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Passado um mês...

Hoje seria o primeiro dia em que Amélia iria para o Universidade. Estava tão ansiosa! Era o início da sua grande aventura.

Acordou bem sedo, mais do que é habitual e começou por vestir o seu trage que, apesar de não gostar muito dele, sentia-se mais adulta e autoritária. Perfumou-se bastante, usou as suas melhores joías pois este dia era muito importante para Amélia.

Mas o seu momento de fantasia terminou rapidamente. Sua mãe, não queria que este dia chegasse ao contrário da vontade da filha que já não pensava em mais nada a não ser na Universidade. Enquanto Diana ia a passar pelo quarto de Amélia reparou o quanto ela estava feliz mas parecia que o nome da família falava mais alto. Diana não aguentou mais e trancou-a no quarto e colocou a chave no bolso do seu casaco. Amélia ao se aperceber disso, foi até à porta e tentou abri-la mas sem sucesso. Ela espreitou pela fechadura para ver se via alguém. Ao ver que tinha sido obra de sua mãe gritou:

- Mãe tire-me daqui! A mãe não tem o direito de me trancar no quarto!

- Tens que aprender a respeitar a tua família Amélia. Sabes o quanto a tua ida para a faculdade iria prejudicar o nome da nossa família?

- Então a polémica entre a sociedade é mais preocupante para ti do que o meu futuro, a minha felicidade?

- Não tudo tem que ser como nós queremos filha, tenta meter isso na tua cabeça! Agora ficas aí de castigo...

- Não tire-me daqui! Por favor...

Amélia, preocupada com o impedimento de sua mãe, tenta arranjar alguma maneira de sair dali para poder ir à Universidade. Até que ela olha para a janela entre aberta e fica a pensar:

- Poderei fugir pela janela...

Apesar de ser uma loucura para ela, tinha de ser feito e era a única solução para sair dali.

Amélia entrelaçou vários lenços, pôs-os por baixo de objetos pesados para que não caísse durante a descida. E sucesso! Apesar de quando voltar saberia que sua mãe iria-se chatear com ela a sério e apesar de merecer, iria valer apena agora que já poderia ir para a Universidade.

Ao chegar à Universidade deparasse no meio de uma grande confusão, havia muita gente e Amélia era empurrada vezes sem conta. Mas que confusão é esta? Não sabem pedir desculpa ao menos? - Pensava ela.

Ao sair da multidão que se concentrava à entrada, seguiu para a sala de aula onde iria tirar o primeiro curso, o de medicina. Seriam sete anos a estudar para completar o curso, quatro em matemática e filosofia. Ao todo ia passar quinze anos na Universidade, mas também não se importava muito com isso.

Ao entrar na sala viu vários alunos divididos em bancadas. Como costumam dizer os melhores alunos ficam mais perto do professor enquanto que os restantes reguilas ficavam distanciados. Amélia obviamente era a única estudante feminina da turma, visto que só havia uma mulher na Universidade que era ela. Apesar de não lhe fazer muita confusão, pois já estaria habituada a trabalhar apenas com homens, achou que era discriminada por parte dos reguilas que estavam por trás.

Como Amélia era uma menina com cabeça não ia nas conversas tontas deles que às vezes abusavam da infamia. Ela estaria ali para estudar, não para perder tempo com estes meninos ricos que só estão aqui a passear.

Amélia mostrou-se muito interessada com tudo o que o professor dizia ou mostrava. Era participativa e dava uma nova vida às aulas com perguntas que davam ainda que pensar. Foi um dia inteiro a andar de sala em sala, de corredor por corredor... Mas a parte favorita de Amélia não era a parte teórica mas sim a prática. Adorava usar os seus conhecimentos na realidade, o que ajudava a ganhar experiência. À tarde ia para a biblioteca à procura de matérias e para a ajudar a fazer trabalhos de investigação. Era o momento do dia que ela mais apreciava.

Já no final do dia, ao sair da Universidade, ouve uma voz a chamá-la:

- Amélia, Amélia de Carvalho!

Ela olha para trás mas não vê ninguém. Continua a andar e ouve a mesma voz a chamá-la:

- Amélia!

Ela olha para o lado e vê Henrique a correr na sua direção.

- Encontramo-nos outra vez. - Diz Henrique sorrindo para ela.

- É, que coincidência.

- Então o que achas-te do primeiro dia?

- Foi muito importante para mim este primeiro dia. Será assim durante quinze anos da minha vida.

- Tanto tempo?

- Pois é, também é porque vou tirar três cursos: Médicina, Filosofia e Matemática.

- Não são fáceis... Estou a ver que é muito estudiosa Amélia.

- É o que eu mais gosto de fazer. Só tenho pena é que a maior parte das mulheres não tenham essa oportunidade de poder estudar. E você está a tirar que curso?

- Música.

- Oh interessante! Eu por acaso toco piano e violino. Adoro música...

- Meu pai é maestro no Teatro Nacional de São Carlos em Lisboa. Foi ele que me transmitiu esta paixão.

- Não é de Coimbra?

- Não, nasci em Lisboa mas estou aqui a estudar. Quer que leve esses livros? Devem estar muito pesados...

- Deixe estar, não se incomode que eu levo-os sozinha. Mas obrigada.

Entretanto Henrique afasta-se de Amélia, indo ele para um lado e ela para outro. Amélia entrou em casa pelo jardim para que sua mãe não reparasse que ela tinha fugido. Ao ver a sua janela que ainda estava aberta com a "corda" que ela tinha feito, decide rapidamente subir até ao seu quarto. Ao chegar ao topo, retira a "corda", fecha a janela e esconde os livros da Universidade.

Estava cansada e por isso deita-se na cama para descansar durante um pouco. Passado algum tempo ouve a chave na fechadura. Era sua mãe, ela vai ter com Amélia e diz-lhe:

- Já aprendes-te a lição?

- Sim, já estava farta de ficar aqui presa. - Disse Amélia tentando disfarçar. Mas posso continuar a ir para a Universidade? - Disse ela para despachar o assunto.

- Não e isso está fora de questão!

- A mãe é mesmo egoísta, não é?

- Eu sou a tua mãe e eu é que decido o teu futuro! Tu vais fazer parte do negócio da família!

- Mas não é isso que eu quero fazer...

- Tu não tens quereres. Não vais estudar naquela Universidade e ponto final!

- A mãe tem que perceber que...

Diana sai do quarto e fecha a porta com força fazendo um grande estrondo. Amélia revoltada com a decisão da mãe, manda tudo para o chão com raiva. Amélia poderia ir para a Universidade às escondidas, mas precisava de ajuda, para que sua mãe não viesse a descubrir.

A Minha Motivação |livro 1|Where stories live. Discover now