ARQUIVO CONFIDENCIAL
Consta aqui: a TRANSCRIÇÃO DOCUMENTAL da GRAVAÇÃO do DEPOIMENTO INICIAL de Juliana Pereira Gomes.
CASO: ENTREGA ESPECIAL.
Central Investigativa da cidade de Dom Ramalho.
16 de Setembro de 2017.
Investigador: O que foi que houve em seguida?
Juliana: [Fungadas] Eu abri o pacote. O que mais eu poderia fazer?
Investigador: [Pigarro] Certo. E o que tinha lá dentro?
Juliana: Uma caixa menor... com um bilhete. Vocês viram. Por que está me perguntando?
Investigador: Apenas continue a descrição.
Juliana: Mas por quê?
Investigador: Senhora, por favor. Sente-se. Eu sei que tudo isso é doloroso, mas tudo isso também é necessário. [Suspiros] Prossiga, sim?
Juliana: Tudo bem. [Fungadas] Era um pedido de desculpas, o bilhete. O desgraçado que me enviou aquilo estava se desculpando!
Investigador: Qual foi o pensamento da senhora no momento?
Juliana: Eu não fazia ideia do que pensar. Ainda não tinha olhado a outra caixa... Só achei estranho. Muito estranho...
Investigador: E a senhora sabe de alguém que quereria se desculpar com a senhora por algum motivo?
Juliana: [Fungadas] Não. Não sei de ninguém. Também não imagino quem poderia ser a pessoa que... que fez aquilo.
Investigador: Está se referindo ao que havia na caixa?
Juliana: Não, investigador. Estou me referindo à minha mãe que já partiu dessa pra melhor faz anos. É claro que estou me referindo ao que tinha na caixa.
Investigador: E o que tinha na caixa?
Juliana: O senhor sabe. Todos aqui sabem. Pra que essa tortura?
Investigador: Senhora, só responda à pergunta. O que tinha dentro da outra caixa?
[CONTINUA]
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O Ser
Short StoryDing-dong. Alguém está tocando a campainha. Há algo no chão da varanda. É uma caixa. Um pedido de desculpas. Mas era tarde demais para se desculpar. Antes, contudo, Clara tinha uma vida. Era uma vida até boa, nem tão ruim, nem tão perfeita...