WILD | ✓

59. Brisbane

— Não é justo outro parque. —Jessica reclama sobre a sugestão do Eddy.

No dia livre em Auckland fomos visitar um parque Regional que ficava a alguns longos minutos do nosso hotel, andamos de cavalo ou tentamos, quase derretemos na trilha embora o clima não estivesse quente e demos altas risadas da loira que tropeçava até no vento.

Agora, após o show de Brisbane, tentávamos pensar em algum lugar que a maior parte se agradasse. O senso de união era palpável e eu admirava a possibilidade de fazer algo sozinho, mas a escolha de estar com o outro por perto. 

— O último foi um parque regional, Jess. — Geoff, sentado num sofá do outro lado, argumenta sem parar de digitar algo no celular.

Ao meu lado Shawn repousava a cabeça sobre meu ombro e mantinha sua atenção em nossos dedos levemente entrelaçados na tentativa de não chamar tanta atenção das outras pessoas na área.

— Aqui diz que está aberto e é um parque de diversões, não uma reserva natural. — com o Google aberto Mike apontou para a tela do aparelho.

— Então nós vamos. — O Mendes confirmou.

...

— Shawn, vou pegar seu casaco. — sinalizo para o material em jeans sobre uma poltrona no canto do quarto.

— Está com frio?

— Um pouco, mas como vai escurecer quando estivermos lá prefiro prevenir.

Meu namorado arqueia a sobrancelha. Observador. Seus lábios se separam sutilmente e eu sei que ele está prestes a pontuar algo.

— Eu disse para não entrar na piscina mais cedo.

— Você tá parecendo a Marta me dando lição de moral depois que eu quebro a cara.— brinquei.— Mas não estava frio, Shawn.

— Também não estava calor e a água parecia bem gelada.

Bufei, fazendo careta. Tínhamos passado o fim da manhã e início da tarde na piscina do hotel, servi de modelo para o Josiah e aproveitei para aprender alguns truques de fotografia com ele. Caí na água somente pra testar um equipamento à prova da mesma que o mais velho tinha comprado; no final acabei ficando mais um tempo, mas nada que pudesse me deixar gripada.

— Ok, agora vamos, não quero atrasar. — dei um ponto final aos argumentos e Shawn riu debochado.

— Preocupada com atraso, justo você, Estella?!

Ignorei segurando a risada e caminhando até a porta. Ouvi suas passadas atrás e logo estávamos no elevador.

O parque não ficava muito distante do hotel e em questão de minutos estávamos num grupo de aproximadamente dez, passando pela bilheteria. Dave tinha checado o horário com menos fluxo de pessoas e parece que as informações estavam certas já que não tinha tanta gente assim.

A entrada me deixou um pouco acanhada. Era a boca do que eu concluí ser um palhaço entre duas torres amareladas e no topo, em letras neon, "Luna Park" brilhava.

Shawn atendeu algumas fãs durante o decorrer da noite, mas nada que se tornasse tumultuado ou nos cegasse com flashes. Depois de nos aventurarmos pela roda gigante, carrinho elétrico e rirmos do desastre do Mendes em uma barraca de tiros, nos dividimos.

John, Shawn e eu caminhávamos por entre as diversas barracas e brinquedos. 

— Queria que a montanha russa estivesse ab... — travei ao ver uma figura a alguns metros de distância.

Firmo os pés no chão e paro de andar, levando Shawn a fazer o mesmo e olhar confuso.

— Estella?!

Mantive meu olhar fixo e acredito que John o seguiu pela pergunta que foi lançada segundos depois: — O palhaço?! Você tem medo de palhaços, Brasil?

Respiro fundo, fechando minha palma e apertando o jeans do casaco que se sobressaia. Sensações ruins correm por meu sangue enquanto eu ainda observo o ser sorrindo da forma mais assustadora possível. Ele poderia até ser inofensivo, mas o desenho dos lábios em parte da sua bochecha e o leve borrão de tinta vermelha não me faziam aceitar aquela opção tão facilmente.

Palhaços me assustam.

— Não...quer dizer...um pouco.— me embolo. — Eu só fico desconfortável.

— Tudo bem, estamos aqui. — John comenta, estufando o peito orgulhosamente. Eu ri por dentro, mas tenho certeza que por fora mais pareceu uma careta ainda amedrontada.

— Poderíamos voltar? — sugiro sem jeito.

— Precisamos fazer esse caminho, babe. — Shawn dá alguns passos, ficando em minha frente.

Somente a leve quentura do seu corpo é capaz de fazer meus músculos relaxarem sutilmente, embora eu ainda continue sentindo a tenção.

— Mas...

Ele sorri sem mostrar os dentes e toca minha bochecha com seus lábios macios sussurrando: — Está tudo bem.

Está tudo bem!, repito mentalmente.

Vamos lá, Estella, você nem tem tanto medo de palhaços assim!  Meu subconsciente apunhala minhas costas. 

 Shawn passa da minha frente para o meu lado e em seguida enlaça nossas mãos. Seus dedos apertaram os meus como se silenciosamente repetissem que está tudo bem pelo simples fato dele estar ali.

Tentava dizer, sem utilizar palavras, que me protegeria.

— Shawn, tem gente aqui, vão nos ver de mãos dadas e...

— Eu não me importo com eles, Estella. Eu me importo com você. 

Meu coração que se recuperava das batidas aceleradas pelo medo voltou a maratona me fazendo sentir com mais clareza os limites de uma caixa torácica pequena para os solavancos. Talvez se não estivéssemos em público ele conseguiria ouvir.

— Você confia em mim?

Balanço a cabeça positivamente numa resposta para a pergunta do meu namorado.

Me lançando um último olhar encorajador Shawn começou a andar. John ia a nossa frente, parecendo atento a qualquer aproximação inocente do animador do parque. Em minha visão periférica o palhaço ficou para trás, fazendo meu corpo relaxar por completo.

— Nem foi difícil. — meu namorado comenta de forma orgulhosa e eu não sou capaz de fazer nada além de sorrir aliviada. — Agora, vamos procurar alguma barra de doces, talvez ajude no seu problema.

Se a barraca de doces ficar longe da barraca do palhaço, é claro., penso.

— Sugar, yes, please... — cantarolei recebendo uma risada calorosa de Shawn.

— Você supera rápido, viu?!

*****

Aproveitem porque o fim tá mais perto do que longe <3. Quem sabe o meu conceito de fim vai sacar o que vai acontecer rsrsrs lá no grupo no final do ano passado (01.01.18) etc etc etc