21 - O Colégio Santa Tereza de cabeça para baixo

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– Margot, acorda. Margot, Margot. Acorda. Só um pouquinho.

– Não... – a criança resmungou.

Depois se encolheu igual uma bolinha na cama de Mary.

Um observador desatento certamente não perceberia a presença clandestina na cama da ex-noviça. Mas não era por isso que Mary correria riscos. Aliás, ela tinha até montado uma rotina que visava evitar tais riscos.

E até então, estava funcionando que era uma maravilha.

Todo dia antes do sol nascer Mary levava Margot de volta para o quarto das crianças do mesmo modo sorrateiro em que ia buscá-la início da madrugada. Se alguma criança por eventualidade acordasse, Mary fingia que estava fazendo a ronda, embora aquela não fosse mais sua função.

Mas, se todas dormissem como os anjinhos que eram, tudo ficava muito mais simples.

Só o que Mary precisava de Margot era que a menina passasse seus bracinhos pelo seu pescoço para que ela pudesse transportar o peso da menina com mais rapidez e eficiência.

Era apenas isso que Mary pedia para Margot naquele momento. Ela nem precisava abrir os olhos se ela não quisesse. Podia abrir só a frestinha de um, só para não acertar o rosto de Mary enquanto jogava os braços em volta do seu pescoço.

Mas era imprescindível que ela colocasse os braços em volta do pescoço de Mary. Isso facilitava muito a locomoção.

– Por favor, meu amor... – Mary implorou, com um pouco mais de urgência.

Aquele era um dia atípico na rotina do Colégio, Mary não podia prever como as pessoas se comportariam diante de um evento tão especial.

A instituição nunca tinha sido palco de um casamento.

Todo mundo estava em polvorosa. Desde o dia anterior havia equipes de arrumação para todo o lado. Mary não fazia ideia de quando as equipes se materializariam de novo no terreno do Colégio, mas por via das dúvidas, deveria devolver Margot para o quarto dela o quanto antes.

Ela também estaria presente no casamento. Tinha sido convidada de última hora. Porém, como o casamento inteiro foi planejado de última hora, não pareceu tão estranho quando dois dias antes da cerimônia um convite com letras douradas e um papel bonito se materializou no criado-mudo ao lado da cama da criança.

Um convite igualzinho ao que tinha sido enviado para a própria Mary.

Ou melhor, Noviça Mary, conforme estava escrito nas letras douradas.

Ela precisava que as pessoas continuassem pensando nela nesses termos. Seria mais fácil do que narrar a saga da desistência e da volta, principalmente se a narração fosse dirigida a uma das meninas LaDonne, elas sabiam ser insistentes.

E acabariam minando sua decisão de voltar a ser noviça. Coisa que ela não estava disposta a reconsiderar, porque não tinha o menor propósito.

Gwen LaDonne estava se casando porque ela tinha dado com a língua nos dentes quando não devia.

Só Deus sabia o quanto aquela menina iria sofrer na mão do mulherengo mais cobiçado da Cidade. Ela era muito nova para enfrentar um casamento, pobre menina. Mary diariamente se sentia corroída pela culpa.

Mas aquela não era uma boa hora para ficar corrída.

As freiras encarregadas pelos cuidados das crianças provavelmente iriam acordar Margot cedo para se arrumar.

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⏰ Last updated: Jun 13, 2017 ⏰

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