102 Delegacia

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Povs Lauren

A noite foi longuíssima para mim! Revirei durante toda ela sabendo que a mulher que eu amava estava ali, no quarto ao lado... Mas ainda não me saia da cabeça que ela havia passado a noite com a lucy e isso me deixava muito nervosa, e o que eu sentia por ela me dava o direito de ficar nervosa!

O dia amanheceu e eu fui acordar mila. Já estava na hora de levantarmos para visitar a primeira família. Tomamos café e fomos atrás do primeiro lugar.

Tivemos que ir para um dos bairros mais afastados e humildes da cidade. As casas eram muito simples e não tinham muros, mas cercas de madeira. Lembrei das reportagens que eu via na TV sobre a pobreza no nordeste de minas. Pareciam tão distantes de mim, mas agora me via ali... No meio de um monte de pessoas que pareciam simplesmente esquecidas pelo governo.

Identificamos uma plaquinha de madeira, com o número 390 indicavam que havíamos chegado na casa.

D - Senhora Rosário! – gritou enquanto batia palmas.

C - Será que ela vai conversar com a gente? Somos desconhecidas, mila!

Camz - Ela vai! Se ela prestou queixa, significa que ela espera que o caso seja resolvido! Estamos tentando ajudar nisso.

Nesse momento um rostinho curioso de criança apareceu na porta e ficou nos encarando.

- Cê quer falar com minha vó? – o menininho perguntou saindo detrás do batente.

C - É! Você pode chamar ela pra gente?

- Ô VÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓ! Tem duas muié chamando a senhora no portão! – olhamos uma pra outra e rimos.

Uma senhora de aparência sofrida veio até o portão.

- Posso ajudar ocês? – perguntou com um olhar desconfiado.

Camz - Oi. Meu nome é Karla Camila e essa é a Lauren Michelle. Nós viemos aqui por causa de um assunto delicado... É sobre o desaparecimento da sua filha.

- Ocês são da policia? Achou ela? – os olhos da senhora se encheram de lágrimas, que cortaram meu coração.

Camz - Não, dona Rosário... Infelizmente. Mas estamos tentando descobrir quem fez isso – eu disse com voz de pesar. – Poderíamos conversar sobre o acontecido?

Num balançar de cabeça a mulher abriu o portão e nós a acompanhamos para dentro da casa simples. Na sala, tinha apenas um sofá coberto com um lençol florido. Uma estante pequena, onde se via uma TV pequenininha. Parecia ser tudo muito pequeno, mas muito arrumado. Na estante, vários retratos envelhecidos. Reparei no de uma moça muito bonita, com um sorriso calmo segurando um menininho. O mesmo menininho que gritou a avó.

- O que ocês querem saber sobre minha fia?

Camz - Nós gostaríamos de saber o que aconteceu... Talvez possamos a ajudar a encontrar sua filha ou, pelo menos, o responsável pelo sumiço dela.

- Ela foi num forró na cidade e voltou com um cartão de um rapaz. Ela falou que ele era da capital, que era de uma agência de modelos e que tinha achado ela linda. Ela queria ir pra capital, arrumar um emprego e levar a gente pra lá. Ela falava que ia tirar nóis daqui, que ia dar uma vida melhor pra gente...

As lágrimas escorriam pelos olhos da senhora. Senti um nó na garganta, um aperto no peito que me fez apertar os punhos instintivamente. “Não acredito que ele pode fazer isso com uma família! Não pode ter alguém ruim o suficiente para isso!”.

– Ai, quando foi no outro dia, ela ligou pra ele... Ele veio aqui. Parecia um rapaz distinto, usava uma roupa chique, parecia um doutor. Ele disse que a Simone ia assinar um contrato pra fazer algumas viagens e que isso ia dar muito dinheiro, que ela iria aparecer na televisão e essas coisas, que iria poder dar uma vida boa pro Raimundo
– deduzi que era o menininho que vimos na porta. – Mas ele estava com pressa que ela aceitasse... E já veio com um monte de papéis pra gente e a Simone assinar. Ela tinha letra, mas não temos entendimento dessas coisas de contrato... Ela queria muito dar uma vida melhor pra nóis...

Ela enxugou as lágrimas que pareciam cair contra sua vontade.

– E então eles viajaram dois dias depois. Na primeira semana eu recebi uma ligação dela, dizendo que estava na capital e que era tudo grande demais e bonito demais... E que daqui uns tempos iria buscar a gente. Mas, depois disso, ela nunca mais ligou. Fui na polícia, mas eles disseram que não podiam fazer muita coisa sem nenhuma informação sobre o homem ou sobre pra onde ele iria levar ela.

A senhora já não segurava mais as lágrimas. Camila se sentou ao lado dela e segurou sua mão. Fui até o carro e peguei uma foto de Ricardo, que havíamos separado para mostrar a alguém da família para que pudessem reconhecer.

Laur - Dona Rosário... É esse o rapaz que veio aqui? – estendi a foto de Ricardo para ela que a pegou e balançou a cabeça afirmativamente.

- Sim!!! Foi ele! Mas ele não tinha essa barba ai não! – suas lágrimas haviam cessado. – Mas como ocês conhecem ele? Ele também levou alguém de ocês?

Laur - Não... Ele está ameaçando a gente. E precisamos de provas concretas para que possamos colocá-lo na prisão – falei, escolhendo cuidadosamente as palavras para que não assustasse a senhora.

Camz - Senhora Rosário, precisamos muito que a senhora vá até a delegacia com a gente e mostre essa foto para o delegado, como o homem que viu sua filha pela última vez, seria possível?

- O que eu puder fazer para tentar achar minha fia eu vou fazer! Vou só trocar a roupa do Raimundo.

Ficamos esperando na sala enquanto dona Rosário arrumava o garotinho. Eu podia perceber o quanto mila estava satisfeita por conseguirmos que dona Rosário fosse até a delegacia! Era um primeiro passo, mas um primeiro passo que significava um avanço e tanto.

Trocamos um breve olhar de satisfação, até que eu senti a mão de mila pousar sobre a minha. O olhar que era de satisfação havia se transformado em desejo.

Os dedos de mila pressionavam os meus... Nossos olhos estavam presos de tal forma que meu corpo já não respondia a nenhum estimulo exterior, até que o barulho de criança correndo a brincando nos trouxe de volta a realidade.

- Então vamos?

- Oba!!! Vamos andar de carro, vó?! – Raimundo correu até o carro empolgado.

- Ele é a única lembrança que eu tenho da minha fia...

Entramos no carro e partimos para a delegacia.

•Cᴀᴍʀᴇɴ• √ ᗩᗰOᑎᘜ ᑕᕼᗩᑎᑕᗴ Where stories live. Discover now