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#elenão

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Anteriormente em "Quanto Tempo o Tempo Tem?":

"Eu... Eu não sei."

Este foi o 3º e último olho do furacão.

Quando Ana pôs os olhos na confusão da cacheada a sua frente, a morena pôde ter a certeza de que sentiu seus pulmões se comprimirem e em sua garganta, sentiu um bolo formar-se. Nunca havia visto Vitória daquela forma e a sensação de mal conhecer alguém que um dia já conheceu tanto a dominava de uma forma que chegava a ser difícil até para mim, o Tempo, explicar.

"Como assim não sabe, Vi?" Deu um passo a frente e viu a loira recuar. No mesmo momento as linhas de expressão de confusão vieram ao rosto da menor, "O que foi, Vitória?"

"Eu não sei mais de nada, Ana Clara" disse, com o sotaque ainda mais arrastado por conta da bebida. Tinha madeixas atrás das orelhas, o rosto corado e os olhos vermelhos e caídos, provocados pela bebida. Ana observou atentamente a mulher perder o olhar dentre as plantas à frente da casa, o letreiro da loja ao lado, as luzes de led dos postes, menos em seus olhos.

"Olha para mim, Vitória..."

É óbvio que o seu pedido foi prontamente negado.

Mais um passo à frente, mais dois passos recuados.

"Por que você está com medo de mim?" Ana pergunta, aflita, tateando os ombros de Vitória e firmando suas mãos ali, para que a loira não fugisse mais uma vez, "Por que apareceu aqui a essa hora da noite e do nada? Me diz, Vi. Por favor..."

Vitória tinha a cabeça baixa e quando seus lábios começaram a tremer, Ana já sabia o que viria a seguir.

"Vamos entrar, Vi. Vamos conversar, sim?"

A loira nada disse. Apenas sentou-se na soleira da casa dos Caetano, os joelhos próximos ao rosto e as mãos suadas e trêmulas. Ana, também, nada se fez. Percebeu que o melhor no momento talvez fosse deixar com que a cacheada falasse no momento que achasse melhor. Preservar o espaço do outro é sempre a melhor opção; não se pode forçar o que não nos cabe.

E isso serve para roupas, anéis, sapatos e pessoas.

Ana Clara a acompanhou e sentou-se ao seu lado, mantendo uma distância considerável. De forma delicada e quase imperceptível, tirou a garrafa de cerveja de perto da cacheada e pôs ao seu lado. Virou-se para frente e observou o céu, prestando atenção na lua.

Lembrou-se, então, de quando tinha quatorze anos e passava as noites de insônia conversando com Vitória pelo telefone, naquela mesma soleira.

"Você já percebeu que, não importa onde você esteja, a lua é do tamanho do seu dedão?", escutou Vitória dizer, "parece estranho, mas, bem, é verdade..."

"Você é estranha!", riu, encostando-se no batente, enquanto escutava sua melhor amiga e seu também melhor amor rir junto á constatação.

"É, talvez eu seja..."

Um silêncio confortável instalou-se na ligação.

"Vi?"

"Hm?"

"Eu te amo..."

A morena levantou o dedo, pôs ao lado da lua e, quase que sem se dar conta, ouviu a voz embriagada de Vitória dizer:

"A lua sempre será do tamanho do seu dedão..."

Ana sorriu, empurrando a cacheada de leve, "Você é estranha".

Quanto Tempo o Tempo Tem?Opowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz