Capítulo quarenta e nove

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Elizabeth deixava a água cair em seu corpo, esperava que o líquido quente e relaxante suavizasse sua dor. Um banho sempre a ajudava a melhorar, era quase uma terapia.

Porém, apesar de se sentir mais calma, a vontade de chorar persistia.

Seus pais estavam vivos! Aquela informação era muito preciosa para ser ignorada de uma hora para outra.

As palavras que leu, minutos atrás, ecoavam em sua mente não permitindo que pensasse com coerência.

O que Carlos pensava quando escreveu aquela carta? Se não podia vê-los, qual o propósito em saber que estavam vivos? Ela preferia não saber de nada. Apesar de ainda doer, ela já tinha se conformado com a ausência deles.

Era muito melhor acreditar na mentira do que em uma verdade que só iria lhe deixar pior do que já estava. Queria não pensar assim, aquilo parecia um egoísmo tremendo sua parte, queria ficar feliz por saber que seus pais estavam bem, porém não conseguia controlar e sentia-se horrível por isso.

Aos poucos a tristeza ia cedendo lugar a outro sentimento. Uma espécie de raiva começava a tomar forma dentro dela.

Seu pai disse que, talvez, não desejava vê-la e ainda dizia que sabia tudo o que ela tinha vivido. Sabia até onde ela se encontrava e não desejava vê-la? Que espécie de pai fazia aquilo? Como ele tinha a capacidade de machuca-lá daquela forma e ainda terminar a carta falando em amor?

Com amor? Era isso mesmo que ele havia escrito no final?

Quantas noites chorou sozinha, enquanto pensava neles? Quantas vezes, quando um homem desconhecido lhe tocava, ela, mesmo com nojo, suportava a humilhação por ter a ilusão de que era para que seus pais ficassem bem?

Então não merecia, no mínimo, uma explicação? Um abraço apertado? Um, senti saudades? Aquilo não podia ser real.

Sempre achou que seu Carlos era um homem que não sabia expressar seus sentimentos, mas, mesmo assim, sempre a tratou bem. E agora, depois de tantos anos longe um do outro, ele só escrevia uma carta?

E o que dizer de sua mãe, Fátima? Será que ela sabia das mesmas coisas que Carlos? Estava de acordo com aquela carta?

Perguntas e mais perguntas. Então sua vida se resumia nisso? Em perguntas sem reposta?

Elizabeth ficou algum tempo como que em transe, era tudo tão difícil. Parecia sempre estar em uma montanha russa de emoções.

- Querida?... - uma voz agradável a chamou do outro lado da porta. Então ela lembrou que não estava sozinha. Ester, a dona da pousada, a esperava - Aconteceu alguma coisa? - A mulher perguntou com preocupação na voz.

Relutantemente ela desligou o chuveiro e se enrolou no roupão. Sim, ela já devia ter saído do banho, em dias normais, o seu normal, ela não costumava passar tanto tempo no banho. Era contra o desperdício de água. Mas, aquele, definitivamente, não era um dia normal.

- Estou bem! - Respondeu - já vou sair.

Porém ainda demorou um pouco, não de maneira proposital, não tinha a intenção de fugir de Ester, queria se recompor o máximo possível.

Só não imaginava que quando saísse viveria mais uma emoção. Aquele dia parecia cheio de surpresa.

Ela havia acabado de vestir sua roupa e tentava comer alguma coisa. Ester tinha lhe trago uma farta bandeja de café da manhã e agora a incentivava a provar nem que fosse um pouco de cada alimento que estava na bandeja.

Não entendia a razão pela qual aquela mulher se importava tanto com ela, sem falar na atitude que teve a primeira vez que lhe viu. Era estranho, porém agradável.

Elizabeth estava mordendo uma tapioca recheada quando aconteceu.

A porta se abriu e Cíntia entrou.

Ester estava de costa para a porta e não fez questão de se virar a fim de ver quem havia entrado. Parecia bem mais interessada em continuar olhando para Elizabeth. Parecia admirada e feliz.

- E então?... - Cíntia começou enquanto se aproximava - Você abriu o envelo...

Foi então que viu o rosto de Ester.

Cíntia paralisou, ficou completamente muda. Elizabeth percebeu que ela começou a tremer, o sangue fugiu de seus lábios e duas lágrimas rolaram por seu rosto.

O que eu não te contei ( Em Processo de Revisão )Where stories live. Discover now