2.

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A sala de espera do escritório de imigração era um daqueles lugares que Harvey odiava. Primeiro parecia que não existia nenhum tipo de ventilação naquele lugar, e para melhorar aquela sala estava tão cheia quanto shoppings em época de liquidação. O que dava aquela atmosfera de calor humano. E Harvey podia afirmar o quanto odiava calor humano. Pelo menos naquele cenário.

Já fazia 40 minutos que eles estavam sentados naquelas cadeiras desconfortáveis, esperando pelo agente de imigração poder atende-los. A impaciência de Harvey podia ser notada á metros. Enquanto Donna transparecia ser a pessoa mais calma dentro daquela sala.
A verdade, era que ela estava tão nervosa quanto Harvey. Ele, pela impaciência. Ela, pelo fato de que desde que havia sentado ali, ficou se questionando se estava fazendo a coisa certa.

Ela queria muito ajudar Harvey e quanto a isso não restavam dúvidas. A questão era: ela estava mesmo preparada para mentir pra um agente do governo, apenas para que Harvey pudesse continuar no país? Aquilo era loucura. Era ilegal. E naquele momento ela não tinha mais certeza de nada.

Donna estava repassando na sua cabeça pela décima vez o porquê de estar fazendo aquilo, quando foi chamada a atenção por um homem que vestia um terno barato e chamava pelo "Sr. Specter". Harvey sinalizou dizendo que era ele e o homem pediu para que eles o acompanhassem.

Ao entrar em uma sala, que mais um pouco conseguiria ser menor que os cubículos dos estagiários da Pearson Hardman, eles sentaram nas cadeiras localizadas em frente a mesa do agente. Que se apresentou como Peter Hunt, sentando em frente á eles no outro lado da mesa.

- Desculpe a demora Sr. Specter, hoje tem sido um dia ocupado. - soava educado mas sustentava uma expressão séria em seu rosto, que mostrava que ele não estava ali para facilitar as coisas. O que deixou Donna um pouco mais nervosa.

- Tudo bem. Eu agradeço pelo senhor ter aceitado nos ver em tão pouco tempo. - Harvey pronunciava as palavras tão educadamente que Donna sentiu vontade de rir.

- Nenhum problema. - afirmou. - E a senhorita é... - disse voltando sua atenção para Donna, enquanto buscava pelo nome dela entre os documentos.

- Donna Paulsen. - ela o ajudou.

- Certo. - lhe ofereceu um sorriso. - Então... No que posso ajudá-los?

Harvey limpou a garganta tentando não parecer nervoso. - Eu preciso dar entrada em um visto de noivo.

- Claro. - Peter afirmou com a cabeça, inclinando-se para frente e apoiando os braços em sua mesa. - Eu só preciso fazer uma pergunta. - sorriu.

Donna respirou fundo.

- Vocês estão cometendo fraude para que Harvey possa escapar de ser deportado e possa manter seu cargo de advogado na Pearson Hardman?

O coração de Donna começou a bater de uma forma tão rápida, que ela nem sabia que era possível. Ela ficou imaginando se Peter já sabia do plano deles e só estava ali para que ela fosse presa em flagrante. Tentou de todas as formas possíveis, não transparecer seu nervosismo. Agradeceu á Deus por suas aulas de teatro.

Harvey riu como se tivesse ouvido a melhor piada de sua vida. - Isso é ridículo. Da onde o senhor tirou um absurdo desses?

- Eu recebi uma ligação esta manhã de seu colega, Louis Litt. - Harvey engoliu em seco. Ele iria matar aquele idiota do Louis. - Ele me disse que tinha dúvidas sobre a veracidade da relação de vocês dois.

- Sr. Hunt. - sorriu. - O senhor precisa saber que o Sr. Litt me odeia. E para ele é muito vantajoso que eu seja demitido e vá para bem longe. Isso não passa de uma tentativa de roubar meus clientes para ele. Eu lhe garanto que minha relação com Donna, é real. Não é querida? - Perguntou se virando em direção á ela e repousando uma de suas mãos sob a dela.

- É claro, amor! - confirmou direcionando um sorriso para Harvey.

- Então já que está tudo esclarecido. - Harvey voltou sua atenção para Peter. - O senhor pode nos direcionar para o próximo passo e nós o deixaremos em paz.

Peter riu da falsa ingenuidade de Harvey. Ele sabia que não seria tão fácil assim. Peter deu uma olhada em sua pasta e então voltou sua atenção novamente para o casal. - Bem... As coisas acontecerão da seguinte forma: primeiro, terá uma entrevista. Eu colocarei cada um em uma sala, e então irei perguntar á vocês cada mínima pergunta que um verdadeiro casal saberia sobre um ao outro. Depois, eu serei ainda mais cauteloso. Irei olhar seus registros telefônicos, irei falar com seus vizinhos e seus colegas de trabalho. Se as respostas de vocês não combinarem em cada detalhe. Você, será deportado imediatamente. - disse em direção á Harvey, e então se direcionou á Donna. - e você, senhorita Paulsen. Terá cometido um crime com punição de 250 mil reais em multa e ainda passará 5 anos em uma prisão federal.

Donna conseguia ouvir seu cérebro gritando "corre" e sentir suas pernas desesperadas em obedecê-lo. Olhou para Harvey e sentiu um certo alívio. Se ela o conhecia tão bem quanto imaginava, ele estava tão nervoso quanto ela.

- Então, senhorita Paulsen. - continuou Peter. - Tem algo que você queira me dizer?

Donna respirou fundo resgatando todos os seus últimos respingos de coragem. - Tudo o que eu tenho a dizer é que; eu e Harvey temos uma longa história juntos e finalmente aceitamos o amor que sentimos um pelo outro... - olhou para Harvey, segurando a mão dele. - Nós queremos nos casar mais do que qualquer coisa. - Harvey sorriu em direção á ela. Ele não tinha palavras o suficiente para agradecer o que ela estava fazendo por ele. - Eu pedi para que Harvey mantivesse nossa relação em segredo, por eu ser secretária dele. Não queria se rotulada como interesseira. Eu estou prestes a receber um bom aumento, então o senhor sabe como é... - Harvey olhou para ela um pouco confuso. Ele não lembrava sobre um aumento no acordo deles.

- E os pais de vocês. Eles sabem desse romance secreto?

- Meus pais ja faleceram. - Informou Harvey. - Mas iremos contar aos pais dela nesse final de semana. É aniversário de casamento deles. 30 anos. - ele sustentava um sorriso de orgulho em seu rosto. - Viajaremos para Oklahoma.

- E ficarão lá por quanto tempo?

- 5 dias. Iremos na quarta e voltaremos no domingo. - Donna se apressou em responder.

- Nesse caso, eu vejo vocês para a entrevista na terça-feira. E lembrem-se, se as respostas não combinarem... - ele mantinha o dedo indicador apontado para o casal em sinal de alerta. Harvey rolou os olhos e Donna apenas concordou em um gesto.

- Obrigada pela atenção Sr. Hunt. Nos vemos na terça. - Disse Donna ao sair da sala.

***

- Sabe Donna, eu não lembro de ter concordado com nenhum aumento em nosso acordo. - Disse Harvey após eles deixarem o prédio. - Inclusive, o que eu lembro era que eu te daria 2 dias de folga, e não 4.

Donna se aproximou dele, o encarando com um semblante de raiva. - Eu acabei de ter um agente do governo me encarando e me ameaçando de prisão. E tudo isso porque eu aceitei ajudar o "senhor intocável" aí. - se referiu á Harvey, fazendo o mesmo engolir em seco. - Então Harvey Specter, você pode ter certeza absoluta que eu vou me aproveitar desta situação de todas as formas possíveis. Estamos entendidos?

Se ela fosse qualquer outra pessoa, Harvey nunca permitiria que ela falasse daquela maneira com ele. Mas ela era sua amiga e mais do que isso, era uma pessoa que não tinha nenhuma obrigação de estar fazendo aquilo por ele. E por mais que ela achasse que não, ele tinha a absoluta noção daquilo. Tudo o que ela estava fazendo era pelos anos de amizade deles e depois do que havia acontecido naquela sala, ela tinha total razão de estar enfurecida. Então tudo o que ele fez, foi acenar em concordância e seguir o caminho deles em silêncio.

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