Nova semana

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Na segunda entramos na Lehtos ainda não são 08:00. Hoje tenho as entrevistas para minha assistente. Subimos ao nosso andar e vou em direção á minha sala. Alguém já deixou os curriculos na minha secretária e eu começo a vê-los. Apetecia-me tanto um expresso mas tenho medo que possa fazer mal aos meus bebés. Li em algum lado que a cafeína não é muito bom. Uma das secretárias de outro sector vem me ajudar hoje. Batem á porta e ela avisa-me que as candidatas já começaram a chegar e eu peço para as começar a deixar entrar. Já sei que vou passar umas boas horas aqui.

As 4 primeiras candidatas foram descartadas de caras. Para além das roupas demasiado curtas e justas, não esconderam a decepção de ser comigo que trabalhariam e não com o meu marido. Realmente o que esta gente pensa. Entrevistei mais algumas até que entra a ultima, finalmente. Esta ultima é uma menina, tem 18 anos e pouca experiência, não vem com a aparência das outras, a roupa que trás está ligeiramente gasta e tem um ar cansado.

- Bom dia.- diz educadamente quando entra, eu aperto a sua mão e peço para ela se sentar.

- Bom dia Anne, eu sou Ana, a Vice Presidente da empresa. Podia me dizer a sua idade?

- Tenho 18 anos Dra.

- E não tem experiência como secretária? Sabe que este emprego é para minha secretária.

- Não sabia dra. Eu só preciso de emprego. Se não der para ser de secretária aceito qualquer coisa, eu preciso mesmo é de trabalhar.- diz com lágrimas nos olhos. Senti compaixão dela.

- Fale-me um pouco de si.-digo e peço ao Markus para vir á minha sala.- Espero que não se importe que o Dr Lehto esteja aqui.

- Não dra. - Ouço baterem á porta e peço para entrarem.

- Chamou Dra?- diz o Markus

- Sim dr. Sente-se por favor.- Passo-lhe o curriculo da Anne- Então Anne, fale-me de si.

- Sim dra.- diz envergonhada.- Tenho 18 anos, a experiência que tenho realmente não é muita. Trabalhei num escritório mas nas limpezas até á 3 meses atrás.- vejo lágrimas nos seus olhos- Mas eu faço qualquer coisa dra, eu aprendo rápido, só preciso de uma oportunidade.

- E porque saiu desse escritório Anne?- Pergunta Markus. Ela cora e vejo que vai chorar

- Preferia não falar disso Dr. Se calhar foi má ideia vir, peço desculpa por ter tomado o vosso tempo.- diz levantando-se. Markus estica a mão para lhe pedir para sentar e ela encolhe-se.

- Anne, - digo eu- sente-se por favor. Pode falar á vontade- estou a começar a ficar apreensiva com esta menina. Levanto-me e sento-me ao lado dela- Diga-me querida, o que se passa?- Ela começa a chorar e eu peço para me trazerem 2  águas. As águas chegam e eu entrego-lhe uma. O Markus olha para mim e sai com o curriculo dela na mão.- Pode confiar em mim, o que se passa?

- Tenho medo Dra. É melhor mesmo eu ir.

- Anne, eu não a posso prender aqui, mas gostaria de a ajudar. Diga-me o que se passa.

- Tudo bem, mas por favor, não conte a ninguém. 

- Não se importa que o Markus esteja aqui? Além dele ser o presidente aqui ele é meu marido. Nada daquilo que nos disser sai daqui. Posso chamá-lo?

- Acho que sim.- Chamei-o e ele voltou a entrar.- Eu tenho um bebé com 22 meses, então comecei a trabalhar nas limpezas para nos sustentar. Só que o meu patrão um dia pediu-me para ficar até mais tarde para limpar a sala depois de uma reunião e antes da reunião acabar ele e mais 2 sócios tentaram-me agarrar e eu fugi de lá. 

- Onde está o seu filho?

- Com uma senhora que nos deixa ficar na sua garagem. Ela não se importou de ficar com ele esta manhã.

- E o que tens feito desde que saiste desse emprego? Como tens vivido?- pergunto emocionada

- Vou apanhando latas e garrafas que os turistas deitam no chão e trocos pelos vales de reciclagem.- diz muito envergonhada

- E a tua família? O pai do teu filho?- ela olha-me assustada- Para te poder ajudar preciso que me contes tudo.

- É o meu padrasto. Ele forçou-me e a minha mãe quando soube que eu estava grávida dele pôs-me na rua.- Eu dou um soluço e levanto-me indo em direção á porta. O Markus sai atrás de mim.

- Ana, isto não te faz bem. Tens de te acalmar.

- Markus, ela é so uma criança. Tem 18 anos. 

- Eu sei. Eu já pedi para me fazerem um relatório dela. - O telemóvel dele toca e ele atende. Depois de falar durante uns 2 ou 3 minutos desliga a chamada  e diz-me- Já tenho a informação. Confirma-se tudo, menos o nome do pai do filho dela, vamos ajudá-la. Queres que ela fique aqui na empresa contigo ou que lhe arranje qualquer coisa em casa? Podia ajudar a Minna e ficar na casa do Iary, ou fica aqui contigo e fica na tua casa, o que preferes? Ela tem pouca experiência mas pode aprender.- Eu abraço o Markus. Este homem não existe.

- Vamos lhe perguntar.- Entramos na sala e ela continua sentada e com a cabeça baixa.

- Anne,- diz o Markus.- peço desculpa por tê-lo feito mas o meu pessoal tirou a tua ficha e confirmou o que nos disseste. Temos 2 propostas para ti, escolhes 1. -Ela olha sério para nós.- A primeira, vais para nossa casa, como empregada de limpeza, temos lá 1 casa para funcionários livre e ficas lá com o teu filho. Segunda, Ficas como secretária da Ana, ficas na casa dela aqui perto e o teu filho pode ficar aqui na creche durante o expediente. Claro que terás formação para isso. Em qualquer uma das opções só exigimos uma coisa. Lealdade. Qual das 2 opções preferes?- Ela começa a chorar e ajoelha-se aos meus pés.

- Muito obrigado dra, muito obrigado. Obrigado - vira-se para o Markus e beija-lhe as mãos.- Obrigado Dr. Obrigado- Ele pego-lhe nas mãos e faz ela sentar-se

- Anne , Por favor senta-te. Queres ficar aqui como secretária da Ana?- Ela assente com a cabeça. - Então, vamos buscar o teu filho e as tuas coisas, vamos almoçar e levar as coisas a casa da Ana e amanhã começas aqui ás 08:00, pode ser?

- Sim dr. Eu prometo que farei tudo certo, eu prometo. Eu prometo não os desiludir.

Saimos da sala e Markus ligou para a Minna, pediu para que um dos seguranças a trouxesse até ao sitio onde iriamos almoçar e fomos buscar as coisas da Anne. Ela tem um menino lindo e a sra com quem eles estavam ficou muito satisfeita de se livrar deles. Segundo ela estava farta de os ter no quintal. A Anne pegou em 3 sacos de plástico e disse ser as coisas deles. Eu só me apetecia chorar. Como alguém pôde fazer isto a uma menina. O pequeno Vesa, ao contrário da mãe que está excessivamente magra e com semblante triste, é um menino muito gordinho e risonho. Assim que vê a mãe os olhos até brilham. Seguimos para um pequeno restaurante e Anne fica apreensiva. 

- Eu não posso, não tenho dinheiro para comer aqui...

- Não te preocupes,- digo eu- somos nós que pagamos.

E assim entramos no restaurante para, segundo me parece, a primeira refeição em dias da Anne.

Paixão em HelsinquiaOnde histórias criam vida. Descubra agora