Um final

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Som: Apocalyptica - Not Strong Enough

(achei que letra casou tão perfeitamente com esse capítulo final, 

por isso procurei o clipe com a tradução♥)

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Por Júpiter

Colidimos. O planeta menor quando veio em direção à Júpiter supôs que causaria algum dano grande. A colisão não causou mais destruição do que já causara em dois anos. Não fomos feitos para orbitarmos tão próximos. Ele permanecerá em minha rota para sempre.

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Por Joaquim

Eu escolhi dominar alguém que se predispusesse à esse fetiche. Porém de uma forma saudável, "normal", que aceitasse algumas brincadeiras mais pesadas ou quem sabe entrarmos numa convivência de mestre/escravo que não fosse tão causadora de danos como me foi esse relacionamento nos dois primeiros anos. 

Não esperava que eu viesse a realizar essa fantasia com um homem por quem o amor, carinho e respeito já tivessem acabado. No início eu chamei de traição o fato de ele ter transado com outro macho. Ele surge-me muitos meses após, pedindo para que eu realizasse algumas brincadeiras com seu corpo. Estranhamente, ele não era um submisso qualquer, era masoquista que se comprazia da dor e o "ato" da submissão o enfurecia por dentro. Cheio de problemas trazidos com os traumas de sua primeira infância que iam do abuso sexual, violência física e psicológica, Xavier poderia ser esquartejado lentamente por mim, que o suportaria.

O que ele era? Um homem que chegara à sua camada mais profunda, a mais primitiva, chamado de louco, bruto, aquele perdeu completamente o senso, dignidade e moral? Ali somos vastos ou no fundo de todos nós, inclusive dele, há somente o vazio?

Conheci o meu EU mais profundo e cansado de ser um escravo de meus transtornos, permiti ser governado por um grande "astro", sufoquei o menino-homem que aparentemente era tudo que eu conhecia. Júpiter passou a ser uma personalidade independente e viver uma realidade paralela, tal como fora com Xavier.

 À minha maneira, creio que desci alguns degraus da minha humanidade, logo evoluí um mísero centímetro para dentro da loucura. O que nos chamam, os seres confortavelmente rasos e temerosos: loucos.

 Estou atado à cruz de Santo André, onde lhe prendia para os açoites que o levavam aos urros de um tipo de prazer animalesco e selvagem. Hoje ele quer me golpear, mas hesita. Que me solte para ser punido por sua insolência.  

A essa altura já sei que ele assassinou sua genitora. Sei que me dopou e que está desesperado... o desespero o levou à matar no passado. Temi por minha existência. Amarrado e dominado pelo medo, eu não podia ser insolente, mas eu fui, porque precisava desafiá-lo a fim de conhecer seus limites para comigo. Minha nudez lhe incentivava a ser perverso, ele não prosseguiria sem que eu o provocasse. Foram anos comigo a lhe dominar, lhe pisar e sufocar que nunca esperei o revide. Nunca? Esperei sim, confesso.

Lhe cuspo na cara, ele se enfurece e me esbofeteia. 

- Você sempre perde quando tenta tomar meu lugar, é fraco, logo sua posição é merecida. Será castigado como ama e odeia... tão logo me soltar.

Vênus me solta, é tão débil... há medo no olhar escuro, há medo nas pernas nuas que fraquejam, há medo no cair de joelhos frente a cruz na qual me atou quando se tornou desesperado, há medo no sangue que escorre do último ferimento em suas costas, eu vejo quando ele cai de bruços em minha frente e chora... tantas cicatrizes que me remetem a lembranças dolorosas e excitantes. Cada risco que ali gravei, cada xingamento que a mordaça dele absorveu e cada olhar mortífero que recebi, cada uma dessas coisas nos aproximou.

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