27. orgulho e sacrifício

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Existe uma coisa bem merda chamada orgulho.

Na condição de meros mortais, parte da humanidade possui isso, seja num nível elevado ou quase inexistente. No meu caso, o orgulho era bem relativo. Ou seja, depende muita da pessoa, do porquê e de onde. 

Trazendo meus pensamentos para a atual situação:

A pessoa seria Shawn, o porquê sou eu babaca e o onde é meu quarto, lugar que me encontro trancada tentando lidar com a falta que estou sentindo dele. O que me parece extremamente estranho visto que ficamos somente um dia sem se falar.

Carol entrou animada e eu me mexi entre as cobertas bloqueando o celular. Estava falando com uma menina no Instagram. Provavelmente, fã de Shawn, mas estava conversando comigo normalmente e, inclusive, ouvindo meus problemas.

E eu acredito com bastante força que se tivesse outra versão de mim, esta não estaria tão aberta a ouvir meus problemas, então valorizava os que o faziam.

Eu tinha explicado que briguei com um amigo por achar que uma pessoa que conheci há um dia era o amigo, confuso (?) mas real. As coisas nem sempre eram tão compreensíveis quando se tratavam de mim, então ou o tema era fácil e eu adicionava sete cabeças deixando-o complicado, ou era realmente complicado e eu adicionava mais sete cabeças para turbinar e ter certeza que era difícil mesmo.

Mais valem dois problemas nas mãos do que um voando, huh?!

— Não acredito que você vai passar o dia dentro desse quarto.

— E você quer que eu vá fazer o quê? — arqueio a sobrancelha.

— Estella, você tá no Canadá, o que não falta é coisa pra você fazer... — ela fala como se fosse óbvio, embora realmente fosse.  

Afundo mais meu corpo no colchão bufando. Eu não queria sair pra visitar lugar nenhum.

— Mas eu não estou no clima.

Carol sentou-se sobre uma poltrona no meio do quarto e eu pude sentir seu olhar atento, me lendo. 

— Você ainda está brigada com o Shawn?? 

Ignoro passando o cobertor pelo meu rosto.

— Você tá muito apaixonada, Estella!!! — Sua voz sobe uns tons e eu quero levantar dali xingando-a dos piores palavrões da língua portuguesa, porque talvez Carolina estivesse correta em sua constatação. 

— Eu só estou reflexiva, conversei com uma garota agora cedo e ela me falou algumas coisas...

Carol arqueia as sobrancelhas e joga a bolsa no canto da sua cama, é como uma mensagem silenciosa para que eu continue.

— Ela disse que as vezes a gente pede desculpas mesmo não sendo o completo errado da história porque a gente gosta de mais da pessoa e também que eu preciso me colocar no lugar dele. — Talvez a garota tivesse razão, mas custava ele ter ao menos respondido minhas mensagens?

— Sensata.

— Sim, ela disse que eu deveria ir atrás dele conversar, se ele gosta mesmo de mim ele vai me ouvir...

— Vocês estão apaixonados, é óbvio que vão terminar conversando. — Carolina parece convicta de sua constatação e eu bufo.

— Eu não estou apaixonada pelo Shawn, ok?! — a cara de deboche que ela me lançou foi péssima — Eu só não gosto que as pessoas chateadas comigo.

— Caralho, que mentira feia. Você tá pouco se fodendo para o que as pessoas acham, na maioria das vezes. — Isso era verdade, mas relativo.

WILD | ✓Where stories live. Discover now