Capítulo treze

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Ela acordou confusa. Um cheiro de mofo e umidade atingiu em cheio suas narinas, tentou levantar-se, porém percebeu que estava com as mãos amarradas para cima e os pés fortemente presos por o que parecia serem cordas de náilon. Sentia seus pulsos tocarem algo duro e gelado. Forçou os olhos na inútil tentativa de saber onde se encontrava. O lugar estava totalmente escuro.

Sua mente foi, aos poucos, relembrando o que havia acontecido e Elizabeth sentiu o pânico invadi-la por completo. Ela gritou com todas as suas forças. Depois, quando a garganta começou a doer ela chorou, um choro baixo e angustiado, chorava com a possibilidade de que seu esposo, o homem que amava, estava fazendo aquilo. Só não entendia qual a razão de ele não tê-la matado, não fazia sentido fazer aquilo quando ele podia ter tirado sua vida com facilidade. Afinal, eles moravam na mesma casa, dividiam a mesma cama e moravam em um lugar sem vizinhanças. Todas as circunstâncias eram favoráveis e, no entanto, Pedro fez toda aquela encenação de que acreditava nela, que a amava. Eles tiveram momentos bons de intimidade, cumplicidade, sorrisos... Seu passado parecia ter ficado, definitivamente, para trás.

Nada naquela situação fazia o menor sentido para ela.

Elizabeth continuava chorando quando ouviu um barulho na porta. Seu coração deu um salto. Finalmente ficaria cara a cara com seu algoz, ouviria sua voz. Ainda tinha esperança de que não fosse o seu Pedro. Morrer já era uma possibilidade cruel demais para ter que conviver enquanto ficasse naquele lugar, mas saber que quem tiraria sua vida seria uma pessoa que amava, uma pessoa com quem dividiu sua vida por três felizes anos, era muito pior. Era como morrer duas vezes.

A porta se abriu e uma fraca claridade invadiu o ambiente. Elizabeth percebeu que era noite e a claridade vinha de algum outro cômodo. A única coisa que conseguia ver era silhueta de um homem. A figura que, Elizabeth percebeu com uma ponta de esperança, não parecia ser Pedro, ficou um tempo significativo parada na porta, parecia relutante, indecisa, mas por fim, entrou. A pessoa se aproximou dela e colocou a boca próxima ao seu ouvido. Elizabeth prendeu a respiração.

- Seus gritos me acordaram, sabia? - cochicou e, agora Elizabeth tinha certeza, não era o Pedro. - Eu estava dormindo muito bem.

Elizabeth sabia que não devia falar nada. Seus instintos lhe diziam para ficar em silêncio. Palavras eram, absolutamente desnecessárias naquele momento e naquela situação. Porém ela falou, ela precisava perguntar:

- Quem... é... você? - Sua voz saiu hesitante por causa do medo que sentia e, ligeiramente, rouca devido a sessão de gritos há alguns minutos.

- Como assim, quem sou eu? - Ela sentiu o homem se afastar um pouco.  - Acho que você devia saber... - Parecia incrédulo, magoado e com raiva.Ele hesitou e em seguida se aproximou novamente dela, passou a lingua por toda a extensão de seu rosto e soprou em seu ouvido. - Quem sabe eu consiga refrescar sua memória!

Elizabeth sentiu seu corpo se retesar. Algo lhe dizia que ele, definitivamente, não estava com boas  intenções. Flashes de seu passado pipocaram em sua mente como fogos de artifício em noite de ano novo. As muitas lembranças passavam-se rapidamente uma sucedendo a outra. Grossas e quentes lágrimas desceram por suas faces, cairam em seu pescoço e escorreram para o chão ou para o quer que fosse o lugar em que se encontrava deitada.

- Por favor... - balbuciou sem esperança.

- Não! Não chore - Ele parecia perplexo, assustado. Ela sentiu quando ele começou a soltar suas mãos. Ele deitou sua cabeça em seu colo e começou a embalar como se ela fosse uma criança sendo colocada para dormir. - Não chore. - repetiu com exagerada suavidade na voz.

No entanto, Elizabeth chorou mais ainda. Ele a soltou bruscamente e ela sentiu uma pontada de dor quando sua cabeça bateu no chão.

- Desculpe. - Elizabeth se surpreendeu ao ouvir aquela palavra sair de seus lábios.

Ele colocou novamente a cabeça dela em seu colo. Mas dessa vez ficou acariciando seus cabelos. Elizabeth sentia o medo crescer a um nível insuportável. Ela começou a tremer. Sabia o que iria acontecer em seguida. Já havia passado por algo parecido.

- Eu vou te desculpar. - Ele agora passava a mão em seus seios. - Mas você terá que me recompensar.

Elizabeth teve uma forte sensação de Déjà vu e em seguida um nome veio a sua mente.

- Léo? - pronunciar aquele nome sacudiu ainda mais seu corpo com os tremores do medo. Por Deus que eu esteja enganada, pediu silenciosamente.

- Oh querida! Você lembrou!

Elizabeth não respondeu, mesmo que quisesse ou houvesse necessidade, sua voz não sairia. Sua garganta já dolorida agora tinha um nó que sufocava. Finalmente compreendeu a situação em sua mais crua e aterrorizante realidade. Léo queria repetir tudo o que viveu no passado e depois mata-la. Grande parte de seu ser estava apavorada e outra parte, quase imperceptível, ainda tinha capacidade de agradecer.

Talvez tivesse uma morte indolor. Precisava acreditar que morreria sem sofrer muito, apesar de saber quem era o homem que estava a sua frente e conhecer sua capacidade de torturar suas presas.

Aquela pequena e quase imperceptível parte, que era grata, tirou um sorriso, ainda que bizarro, de seus lábios. Não era Pedro, ela não tinha errado ao acreditar que ele era incapaz de fazer mau a alguém, principalmente a ela.

- Como você me encontrou? - Perguntou depois de muito esforço.

- shiii! - Ele colocou um dedo sobre seus lábios. - Não é hora de falar. Estava com muita saudade de você. E agora que, finalmente, lembrou de mim, quero relembrar os velhos tempos! - Ele parecia sorrir - Vou iluminar o ambiente. Você lembra das velas?

- Por favor, isso não! - Implorou.

- Não sente saudades de nossos momentos? Que decepção! Vou buscar as velas. Vamos nos divertir!

Ele saiu deixando Elizabeth sozinha. Mesmo em meio ao seu pânico ela percebeu com uma ponta de esperança que estava com as mãos livres. Sentou-se e começou a tirar as cordas que amarravam seus tornozelos. Sentiu alívio ao sentir que estava livre, seu corpo estava dolorido, seus músculos tensos, pensou que precisaria de uma boa massagem. Sorriu eufórica com aquele pensamento idiota. O que menos precisava naquele momento era de uma massagem. A porta estava aberta. Elizabeth saiu.

Ela se deparou com um estreito corredor que só tinha uma saída, sua esperança diminuiu. Não haviam janelas, não era um corredor com cômodos dos dois lados. Do lado direito tinha uma parede e do lado esquerdo o quarto em que tinha sido colocada.

Elizabeth arriscou. Caminhou com passos leves, deparou-se com uma sala totalmente iluminada por velas. Não havia sinal de presença humana na sala. Elizabeth prendeu a respiração. Uma porta escancarada parecia a saída. Estava tudo fácil demais, pensou. Porém não custava tentar.

Ela saiu. Constatou, sem nenhuma surpresa, que estava em um lugar completamente deserto.

A lua redonda e grande brilhava no céu e as estrelas pareciam brigar por espaço. A noite estava linda. Tudo parecia, assustadoramente, tranquilo e normal.

Elizabeth aspirou o ar da noite e preparou-se para correr.

Não chegou sequer a dá o primeiro passo e sentiu as temidas mãos segurar sua cintura.

- Querendo fugir? - Léo soltou uma sonora risada. - Isso foi apenas um teste e você falhou, como eu imaginei. Continua a mesma mulher de antes, burra, estúpida e previsível. Ficará amarrada todo o tempo a partir de agora.

Ele a arrastou de volta para dentro de casa e o resto da noite se tornou um pesadelo que parecia não ter fim.

O que eu não te contei ( Em Processo de Revisão )Where stories live. Discover now