha e ficou a pensar:

- Desafiador? Será que mais segredos se esperam para ser revelados?

De repente, batem à porta. Amélia atrapalhada, esconde rapidamente o tabuleiro debaixo da cama e rasga a folha deitando-a no lixo. Ela chega-se para junto da porta e pergunta:

- Quem é?

- Ah sou eu menina... Abra a porta. - Dizia Alice com o ouvido na porta.

Amélia destranca a porta e, ao abri-la, pergunta à empregada:

- O que é que se passa?

- Isso pergunto-lhe eu, porque é que tinha a porta trancada?

- Privacidade.

- Pois mas tem que se deixar disso porque tem visitas.

- De quem?

- Já vai ver menina... - Disse Alice fazendo um riso de gozo.

Amélia desceu então as escadas para receber a tal visita de que tanto Alice se rira. Ao chegar ao piso inferior, viu Vasco tirando o chapéu ao vê-la. Amélia, feliz por o ver, foi abraçá-lo. Depois de um grande abraço, Amélia perguntou-lhe:

- O que é que vieste aqui fazer?

- Eu vim fazer-te uma surpresa... Vou precisar que me acompanhes até a um sítio.

Amélia ficou bastante curiosa, ela adorava surpresas e nesta altura precisava de se animar um bocado depois de tudo o que se passou nestes últimos dias de inferno.

Ao chegarem ao local tão especial, Vasco pôs as mãos nos olhos de Amélia para ser uma verdadeira surpresa. Ela, curiosa como sempre, pergunta-lhe:

- O que tem esse lugar de tão especial?

- Sei que gostas... Bem que antes gostavas de aqui estar e que, por acaso, foi aqui que nos conhecemos.

Amélia, depois de subir tantas escadas com os olhos tapados, fica tão curiosa que sente o seu coração a bater cada vez mais. Ao chegarem à porta de entrada, Vasco diz para Amélia:

- Bem vinda de volta Amélia. - Diz tirando as mãos.

Ao destaparem-lhe os olhos, Amélia vê uma multidão em seu redor a baterem palmas e a cumprimentarem-na, apesar de ela não se lembrar de quem eram. Amélia estava novamente na Universidade e desta vez foi recebida em festa. Ela sentia-se como se estivesse na berlinda, chamando a atenção a toda a gente que passava. Estranhamente, eram todos homens e não vira uma única mulher por lá, o que a deixava um pouco desconfortável.

A Minha Motivação |livro 1|Onde histórias criam vida. Descubra agora