Aline passa por 5 horas de cirurgia

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Cumprimentei Jorge e o irmão da moça que estava ao lado dele,torcendo pra que o sangue dele fosse compatível com o da irmã, não queria perder uma paciente por algo que poderia ser resolvido com uma simples transfusão.

- A sua esposa foi operada e passa bem, mas o seu quadro ainda é instável já que ela precisa de uma transfusão sanguínea do tipo O- e é um tipo bastante raro, não possuímos nenhuma bolsa sequer em nosso estoque. - Encarei o irmão.

- Sem problemas.... Eu sou compatível e tenho uma conhecida que também é...  Se precisar, posso ligar para ela vir para cá. - Disse ao médico, olhei para Jorge que parecia em choque.

- O que aconteceu com a minha esposa, Por favor?... Me conte logo? - Pedi quase perdendo a fala, minhas pernas estavam tremendo e a palavra cirurgia me deixou em estado de choque, pensar em que podia ter perdido Aline me deixava em desespero.

- Bem, o que eu posso dizer é que foi um milagre! - Ele me encarou como se eu tivesse contado uma piada de mau-gosto. - Deixe-me explicar, sua esposa já foi submetida há uma histerectomia parcial onde foram removidos o seu útero e uma das tubas uterinas e ovário, provavelmente o resultado de uma gravidez ectópica, estou certo?

- É... - Eu e Alex respondemos juntos, continuamos a encarar o médico.

- Contrariando todas as expectativas, a sua esposa desenvolveu outra gravidez ectópica, o que é raríssimo, dessa vez o feto se desenvolveu no colo do útero, causando assim a hemorragia e um quadro leve de infecção urinária. Infelizmente, senhor Jorge Quintino, eu não posso lhe dar nenhuma garantia de que seu filho vá sobreviver, pelo tamanho ele deve ter aproximadamente 20 a 24 semanas, e possui apenas 28cm e pesa apenas 600 gramas. Ele foi encaminhado diretamente para a uti neonatal e colocado na incubadora. Infelizmente o senhor ainda não poderá vê-lo e essas próximas duas semanas serão cruciais para determinar se ele sobreviverá.

Olhei para Alex, senti o sangue do meu corpo se esvair levei a mão a cabeça e desabei no chão, não vi mais nada.

Fiz sinal para que uma enfermeira que passava naquele instante viesse prestar atendimento ao rapaz, no momento eu tinha que me preocupar com a sua esposa.

A enfermeira prostrou-se junto ao rapaz para atendê-lo e eu me voltei para o irmão da paciente.

- Pode me acompanhar, por favor! Quanto antes a sua irmã receber a transfusão, maiores são as suas chances de sobrevivência.

(Alex)
- Claro... Mas... e ele? - Perguntei apontando para o Jorge.

(Jorge)
Acordei sentindo um cheiro forte no meu nariz, me sentei e procurei pelo Médico e por Alex... Me colocaram sentado numa cadeira

(Otávio)
- Ele está em ótimas mãos sorri para Maria de Lourdes que aplicava as manobras de reanimação.

Alex me acompanhou e eu lhe expliquei como ocorreria o procedimento.

Para a nossa sorte ele não só era compatível como não tinha nenhum impedimento, então depois que foi efetuada a coleta, segui para o quarto da paciente no CTI, para efetuar o procedimento. Sorri ao olhar para ela que aos poucos retomava a cor e me perguntava como ela se sentiria quando soubesse que era mãe.

Eu só esperava que o destino fosse justo com ela e não lhe tirasse esse direito dessa vez.

Eu estava otimista quanto ao seu filho, era muito prematuro, mas não tinha nenhuma intercorrência que eliminasse as suas chances de sobrevida, e a incubadora funcionava quase que como um útero artificial.

Ele se desenvolveria e ficaria bem. Eu tinha esperanças.

Depois de efetuar o procedimento na paciente, deixei o seu quarto e voltei a sala de espera, com certeza o marido da moça, estava cheio de indagações e cabia a mim tirar todas elas.

O rapaz levantou-se de imediato assim que eu adentrei a sala.

- Como se sente, Jorge? - Eliminei as formalidades pra que ele se sentisse a vontade pra falar comigo.

(Jorge)
- Melhor... me ajuda a entender tudo isso!? E quando vou ver meu filho?

(Otávio)
- Como eu ja expliquei o seu filho foi colocado na incubadora, porque o seu desenvolvimento depende disso. E você poderá vê-lo em algumas horas, mas apenas pelo vidro da sala, ele é muito pequeno e frágil, então nos não podemos manuseá-lo ainda, mas eu estou muito otimista quanto ao seu quadro, apesar de muito prematuro,todos os seus sistemas estão devidamente formados. - Eu pus a mão em seu ombro com um sorriso. - O seu filho é um verdadeiro milagre! - Eu não me cansava de repetir aquilo.

(Jorge)
- Aline?... Posso ver minha mulher? - Pedi coçando a testa ainda tentando digerir aquela informação.

(Otávio)
- No momento não, sua mulher está no CTI,para estabilizar o quadro de hipovolemia, mas provavelmente em algumas horas, você poderá vê-la. Imagino que ela vá ficar muito surpresa ao saber que tem um filho. Estão casados há muito tempo? Tem outros filhos?

(Jorge)
- Estamos casados a um mês e meio... Não temos filhos e já fazíamos planos para adotar... - Sorri. - Mas a ideia ainda continua de pé, mas estou feliz de ter tido essa oportunidade e Aline também. - Olhei para Alex, voltei a chorar com um belo sorriso estampado no rosto. - Eu sentia a Aline triste por não poder gerar um filho, e olha isso, ela guardou tão bem o nosso bebê, que seu corpo foi egoísta não em nos mostrar ele. - Alex me abraçou e nós dois choramos juntos. - Obrigado dr. Otávio... Eu vou esperar para poder vê-la e ver o meu filho, não me importo que seja pelo vidro, eu só quero vê-lo.

(Otávio)
- Estarei aqui para o que precisar! E faço questão de avisar assim que a sua esposa puder receber visitas. Mais alguma dúvida?

(Alex)
- Obrigado Doutor, estamos aqui se precisar de nós. - Apertamos a mãos do médico e deixamos ele ir, já era tarde, olhei para Jorge que chorava e ria ao mesmo tempo. - Então!...Papai!?

(Jorge)
- Cara!... Eu sou pai! - Me inclinei para traz e ri alto. - Eu tenho um filho!... Não estou acreditando, onde será que a gente consegue ver ele... - Olhei para o Alex. - é um menino!... Um menino!

Eu e Alex procuramos por informações de como iriamos ver o meu menino, nos mandaram para o quinto andar, onde ficava o Neonatal, seguimos para lá, três bebês estavam internados, e um que mal vamos deveria ser o meu menino, juntei minhas mãos, fechei os olhos encostando a testa no vidro.

"Deus, meu pai,  Obrigado per essa benção, peço a ti que de forças para o meu filho resistir a tudo que vai passar nesses meses fora do ventre da minha esposa, obrigado por essa dadiva, obrigado por ter cuidado dele por nós enquanto não sabíamos que ele estava a caminho, ajude a minha esposa neste momento de recuperação e que eu possa levar os dois em segurança para o nosso lar"... Olhei para ele novamente... Sorri... Amém.

A enfermeira trouxe a incubadora para mais perto, eu e Alex nos olhamos, ele era pequeno demais, tão pequeno que cheguei a olhar a palma da minha mão para medir e realmente ele cabia na mão, era tão frágil, tão delicado, o medo se instalou no meu coração e de novo deixei as lágrimas escorrerem, eu tive medo de perde-lo.

- Ei!... Calma, se ele sobreviveu até chegar aqui, imagina se vai desistir da vida, seja forte e pensamento positivo, Jorge. - Disse para ele apertando seu ombro, passando coragem para o meu cunhado. - Vem!... Você está abalado demais e precisa de um café.

Concordei com ele, olhei para o meu filho.

- Papai já volta, não sai correndo, em!?

Alex riu do que eu falei, e seguimos para a cafeteria.



*[Hipovolemia- Baixo volume sanguíneo]*

 *  diminuição anormal do volume do sangue de um indivíduo.  

O Inquilino 2Onde histórias criam vida. Descubra agora