Cartas para aqueles que deixei - #EscritoresDeOuro

A primeira carta para Kate

"Você é apenas um anjo quebrado
E eu prometo que não é sua culpa
Nunca foi sua culpa."
—  Broken Angel

✎✎✎

parece que está na hora de escrever pra você, mas tenho tanto pra te dizer que confesso que estou confusa por não saber por onde começar.

Mas tudo bem, vamos lá...

Kate Lancaster, por que a vida nos fez primas e não irmãs?

É sério, eu trocaria o Drake numa boa.
(Momento de descontração, espero que tenha sorrido).

Olha, você foi a primeira figura de melhor amiga que eu tive na vida, pois a minha mãe não está contando nesse caso.

Lembro que tudo que eu fazia, além de escrever no meu diário, era pra você que eu corria pra contar.

E você fazia o mesmo, todas as vezes que sofria, eu estava lá pra segurar a sua mão.

Teve uma época de nossas vidas onde só podíamos confiar uma nas outras, era como se fôssemos o amor da vida uma da outra só que em forma de amizade e eu ficava tão feliz com isso.

Você me viu crescer, penteava meu cabelo, me viu andar pela primeira vez, me ninou, me colocou pra dormir diversas vezes e às vezes me levava pra escola.

E aí chegou a minha hora de fazer isso pelos seus filhos e eu estava lá em cada um deles.

Só eu sei o quanto já apanhou da vida, meu anjo quebrado.

E me desculpa por mais essa pancada, eu não queria te destruir ainda mais.

Eu costumava te contar como as coisas eram difíceis pra mim, lidar com a vida estava sendo complicado.

Lembra de quando você descobriu que eu me machucava?
Pois é, passamos horas no telefone chorando porque você me fez jurar que eu não faria mais.

Sempre te vi como meu porto seguro, pois sabia que poderia me ancorar no calor dos seus braços em qualquer tempestade.
E sabe de uma coisa?
Eu gostaria muito que todos pudessem se sentir assim pelo menos uma vez na vida.

Não é novidade pra ninguém que você sempre esteve ao meu lado em várias primeiras experiências que eu tive e pra começar a falar deles, eu não podia deixar de citar o épico: meu primeiro porre.

Estávamos viajando, você se lembra?

Eu tinha quinze anos, você teve que me levar pra casa naqueles carrinhos que usam em construções.
Começamos rindo e brincando, mas a bebida fez nós duas encerramos à noite chorando no chão da sua cozinha.

Você me disse coisas do tipo: "eu me arrependo demais de ter sentido ciúme de você quando nasceu, achei que ninguém ia mais prestar atenção em mim e desejei a sua morte, mas quando eu te vi, senti algo inexplicável, era um amor muito grande."

E ficava repetindo "me desculpa" várias e várias vezes, te envolvi em meus braços e te disse que estava tudo bem, pois o que importava era que nós duas éramos melhores amigas.

Ou melhor, éramos irmãs.

Sei que deve estar se perguntando como deixou meus sinais de depressão passarem tão desapercebidos, mas a culpa não foi sua, foi minha.

No filme Frozen, o personagem Olaf diz que amar é colocar as necessidades do outro acima das suas e foi o que eu fiz.

Toda vez que me procurava com seus problemas, eu esquecia os meus porque te fazer feliz me deixava bem.

E isso era o suficiente pra mim.

Eu sei como era difícil pra você aguentar todos os julgamentos e xingamentos do seu marido.

Sei como era ainda pior aguentar isso tudo só por causa dos seus filhos, pois você tinha medo do que poderia acontecer com eles e então, eu resolvi ser seu porto seguro dessa vez.

Mas acontece que eu acabei sendo frágil demais e quebrando em minha própria tempestade, eu não queria ter te deixado sozinha, me desculpa, Kate.

Droga, eu estou chorando...

Eu me sinto tão culpada, tão inútil por não ter conseguido suportar tudo isso.

Meus demônios, Kate...

Eles foram fortes demais e eu sei, eu sei que eram apenas dias ruins, mas por que nunca me disseram que eles podiam vencer?

Eu era apenas uma adolescente de dezessete anos e carregava o peso das palavras e atitudes das pessoas nas minhas costas.

Não consegui lidar, foi demais pra mim.

E eu sei que talvez, em algum momento da sua vida, você tenha achado que seus problemas eram maiores que os meus e eu não tiro sua razão, porque realmente eram e por isso que eu sempre te admirei, porque você conseguia enfrentar algo que eu nunca seria capaz de cogitar passar.

Você e minha mãe eram meus exemplos de mulheres fodas para caramba e eu queria ter conseguido ser pelo menos um terço do que vocês são.

Espero que todos fiquem bem, porque eu sei que embora eu tenha destruído cada um de um jeito diferente, foi algo muito catastrófico e embora soe muito egoísta: eu não gostaria de passar por isso, aliás, acho que não conseguiria lidar com tudo.

Você me ajudou a caminhar quando eu nem sabia colocar um pé após o outro direito e depois que fui crescendo e criando meu próprio caminho, você apenas estava lá pra me observar e me ajudar quando eu precisasse.

Nossa conexão era mágica, eu não precisava nem falar direito que você já sabia que havia algo errado.

Sei que posso ter disfarçado muito bem de uns tempos pra cá, mas no fundo eu sabia que você suspeitava que tinha algo errado, contudo respeitava meu espaço pois sabia que quando eu estivesse pronta, eu me abriria.

Mas infelizmente, esse dia não chegou e eu resolvi partir.

Me perdoe.

Mas mudando de assunto...

Samantha já deve ter lido a carta dela e vocês têm a mesma meta, então por favor, se encontrem e façam um dia de meninas, sei o quanto vocês se gostam e acho que seria ótimo para as duas se conseguissem sair juntas e se distrair.

Você, assim como ela, tem uma semana pra cumprir o que eu pedi e nos encontraremos de novo, daqui exatos sete dias.

Por favor, seja feliz.

Eu amo você.

Com amor, Emma.