capítulo final

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— Não acho que seja a coisa certa a fazer —  Pedro fala enquanto escova os dentes ao lado de Elizabeth. Ele pausa a escovação e a encara — Esquece tudo isso... quero dizer, acha mesmo necessário ler aquela carta de despedida que o psicopata do Léo deixou? Não sei onde eu estava com a cabeça que não a rasguei.

Elizabeth termina de escovar os dentes e encara o esposo. Ele está impaciente, nervoso. Ela deposita um beijo em seus lábios e lhe sorri carinhosamente. Sabe que ele se preocupa com seu bem estar, mas também se sente culpado pela carta ter chegado em suas mãos.

—  Não se preocupe querido! — Ela lhe tranquiliza enquanto o enlaça pelo pescoço — Léo já me machucou de tantas formas possíveis não é agora, depois de morto, que conseguirá me destruir. Eu quero sim, ler a carta. Se ela chegou até mim, era para ser lida. Não era?

— Não sei... mas você quer... — ele dá um suspiro de resignação e beija Elizabeth no topo da cabeça — Então, vamos lá!

Elizabeth apenas sorri em aquiescência.

Minutos depois, já acomodada no sofá da sala, enquanto espera o esposo  preparar duas xícaras de chá, ela se permite pensar na mulher que havia tirado a vida de Léo.

Era triste que tivesse terminado daquela forma, não por ele, mas por ela, pela esposa do policial. A mulher parecia ser uma boa pessoa, uma enfermeira dedicada, uma cidadã exemplar com um casamento maravilhoso, mas que não conseguiu se conter diante de uma criatura como ele. E agora ela estava pagando por ter matado um monstro. Não parecia justo. Até na hora de morrer Léo  havia semeado a maldade.

Pedro não entrou em detalhes ao entregar a carta que a mulher do policial deixou com o esposo, que posteriormente entregou a Gustavo. Elizabeth nem mesmo conseguiu acreditar que Pedro tinha levado a carta até ela, ele poderia, realmente, ter rasgado como lhe falou, era nítido que não queria que ela lesse.

Por outro lado, sabia que o esposo, assim como ela, estava curioso, e mesmo que Léo tivesse praticado tantas maldades, era quase impossível não querer saber o conteúdo da carta que foi escrita momentos antes de sua morte.

Teria ele se arrependido? Era uma carta de remissão? Ou apenas palavras odiosas de um coração incapaz de se arrepender? Incapaz de reconhecer seus erros? E por qual razão ele destinou aquela carta a ela?

Elizabeth se fazia essas perguntas quando Pedro adentrou na sala com duas xícaras fumegantes nas mãos.  Ele lhe entregou uma, sentou-se ao seu lado, pegou a carta e sem falar nada começou a ler.

                             📄📄📄

A carta de Léo

Olá minha querida Elizabeth!

Nesse momento, momento em que você está aí, lendo essa carta, eu já não estarei aqui, entre os vivos.

De todas as coisas que posso te pedir, uma delas é que que não comemore minha morte, apesar de no fundo, eu saber que não o fará. Você é boa demais para comemorar a morte de alguém, mesmo que esse alguém seja eu.

Quero dizer que lamento muito por você. Sua bondade, esse sentimento inútil que você insiste em cultivar nunca vai te deixar ser feliz, nunca vai te permitir viver de fato, você nunca vai experimentar as melhores coisas que a vida tem a oferecer. A bondade limita muito, você não acha?

Eu sei, você vai achar isso insano, coisa de gente perturbada, vai sempre achar que sou um monstro, o que, confesso, me deixa um pouco triste.

Na prisão havia uma psicóloga, sabe, ela achava que eu tinha concerto, achava que podia me curar, como se eu fosse um doente, veja você! Eu saiba que ela estava errada, mas não tentava fazer com que entendesse isso. Eu não me importava com aquela mulher, nem com o que ela pensava a meu respeito. Mas, com você era diferente, eu sempre quis que me amasse. Que me entendesse  e sentisse por mim o mesmo amor que lhe dediquei. Que admirasse quem eu era.

O que eu não te contei ( Em Processo de Revisão )Onde histórias criam vida. Descubra agora