Fuga

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Senti a chuva e o vento frio no rosto me trás de volta a realidade, eu queria continuar andando pra não ter tempo de pensar no que eu deixei pra trás, mais eu não agüentava, minhas pernas simplesmente me levaram ao chão perto de uma arvore. E agora todas as imagens voltam lentamente a minha cabeça...

Lembro-me da noite em que eu tinha seis anos e que eles mataram meus pais, enquanto todo aquele sangue escorria pelo carpete claro eu sentia meu coração ser sugado junto com ele, senti meu pequeno corpo se desfalecer e depois me carregarem para dentro de uma van escura. Mais imagens de tudo que eu passei naquele laboratório estão voltando, como flashes de memórias que nunca se vão. Memórias são como o vento que sopram em meu ouvido. Eu queria esquecer... Queria esquecer como fui cortada, dopada e maltratada naquele lugar gelado e sem um pingo de humanidade, e a ironia maior e que diziam que tudo que estavam fazendo comigo eram pra salvar a humanidade.

Ventava tão forte, mais eu não sentia frio, meu corpo ainda estava quente depois de tudo que fiz essa noite. Correr pelos dutos de ventilação, correr contra cães raivosos, atirar em guardas e levar um corte no braço me deixaram com o sangue fervendo o suficiente pra me manter viva nessa noite tão fria, o sangue não parava de escorrer e eu estava ficando preocupada com a minha situação, mais precisava me preocupar em não ser encontrada, me arrastei para uma arvore mais distante da rua. Depois de algum tempo me mantendo viva a chuva parou, eu precisava continuar minha viagem o mais longe possível do laboratório. Coloquei o capuz, rasguei a manga da minha blusa e fiz compreensão contra o meu corte. A cada carro que eu sentia se aproximando, meu coração acelerava. Encontrei um posto de conveniência, e entrei no banheiro. Me olhar no espelho a essa altura só me fazia lembrar de tudo de horrível... Salas de espelhos que estilhaçavam em mim, eu sentia cada corte e veia sendo rasgada, mais no final da seção não passava de imagens na minha cabeça, eles testaram meu cérebro ate onde ele poderia ir, e eles se surpreenderam quando viram que eu poderia ir alem, quando percebi sabia que era a hora de fugir. Alguém batia na porta do banheiro e me tirou dos meus devaneios... Peguei a caixa de primeiros socorros, enfaixei meu braço, tomei um analgésico pra dor e prendi o cabelo,minha pele brilhava de suor e água, abri a porta e o sol já estava lá apontando fraco no meu rosto, olhei para o lado e vi um homem com regata mais amarelada de sujeira do que branca, com a barba sem fazer, ele ajeitou o boné e me encarou. Deixei a porta bater atrás de mim e passei por ele, ele segurou meu pulso e imediatamente meus instintos disseram para revidar, talvez eu seja um pouco paranóica com confiança. Olhei para ele de modo sujeitando raiva.

- Você esta bem menina? - ele me olhou de cima a baixo de um jeito que sugeria desconfiança.

Soltei meu punho de sua mão gorda, e continuei andando sem dizer nenhuma palavra. Olhei de um lado para o outro e não vi nada nem ninguém a não ser um caminhão, que provavelmente seria daquele homem no banheiro. Olhei de esguelha para trás e entrei no caminhão que para minha sorte estava com a chave na ignição. Eu não fazia a menor ídeia de como pilotar algo tão grande, mais esperava que fosse como carro, não que eu também soubesse mais penso que pode ser fácil como tal. Soltei a caçamba de trás para ficar mais leve e seguir viajem mais rápido. Olhei pelo retrovisor e vi o homem gritando e fazendo sinais com as mãos. Logo eu teria que abandonar aquele caminhão, ele alertaria aos policiais e a Cia e o FBI estaria atrás de mim. Minhas mãos tremulas me levaram a próxima cidade, que parecia densa de tanta fumaça das industrias. Deixei o caminhão um pouco antes da cidade, como se eu tivesse o batido contra uma arvore. Enquanto entrava na cidade cinzenta, procurei ficar mais perto das vielas e becos. Em uma das ruas mais pobres tinha um pequeno bar, com cartazes de shows, entrei e todos olharam cabisbaixo para mim, apenas homens e uma dançarina com mais rugas do que qualquer pessoas que já vi. Eu me aproximei mesmo sem dinheiro, olhei de um lado para o outro e vi um mapa, caminhei de vagar ate lá e olhei a cidade mais distante no mesmo continente que tinha. E a essa altura estava torcendo para o meu rosto não esta estampado em jornais ou TV. Todos me olhavam como se eu fosse uma ladra, ou qualquer coisa do tipo, e saber que provavelmente pensavam isso de mim me faz lembra de que eu já fui rica, já fui melhor. Mais eu não me vejo mais como aquela garotinha de anos atrás, eu me tornei alguém que não tem medo de matar o próximo. Antes que garçom se aproximasse peguei o mapa e sai correndo, ele tentou me alcançar mais eu sou mais rápida e ágil. Não me importei dessa vez de quem seria o carro que eu iria pegar, só importava que eu precisava fugir. Em um dos becos avistei um senhor com dificuldade para abrir o carro, eu não queria fazer nada de mal a ele, mais precisei me aproximar, toquei seu pulso com o batimento lento.

- O que você quer? – ele perguntou já assustado.

Olhei em seus olhos azuis como o céu, eu conseguia ver sua alma bondosa. – Sinto muito. – sussurrei. Eu não sei direito como fazia aquilo mais eu consegui fazer ele me dar as Chávez sem nenhum esforço, e como se eu tivesse o induzido a isso. E antes que eu partisse com seu carro azul ele ainda acenou e eu o agradeci em silencio.

Eu dirigi dia e noite, estava com fome, mais não sabia onde arranja dinheiro. Eu só esperava que na cidade eu conseguisse ter trabalho e um dinheiro. Talvez eu precisasse fugir pra sempre, mais qualquer coisa seria melhor do que me entregar, e eu não daria a eles o gostinho de terem meu sangue em suas mãos.

Em todos os testes que me faziam diziam que meu sangue era especial. Mais como uma pessoa comum e humana poderia ter um sangue e genes diferente da raça humana? Antes de fugir de lá, peguei minha pasta. Eu sou o numero 357 de testes. Nos papeis dizem que meus genes e anti-corpos se recuperam com mais rapidez que as outras pessoas, que eu tenho capacidade de fazer algo alem dos outros só ainda não sei como, meu sangue e a cura pra qualquer doença. Eu sei que agora soa como se eu fosse egoísta em deixar milhões morrerem, mais seria injusto eu sofrer e talvez morrer. Eu também sou uma vida e eu vou lutar pela minha.

Comentem se gostaram, pra eu saber se tenho leitores e continuar postando ☺️❤️

Prole ImortalWhere stories live. Discover now