Do outro lado, a flecha não acertou o alvo. Mas o padre ia perder os sentidos. Seus pensamentos estavam se cobrindo de um véu ou virando nuvens, como se ele estivesse na entrada do paraíso. Entrar no paraíso devia ser assim, uma ausência de pensamentos.
Como podia ser assim? Os índios é que não tinham pensamento! Como o paraíso poderia cheirar insuportavelmente a vômito e carne podre?
A chuva cai em gotas pesadas. Alguns mortos começam a se levantar. A madrugada vem descendo sobre eles junto com a tempestade. A vida do padre se encerra logo após proferir suas últimas palavras do breve sermão para os degenerados.
- Que ninguém conteste sem morrer: esta terra é nossa empresa. Nós somos os corpos místicos e nossa missão é levar a boa-nova. Cristão de todo o mundo, eu vou convoco a pregar a partir de uma pedagogia sem erros: está aberta a escola do medo!
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Corpos Místicos
Historical FictionNo ano de 1553, uma aldeia indígena ocupada por missionários jesuítas é atacada por mortos-vivos. Padre Manuel da Nóbrega e seu mais novo companheiro de missão, padre José de Anchieta, seguem numa expedição para o campo de Piratininga. No meio do ca...