Capítulo trinta e oito

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Augusto olhava para o filho e tentava não sentir culpa. Havia prometido a si mesmo que nunca mais permitiria que sua mente navegasse nas escuras águas desse sentimento tão devastador.

Ele sabia as consequências de se permitir flertar com algo capaz de destruir as fortalezas de qualquer pessoa. Afinal, foi, principalmente, por não se perdoar e carregar dentro de si uma culpa constante que ele havia destrancado a porta de sua vida para a maldita dependência do álcool.

Qualquer vício, não faz bem. Se até algo bom pode se tornar maléfico quando em excesso, imagine uma coisa que já é prejudicial.

Mas aquilo tinha que terminar, precisava se libertar, de uma forma ou de outra.

Augusto decidiu que tinha acabado de sair de sua última internação. Se voltasse a beber, estouraria seus miolos com um tiro. Pois, já podia se considerar um homem, completamente, inútil.

Talvez ele precisasse apenas se redimir. Fazer algo que lhe mostrasse que era digno, que ainda era útil. Augusto acreditava que, de certa forma, a utilidade dá um sentido muito especial para a vida.

Estava tendo mais uma chance de fazer a coisa certa, de reparar alguns erros. Não podia desperdiçá-la.

Além do mais, parecia que, dessa vez, não teria a interferência de Nereide. Ele sempre agiu como um cachorro acuado diante das vontades daquela mulher e tinha vergonha só de lembrar. Mas, no momento não queria pensar nisso.

O passado já era, o agora era o que, realmente, importava, afinal ele é chamado de presente. Para Augusto era mais que um simples presente. O fato de estar ali, diante de seu filho, de saber que Pedro ainda o amava, era uma dádiva.

Só esperava que, a criatura maldita, que um dia ele ele teve o desprazer de desposar, tivesse ido para o quinto dos infernos. Não queria, nunca mais, ter que olhar para a cara dela novamente. Era pedir demais? Achava que sim, ele não merecia uma graça dessa. Mas, não era por ele que desejava algo assim, era por Pedro.

- Que péssima mãe eu te dei, filho!... - Ele esboçou um sorriso triste. Estava sentado ao lado da cama de Pedro. Continuou seu monólogo.- Eu era um jovem idiota, quando casei com ela. Você sabe não é?... ora essa, o que estou dizendo? é claro que você não sabe... nunca foi idiota igual ao pai... nem um monstro igual a mãe. A quem você puxou filho? Como conseguiu ser esse homem? Como não enlouqueceu?...

Augusto segurou a mão de Pedro que dormia, completamente alheio a tudo. Não conseguiu segurar as lágrimas que em alguns segundo banharam suas faces. Ainda era humano, afinal.

Ali estava o seu filho, uma pálida figura do homem forte que era antes de toda aquela situação.

Augusto imaginou, agora com horror crescente, o que Nereide devia ter falado para Pedro durante os momentos que esteve ali, ao lado do leito do filho. Sim, ela devia ter dito coisas horríveis. Aquela criatura nunca perderia a oportunidade de externar o mal que havia em sua alma podre.

Sua dor pareceu quase palpável quando se colocou no lugar de Pedro. Maldita hora em que não foi embora com o filho assim que este nasceu. Devia ter ido para longe, ele podia ter feito isso, não podia? É claro que sim. Porém, não o fez e as coisas chegaram a atual situação.

Estava imerso em pensamentos de autocomiseração quando a porta se abriu. Ele olhou naquela direção e quase não acreditou no que seus olhos estavam vendo.




O que eu não te contei ( Em Processo de Revisão )Where stories live. Discover now