50. talvez tarde de mais para o primeiro "eu te amo"

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A forma como os seres humanos se deixam levar por certos instintos chega a ser cômica

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A forma como os seres humanos se deixam levar por certos instintos chega a ser cômica. Exemplo: chuva. A ideia de andar com um guarda-chuvas na bolsa é chata e "hoje não vai chover" ou "dá tempo chegar em casa" é o que pensamos, mas aí booom a chuva nos surpreende e molha por completo, destrói celular e o pouco de saúde que restava.

Quando a gripe ataca é quando pensamos o quão importante aquele mínimo detalhe é.

Essa sou eu agora.

Embora soubesse que a volta para o Brasil aconteceria, eu preferi ignorar esse fato e me entregar a um namoro que não tinha futuro. Deixei que a chuva me molhasse por completo e ainda me despi nela, sendo atingida das formas mais profundas.

E sentada na sala de espera da companhia aérea, com a garganta doendo e os olhos boiando em lágrimas, eu não me arrependia de ter me envolvido com Shawn.

Ele me fez experimentar uma liberdade temporária, mas que revelou lados desconhecidos de uma Estella conhecida.

O fim chega para tudo e todos. Era inevitável e, talvez, aquele fosse meu momento de ser madura e aceitar.

Era assim que funcionava quando eu precisava me livrar de algo que gostava muito, mas já não me era cabível ter. Marta sempre dizia que amadurecíamos a cada decisão difícil tomada.

— Você tem certeza que não quer falar com ele? — Carolina me tirou dos devaneios, sentando ao meu lado.

Respirei fundo, era uma tarefa difícil o fazer sem derramar lágrimas.

Balanço a cabeça numa confirmação silenciosa, só que poucas eram as coisas que eu tinha certeza na vida e, definitivamente, aquela não era uma delas. Meu celular tinha morrido descarregado pouco depois que cheguei no hotel e papai falou sobre nossa volta repentina por negócios que ele havia esquecido e a festa dos pais de Carol. Na verdade, nem a mesma havia lembrado, era algo que comemoravam todo ano, mas ela achou que o dia seria adiado pelo pai estar viajando.

William e Marina, mãe da Carol, completariam 25 anos de união.

— Desculpa. — Ela pediu.

Sabia que ela estava se lamentando por não poder fazer nada além de estar ao meu lado, mas sua presença era suficiente de alguma forma. Não tinha noção de como lidaria com os impasses sem Carolina comigo.

— Você não tem culpa. — Sorri, finalmente permitindo que o líquido escorresse pelo meu rosto.

Carolina aperta-se contra o casaco, a madrugada é fria e uma chuva fina tinha acabado de cair, típica cena de despedida. O céu nasceria em alguns minutos, mas eu sabia que a nuvem esconderia a luz.

Internamente estou rindo porque eu fiz de tudo para evitar os clichês e as coisas que talvez me fizessem enxergar aquele lance com Shawn como algum filme de romance com final feliz, mas meu tudo não foi suficiente. Até o clima canadense parecia compatível para uma cena típica e não era de um final feliz.

WILD | ✓Where stories live. Discover now