Capítulo 10 - Maturidade #5

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18 de março de 2003. Aquele foi o dia em que comecei o meu amadurecimento, com apenas 5 anos... E, dois anos após o começo do meu amadurecimento, disse "basta" ao meu chamado, meu crescimento, meu amadurecimento e à vontade de Deus.

Meu nome é Marcus Vinícius, tenho 19 anos e sou filho de pastor; porém não sou diferente de você.

Atualmente, ser filho de pastor é quase igual ser filho de político. Não podemos dizer e fazer nada de errado – nós somos os "santos". Veem-nos como privilegiados em tudo que alcançamos e conquistamos. São ditas frases como "é filhinho de pastor, tem dinheiro", entre outras. Isso é algo novo, que acontece há pouco tempo? Simplesmente não! Isso acontece há muito tempo...

As minhas lutas começaram aos 5 anos, quando percebi meu chamado ministerial. No auge da infância é normal que uma criança queira brincar com os amigos. E principalmente na igreja, quando geralmente você só os encontra um ou dois dias na semana. Eu não era diferente de qualquer outra criança, a meu ver pelo menos, então eu desci para brincar. Estava lá, brincando como qualquer criança, quando uma irmã segurou-me pelo braço e disse: "Vê se pode! O filho do pastor de bermuda na igreja e brincando aqui em baixo! Você tem que ser exemplo, garoto. Você é filho de pastor. Se você não andar direito, e não se comportar, nenhuma criança vai fazer o mesmo, pois se você pode, eles podem". Isso foi o suficiente para fazer com que eu subisse e ficasse quieto dentro do templo. Depois desse ocorrido, virou costume as pessoas me olharem torto, amigos se afastarem... Sem falar que "a moda" pegou: "Se o filho do pastor pode, eu posso! Olha lá o pastorzinho! Olha o 'santinho'...".

A cobrança foi ficando cada vez maior. Por ser filho de pastor não podia brincar, pois eu devia ser o exemplo. Tinha que comportar-me na igreja, porque os membros estavam vendo tudo o que fazia. Tinha que ser o melhor aluno da EBD, pois todos estavam com os olhos voltados para mim. Enfim, tinha que ser exemplo em tudo, pois todos focavam em mim. E não é assim mesmo? Porque queremos um referencial em nossa vida, sempre estamos observando as pessoas, queremos aprender; é algo do ser humano observar os demais. Mas pedir para uma criança de 5 anos ser exemplo para outras, não é um pouco demais? Alguns nos olham com bons olhos, mas há outros que nos observam para criticar, buscar defeitos, para depois falarem: "Olha lá, que vergonha, o filho do pastor fazendo isso ou aquilo! Parece que o pastor não sabe criar seus filhos". Infelizmente, aos 7 anos, essas críticas transformaram-se em ódio, uma raiva, e acabou me levando a odiar ser filho de pastor, e ter raiva do meu chamado. A única coisa de que não senti raiva foi de Deus.

Passei o resto da minha infância, e grande parte da minha adolescência, com esse sentimento de ódio me acompanhando, e prendendo-me na imaturidade espiritual. Com as lutas que enfrentei dos 7 aos 16-17 anos, amadureci e cresci emocionalmente (aprendi a controlar minhas emoções e, principalmente, a perdoar), mentalmente (comecei a pensar e a analisar as situações antes de fazer qualquer coisa), e fisicamente (tornei-me mais forte para aguentar os obstáculos que a vida apresentaria). Mesmo assim sentia-me incompleto e imaturo. Eu sempre soube que o crescimento e a maturidade são processos constantes, que nunca terminam, porém a sensação que eu tinha era de ainda não ter feito nada, nem saído do lugar, e que era isso que não permitia o amadurecimento.

Quando viemos para Niterói, minha família e eu, no final de 2013, ainda não tinha alcançado a maturidade, ou descoberto o que deveria fazer. Passei o ano seguinte sentado no banco, sem envolver-me com nada na igreja, apenas pensando e refletindo – tanto que alguns de vocês, leitores, irmãos e irmãs da PIB Niterói, só me viram em 2015!

Eu gosto muito de uma frase de Bethany Hamilton, que diz assim: "Dizem que 'Deus escreve certo por linhas tortas'. Isso é um eufemismo. Quem diria que, ao ensinar àquele menino a surfar, eu ensinaria a mim mesma que surfar não é a coisa mais importante do mundo. E mais: o amor é maior do que qualquer tsunami e mais poderoso que qualquer medo". Talvez ela não faça nenhum sentido para você, mas pra mim ela fez – e faz! O acampamento dos adolescentes, o Classe A, naquele ano de 2015, teve como tema, surpreendentemente, "Maturidade". Logo que soube do tema senti que devia ir ao acampamento. Faltando menos de 2 semanas para o evento, o desânimo e as tristezas do passado começaram a tentar me dominar, e quase conseguiram. Mas Deus incomodou-me para falar com minha mãe sobre a inscrição, mas disse a ela que estava desanimado. Foi aí que ela respondeu: "Com desânimo ou com ânimo, vá meu filho! E tenha um acampamento abençoado!".

No acampamento as lutas aumentaram, e toda vez que eu ficava sozinho o passado tomava conta do meu ser. Mas Deus sempre mandava ir a algum lugar onde tinha alguém que me chamava para conversar, ou apenas para dizer algo. No 2º dia de acampamento, nos cultos eu não estava me aguentava em pé, e eu me ajoelhava, orava, chorava! E, culto após culto, oração após oração, mensagem após mensagem, o ódio que eu tinha era quebrado, os obstáculos eram derrubados e as armadilhas eram destruídas. Até que uma nova oportunidade abriu-se para mim, de reconectar-me ao chamado que recebi. Então eu me levantei e tomei a decisão! Percebi que Deus nunca me abandonou, e que Ele sempre esteve ali dizendo: "Estou contigo, e você está comigo. Eu Sou seu, e você é Meu!". Naquela mesma noite fui testado, quando uma pessoa me disse: "Filho de pastor, pastorzinho é". Eu simplesmente respirei e respondi: "Se for da vontade de Deus, quem sou seu para negar!".

Quando voltei para casa tive a oportunidade de analisar tudo que ocorreu. Veio-me à mente o seguinte versículo: "Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou o sino que tine", 1Coríntios 13.1. Caso tivesse deixado o desânimo me dominar eu não teria ido o acampamento, e nada disso teria ocorrido. Mas, felizmente, segui a vontade de Deus e foi no acampamento que alcancei minha maturidade espiritual!

Então isso significa que não preciso aprender mais nada? Muito pelo contrário! Tenho muito mais coisas a aprender. Agora as consequências vêm em dobro; porém, não esqueço que Deus não me dá um fardo maior que eu não possa carregar (1Co 10.13). Existirão novos desafios, mas agindo Deus ninguém impedirá!

Essa é a minha história, qual é a sua?

#MATURIDADE está na mente e não na idadeOnde as histórias ganham vida. Descobre agora