Passei a noite inteira lendo poemas. O silêncio daquele casebre predominava a noite fria e nevosa. Depois de algumas horas lendo Clarice Lispector acabei pegando no sono e me esquecendo de fechar a porta o que iria fazer a claridade sobrelevar o cômodo.
Ao amanhecer, ouvi uma música alta vindo da sala, levantei-me e fui indo em direção a canção. Tocava A song about love do jake bugg, além de ter alguns traços parecido ao cantor, o suposto garoto mal educado também curtia as músicas do bugg.
Caminhei até a sala e me deparei com ele deitado no velho sofa encontrado no canto do casebre, com o som muito alto e seus olhos fechados, o garoto apreciava a musica, sentia o que ela transmitia enquanto liberava a fumaça do cigarro pela boca.
Fiquei durante um tempo o observando encostada na porta do quarto. Enquanto a musica tocava, ele largava um sorriso escondido em seus labios, parecia que aquela música
trazia lembranças boas e que o fazia muito bem.Depois de alguns minutos, ele abre os olhos e olha para mim o observando, e logo depois se indireita no sofa e larga um sorriso.
- Acho que me empolguei com o som - Ele diz apontando para a poltrona - Pode sentar se quiser.
Fui em direção a poltrona e ao sentar ela fez alguns barulhinhos e reclamações e era evidente que a qualquer momento ela iria se desmanchar.
- Você tem bom gosto musical - me direcionei a ele sorrindo.
Ele sorri e também se direciona a mim.
- Essa musica me lembra uma época em que minha vida era completamente diferente.
Eu imaginava que aquela canção tinha alguma acepção para ele.
- Eu percebi, parece ter um significado para você - Digo arrumando minha franja bagunçada.
Ele olha fixamente para o chão em silêncio e depois de alguns segundos ele suspira.
- Ela era tão linda, parecia que nunca iria me deixar. Era recíproco - Ele pausa e se direciona a mim - Eu a amava tanto.
Permaneci em silêncio, sabia que não deveria perguntar algo sobre essa pessoa pois não tínhamos intimidade para isso. Eu era uma estranha hospedada em sua moradia e ele, um garoto que morava sozinho no meio do nada que me aceitou em sua casa. Não tínhamos proximidade, não iria comentar sobre o assunto.
- Ela era o amor da minha vida - Ele quebra o silêncio - Você já sentiu essa ligação e afeto por alguém?
Eu continuo em silêncio com a cabeça inclinada para os meus pés, apoiando meu braço em minha perna e torcendo para que a poltrona não se desmanchasse. Balanço minha cabeça negando e permaneço na mesma posição sem dizer uma palavra.
- Você não é de falar muito - Ele diz sorrindo.
Eu deixo um sorriso escapar e então me conduzo a ele.
- Eu nunca passei por isso, não sei o que é amar, reciprocidade e viver um romance igual essas histórias clichês.
- Mas não é clichê - Ele me interrompe - Se você nunca amou e não teve alguém que lhe fizesse se sentir única - Ele altera seu tom de voz - Não chame os relacionamentos das outras pessoas de "romance clichê". Não foi assim, foi singular, foi amor.
Permaneci em silêncio, ele não gostou do que eu disse, ficou bravo e não era a minha intensão ofender ou criticar o sentimento dele, eu só me expressei errado. Não tinha o porquê exprobar.
- Não foi minha intensão - Digo na tentativa de me explicar - Eu não quis menosprezar o seu sentimento, eu apenas não soube me expressar.
Ele ficou em silêncio e saiu da sala sem dizer uma palavra.
Continuei ali naquela sala empoeirada, sentada em uma velha poltrona caindo aos pedaços com uma luz fraca que transcendia pela velha janela.A tarde inteira o garoto não apareceu, permaneceu dentro do quarto, trancado e sem fazer um barulho sequer. Fui a cozinha, peguei um pacote de biscoito que ele havia comprado, sentei no sofá e liguei o som. Talvez ele saísse de dentro daquele cômodo e brigasse comigo ou apenas ignorasse a minha existência naquela casa.
O som era alto, uma caixa de som potente e ligada a bateria, pensei em não usar para manter a carregada mas não consegui evitar, eu precisava fazer algo, precisava me esquentar, então liguei o som e coloquei Snap Out Of It do Arctic Monkeys e comecei a dançar.
A musica estava muito alta, dançava e rodopiava ao som de AM até observar que havia alguém me olhando dançar. Era o garoto, encostado na porta e rindo.
- Você dança muito bem - Ele diz sorrindo com os braços cruzados.
Ruborizo por alguns segundos e baixo o volume rapidamente, coloco o biscoito inteiro na boca e tento me explicar de boca cheia.
- Olha só - Me direciono a ele - Não é o que você está pensando.
Ele me olha da cabeça aos pés e então diz:
- Eu sei o que vi, você estava dancando.
Eu volto para a cozinha com o pacote de biscoito vazio e coloco no lixo.
- Eu não comi o seu biscoito.
Ele se aproxima de mim calmamente e então cochicha
- Pode ficar tranquila, eu não irei contar a ninguém sobre seus passinhos de dança e em relação a os biscoitos.
Eu sorrio de volta e então me afasto do sujeito.
- Então, você poderia ao menos me falar seu nome? - Ele pergunta.
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Arabella
RomanceSou uma mentirosa compulsiva, não tenho culpa se sou boa nisso, existe uma certa diferença entra a mentira e a personagem que crio para a população de Virgília. Por culpa de meu pai ser prefeito dessa cidade, tenho que ser algo que não sou. Me torno...