Mais fundo...

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Por Vênus

Odiava minha mãe, odiava com força. Especialmente quando eu lhe estendia minhas mãos e nelas, era golpeado com força. Doía e no princípio, eu lembro-me de chorar muito e pedir que fosse clemente. Não havia bondade nela.

Eu haveria de me fortalecer, suportando sem queixar-me, os seus métodos de disciplina. Eu fazia com ela e pelas suas costas, todas as coisas da forma mais errada que eu poderia fazer. Cheguei ao ponto de amar tais castigos, pois já havia me vingado antes. Sujava seu nome com meus atos e denegria sua imagem.

Seus tapas no meu rosto eram um forte incentivo para que eu ser ainda pior. Eu transei com quase todos os caras da escola, com o pai dela, meu avô Adolfo e com o padre austero chamava-me de demônio ao me comer no confessionário. Ela ouvia os "boatos" e punia-me por eles, eu negava, é claro. Cada espancamento, ria-me por dentro. Era minha forma de sentir a vida.

Joaquim é um ser de personalidades distintas, parecem dois homens. Amo-o e o odeio. Odeio quando é Joaquim, amo quando ele torna-se Júpiter. Embora sinta que falte muito para chegar ao meu âmago.

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Por Júpiter

Cresci como EU dominador a partir de uma brincadeira sexual com Xavier, ele diminuiu ao ponto de submisso. Eu gostava de dominá-lo e ele precisava sentir-se amarrado e dobrado, humilhado, obediente. 

...

Afastado de minha família, eu o anormal, brincava de perversões com meu ex companheiro. Enquanto na sociedade, eu continuava portando-me elegantemente frente às pessoas que queriam ver-me nesta postura, meus pensamentos desviavam para o que eu tinha e o que eu era de verdade. Achando-me que eu era o louco, jamais me opunha àqueles modos de pensar que causavam-me uma raiva sinistra.

Ao passar por um andarilho, enquanto eu voltava do almoço com dois colegas de trabalho, um deles comenta:

— Vagabundo, drogado...

— Cada um faz suas escolhas, deixa ele. — Retruco.  

— Eu já acho que vida não é justa com todo mundo,  Sandro. — Atílio defende o cara. 

— Sim, sim, cada um faz suas escolhas, uns escolhem se foder e trabalhar e outros escolhem a vagabundagem, o crime e a miséria. Sou mais por essa teoria. E não venha me dizer que ele é uma vítima da sociedade. — Sandro responde. 

— Quem sabe. — Atílio diz.

— Sandro, as pessoas escolhem e você nem imagina os tipo de escolhas que fazem. —Respondo-o e abordo o morador de rua. — Ei, sabe que dia é hoje?

— Pô chefia, um dia depois de ontem e um dia antes de amanhã. Não muda muito. Tem um troco aí? É pra comprar um sanduíche.

  — Posso ter dar um sanduíche e não dinheiro.

Ele não responde, resmunga algo e vai embora. Sua falta de resposta me faz sorrir e quando nos afastamos, Atílio questiona o porquê da pergunta e eu provoco.

— Esse não parecia uma vítima da sociedade, era um cara esperto que faz suas escolhas. Nós, é que não entendemos. O que me diria sobre uma pessoa que gosta de ser escravizada?

— Ninguém gosta de escravidão, só ser for burro.

— Você não entende o ser humano.

— Ah, certo, e o que você entende? Vive mais tempo na terapia do que em qualquer outro lugar.

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