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Você por aqui de novo?

Não desistiu não?

Tudo bem, tudo bem. A gente leva tempo pra desistir das coisas, né? – apesar de que uns, nem precisam de mim para desistir de nada.

Já que veio aqui, acomode-se.

Como eu já havia dito, essa história é longa, e não estamos nem um pouco pertos daquilo que chamamos de fim.

Olhares. Você já parou pra entender como os olhares funcionam? Em como são formadas as imagens? Ou como funciona nosso sistema visual? Tudo o que enxergamos é fruto da tradução, feita pelo cérebro, dos estímulos luminosos que atingem os nossos olhos.

A ciência nos diz que ela bolinha preta bem no meio da parte colorida do olho é a pupila: ao aumentar ou diminuir de tamanho, essa abertura na íris controla a entrada de luz. A córnea e o cristalino funcionam como lentes, desviando os raios luminosos em direção à retina. Já a retina é a superfície sobre a qual as imagens são formadas: nela existem células capazes de reconhecer cores e movimentos e transformar as impressões causadas pela luz em impulsos eletroquímicos. À retina está ligado o nervo óptico, responsável por transportar os impulsos eletroquímicos para o cérebro, que interpretará a informação visual.

Mas é preciso entender que olhares transcendem muito mais que tudo isso.

Num olhar, se sincero, é possível transmitir tudo aquilo que você jamais poderia conseguir por para fora. Num olhar é possível descobrir aquilo que você nunca ousou contar para ninguém.

Mas o que poderia acontecer quando olhares específicos ficam frente a frente?

Se eu, o Tempo, não consigo explicar, a ciência consegue?

Bárbara decidiu intervir quando suspeitou de que, se dependesse de Ana Clara ou Vitória Falcão, as três – quatro, incluindo com a pequena Estrela – viriam a ficar paradas em silêncio.

"Ei, Vi" chama, tocando no braço da mais alta. Vitória parece despertar-se de um transe, e sorri para Bárbara, mas seus olhos insistiam em permanecer em Ana Clara. "Quanto tempo..."

"Muito tempo mesmo, Bá." Sorri franca, "o que te tr-" parece se dar conta mais uma vez da presença da morena, "o que as trazem aqui?"

"Essa princesinha aí do seu lado!" Bárbara sorri. Por dentro, era puro nervo. Não sabia como Ana Clara lidaria com a presença de Vitória, tampouco como Vitória lidaria com a presença de Ana Clara.

"E qual o nome desse anjinho?" indaga, observando a menor. Ana Clara acompanha o sorriso de Vitória como se fosse um filme enigmático, mas a mais alta não percebe – contudo, Bárbara sim.

"Estrela" Ana responde num fio de voz. Vitória leva os olhos novamente aos de Ana e franze o nariz, analisando-o. Após alguns instantes a cacheada parece se dar por vencida pela própria mente e assente com a cabeça.

"É um belo nome..." diz. "O que ela tem?"

"Síndrome de asperger" Ana responde mais uma vez e a mesma se sente orgulhosa por conseguir falar. Por anos imaginou seu reencontro com Vitória, mas nunca passou pela cabeça da morena que seria desta forma.

"Entendo" começa, "pretende matricula-la aqui?"

"Sim" responde com timidez. Bárbara havia se tornado coadjuvante daquela conversa e estava adorando.

"Preciso conversar com a responsável da pequena então" Vitória diz, engolindo em seco. Sabia que as conversas com responsáveis duravam longos minutos, porém, não era uma responsável qualquer: era Ana Clara. "Vamos?" a loira aponta com a cabeça para uma porta e Ana assente, ainda calada.

Quanto Tempo o Tempo Tem?Where stories live. Discover now