48. ressaca na memória

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  Os céus estão vendo você ler sem votar e comentar viu...  

Minha cabeça e meu estômago estão unidos num combo perfeito de dor e enjoo, e eu praguejo ao notar que nada tinha a ver com o braço pesado de Shawn por cima do meu corpo.

Quer dizer, ele é pesado, mas não capaz de me causar dor em tantos lugares ao mesmo tempo.

Ao meu lado, mantendo nossos corpos colados e passando seu calor para mim Shawn dorme com uma serenidade fora do comum. Sua respiração é tão tranquila que quase não vejo seu peito subir e descer, o ritmo é como uma canção de ninar.

Eu poderia voltar a dormir somente o observando e sentindo, não fosse minha barriga voltar a doer.

Xingo mentalmente enquanto me desvencilho do seu toque e corro para o banheiro, me agachando na privada e colocando tudo para fora. As imagens da noite passada passam brevemente na minha cabeça, eu lembro de estar com o Joshua do período da tarde até a noite quando começamos a beber; a imagem de um Shawn de cara fechada também paira antes que meu corpo desse por encerrada a sessão de tortura.

Passei creme dental na escova e fiz meu máximo até sentir que o gosto e ácido não mais perturbava meu paladar. Encarando meu reflexo no espelho e assisto aos meus vacilos mentalmente como num trailer de filme três dimensões, bato os olhos no boxe do banheiro e agora não é mais um trailer...agora mais me soa como algum programa de faixa etária não recomendada. 

Prendo uma risada para não me sujar inteira com a espuma da minha boca.

Eu não tinha o menor costume de beber, na verdade, raras eram as vezes que ingeria algo com álcool, salvo os bombons de chocolate que o segurança da recepção do hotel costumava comer nos intervalos.

Será que eu fiz alguma merda? — minha pergunta sai em voz alta enquanto eu prendo os cabelos no topo da cabeça, tentando controlar o volume. — Se beber significa acordar sem lembrar do que aconteceu no outro dia, eu nem quero mais...

Silenciei quando notei estar conversando com meu próprio reflexo no espelho.

Deve ser efeito da bebida ainda, cruzes. — Abaixo a gola da camisa de botões que eu usava. — Então a madame tem outros efeitos além da amnésia repentina?!

Olho mais uma vez minha imagem.

Que decadência, falando sozinha.

Saio do cômodo e Shawn ainda dorme. Penso que preciso de um remédio quando minha cabeça já começa um novo ciclo de dores. Agarro meu celular passando por algumas mensagens e deixando maior parte para responder depois, desço as escadas a procura do lugar onde o Mendes guarda os medicamentos. 

Cada canto da cozinha foi revirado e nem sinal de um remédio se quer.

Ótimo, isso deve ser um castigo para eu nunca mais beber.

Subo as escadas, paro na porta e observo ele ainda dormir. Não seria capaz de interromper sua paz. Não lembrava de tudo da noite anterior, mas de certo Shawn havia cuidado de mim com sua típica paciência. Estávamos brigados, acorda-lo também implicava em ter, talvez, uma longa e cansativa conversa ou outra briga...Eu não o faria.

O ruído da campainha me desperta do transe e parece gargalhar da minha cabeça que lateja. O Mendes se mexe entre as cobertas, mas o som não é capaz de assassinar seu sono. 

Eu não fazia a mínima ideia de que horário era, mas era manhã de um domingo e deveria ser considerado crime aparecer na porta de alguém na manhã de um final de semana sem ao menos avisar.

WILD | ✓Where stories live. Discover now