Algo Tão Sério

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Com o véu da noite estendido pelo céu, a mulher encarava, desatenta, a televisão quando a viu aparecer pelo corredor.

― Filha? Aonde vai a essa hora? ― quis saber, percebendo que a garota trajava roupas de sair.

Pega no pulo, Clara pareceu se constranger por um instante.

― Eu, hã, vou à casa de uma amiga.

A mãe olhou a filha, pouco convencida.

― Amiga? Qual amiga?

― A Pâmela.

― Pâmela?

― Minha amiga, Pâmela. Da qual eu já falei várias e várias vezes... Não se lembra? Eu tinha dito que ia dormir na casa dela.

Algo na memória da mulher, que observava ainda a menina sem dar tanta confiança às palavras conflituosas que ouvira, estalou. O nome Pâmela não lhe era estranho, embora fosse Pâmela uma completa estranha. Uma incógnita de amiga, por certo.

― Eu acho que lembro, sim. ― murmurou, assentindo de leve com a cabeça.

Clara parecia ansiosa.

― Então... é pra lá que estou indo. Pra casa da Pâmela.

Casa da Pâmela... algo naquela história não estava cheirando muito bem para as narinas de uma mãe altamente treinada. Por certo, algo nessa Pâmela parecia profundamente esquisito... algo nessa "amiga" tinha um quê bastante desconfiável. E o que era tudo aquilo, havia uma maneira de descobrir.

Só que Clara, apressada, achou que era aquele meio-papo e já podia ir embora.

― Ei, espera um pouco, mocinha. ― a mãe chamou-a, levantando-se do sofá para encarar a garota mais de perto. ― Deixa eu trocar uma palavrinha com essa Pâmela. Quero saber com quem você anda.

Algo em Clara parou.

Provavelmente, era só uma impressão, mas parecia que os olhos da menina tinham congelado ― os dedos firmes firmavam-se no ar, estáticos, conforme a garota encarava a mãe que a encarava, travada sem parecer saber reagir. Contudo, houve reação. E a reação rendeu resultados.

― Alô? ― falou uma voz feminina do outro lado da linha. Era uma voz de garota, a que a mulher ouvia. Não uma voz de garoto, que era o que ela esperava.

― Olá. É a Pâmela, quem fala? Eu sou a mãe da Clara. Estou ligando pra confirmar se minha filha combinou de ir dormir na sua casa hoje.

A garota do outro lado pareceu ter recebido a luz do entendimento.

― Ah, sim! Tá tudo combinado, sim. Não precisa se preocupar. A Clara falou que a senhora é meio coruja mesmo. Eu moro só a algumas quadras daí. É bem pertinho. Não tem nada pra se preocupar.

― Ah, que bom. ― disse a mulher, talvez um tanto envergonhada pela sua desconfiança. ― Fico feliz em saber disso.

Clara, meio emburrada, esperava sentada, forçando uma cara não feia e olhando ora o nada, ora o celular que sua mãe não demoraria a devolver para as suas mãos.

― Tudo bem, então. ― a mulher falou. ― A senhorita pode ir dormir na casa da sua amiga hoje.

A garota, porém, não comemorou.

― Eba! ― não comemorou muito, por certo. Só aquilo e um sorriso e mais um abraço e mais um beijo eram suficientes. É claro que ela também agradeceu à mãe, bem educada do jeito que sempre fora. A porta, porém, era seu principal objetivo no momento. A mulher no meio do caminho às vezes podia ser considerada um obstáculo. Mas era um obstáculo, aquele, muitas vezes fácil de se superar. Clara só precisava das palavras certas. ― Eu te amo, mãe. ― embora ela não precisasse mentir.

― Eu também te amo, querida. ― nem a outra mentiria sobre algo tão sério.

Só que Clara tinha mentido. Não iria para a casa de Pâmela coisa alguma, apesar de Pâmela ser sim uma amiga sua. A garota estava de encontro marcado com ele, a exceção. Algo tão sério quanto o que os dois tinham não seria interrompido por uma mãe controladora. O que aconteceria naquele dia, contudo, poderia por fim a algo tão sério quanto o amor. Os horrores da noite ainda aguardavam.

Finalmente, o monstro atacaria.

 Finalmente, o monstro atacaria

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