Perto do limite de Vênus

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Por Vênus

Se eu preciso ou não de ajuda profissional, não faz muita diferença hoje.  

O que me acontecia desde a mais tenra idade, eram castigos físicos e psicológicos por parte de quem deveria, por teoria, me proteger. Eu cresci odioso. Revoltado. Buscando saber o que minha matrona ojerizava e punindo-a secretamente à cada descoberta. Ela revidava punindo-me. Me tornava um pervertido e sabendo que Manoela era religiosa, pudica e moralista, sentia o doce sabor da dor usufruída em cada pancada corretiva sua. Meu prazer estava também no desafiar e mentir, fingindo uma inocência que não tinha por a terem me roubado tão cedo.

Eu era a imagem perfeita de Vasco, seu marido. Isso a remetia ao que ela mais odiava em sua vida: seu casamento forçado, a maternidade muito tardia, após uma vida de tortura nas mãos dele. Fui produto desse desprazer. Descobri seu pequeno segredo. Ela descobriu o meu. Sujos segredos. "Minha máxima culpa".

Ela me castigou e eu me castiguei, ainda o faço e Júpiter me fere, mantendo-me vivo. Ele o faz, o amo por isso. Só sinto vida, advinda com a dor. A dor da vergonha e orgulho quebrado. A dor de cada surra dá-me prazer. A pele rompida, o ânus ardente por suportar objetos de circunferência anormal. Mamilos retorcidos. Falta de oxigênio. A humilhação. Sangue. Cicatrizes.

Tendi à necessidade desses castigos. Júpiter conseguiu levar-me perto de um ápice ao me açoitar. A dor era quase insuportável, porém provei a delícia de um êxtase quando o couro cortou-me a pele. Descobri que desta maneira, encontro-me com meu EU mais profundo. Aquele que quase nunca acessamos por medo.

...

Por Júpiter

Pergunto-me: onde está o prazer de infringir a dor?

Eu não a amo, mas precisei sentir pelo menos uma vez, ou muitas, para que soubesse o efeito dela no corpo de Vênus, o luxurioso.

Encorajo-me ao usar em minha própria coxa, uma lâmina de barba. O risco fino entre meus pelos, vem seguido de uma dor aguda, sangue e a auto piedade. A dor é um inferno. A dor é de todos. Homens e animais.

Suportei um corte superficial de cerca de uns dez centímetros. Sinto minha fúria ascender. Eu sinto-me vivo. Vênus serviente sentado nos calcanhares usa sua pesada máscara de gás com abertura mínima para a respiração. Isso me deixa agoniado. Não suporto a sensação de asfixia. Os braços estão amarrados desconfortavelmente às costas, cujas cordas afundam em sua pele.

Acendo a vela rósea, grossa, que derrete uma grande quantidade... a qual derramo nas costas nuas. Uma mínima reação àquele choque o faz contrair alguns dedos. Um açoite. Um incentivo. A máscara abafa, mas pude ouvir seu lamento. O pênis dentro do "cinto" de castidade, não tem espaço para crescer ereto. Não tem espaço. Cada aspecto é torturante de imaginar.

Logo, o prazer está em testar o limite do que ele pode suportar.

...

Cada flash de memória leva-me a um momento dessa estranha relação, onde não sei se há amor em algum nível ou apenas necessidade disso.

Xavier prejudicou um tanto sua vida profissional no primeiro ano após nosso retorno. Não estávamos equilibrados com nosso EU mais profundo. Eu ainda tinha muito de Joaquim, o homem que hesitava.

Porém, ao findar de mais um ano, esse fora totalmente liberto.

...

Soube que a mãe de Xavier para puni-lo pelo descontrole de suas necessidades, o fizera ingerir os próprios dejetos. Então sei que esse seria o pior de seus castigos, pois o vejo chorar ao contar.

ProfundoWhere stories live. Discover now