A terceira carta para Drake

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"Depois de tudo o que passamos
Não quero viver em um mundo sem você
Porque nós fomos feitos para ir para baixo em conjunto."
— Anchor

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terceira semana, penúltimo pedacinho de mim

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terceira semana, penúltimo pedacinho de mim...

Acho que passou mais rápido do que vocês imaginavam, não sei.

O que mais me preocupa na verdade é saber se tudo isso está dando ou deu certo, porque eu me importo com todos e queria de verdade que fossem felizes.

Olha Drake, eu vou ser bem sincera agora, tudo bem?

Digamos que embora em alguns momentos a gente brigasse, eu nunca conseguiria imaginar minha vida sem ter um irmão, sem ter você nela.

Então seja lá onde eu esteja agora, saiba que se eu ainda me lembrar da minha vida, estará sendo muito difícil sem você e sem todos que eu abandonei.

Eu vivo dizendo que a depressão me matou, que isso não é sinal de fraqueza, que não é um ato egoísta, mas escrevendo essas últimas cartas, é assim que eu tenho me sentindo.

Tenho completa consciência da minha saúde mental e de como ela está deteriorada, mas mesmo assim, estou me sentindo um lixo de ser humano por estar fazendo isso.

Não que eu vá enfrentar algum tipo de preconceito no lugar que irei parar, mas talvez tanto você, quanto papai e principalmente a mamãe, devem passar por isso em algum momento do dia.

Seja por um olhar torto de alguém que nos conhecida ou um comentário maldito feito em alguma hora nada boa.

Acho que meus amigos não sofrerão muito disso, ou melhor, provavelmente o Charlie, porque ele também era da família, certo?

Certo.

Pra confessar, às vezes eu tinha até ciúme da sua relação com ele e o pior de tudo é que eu não sabia se sentia isso pelo fato do meu irmão estar me roubando toda atenção do meu namorado ou vice-versa.

Pelo visto eu tinha ciúmes de vocês dois, mas ok.

Vamos fingir que eu nunca confessei isso.

Seja lá como for, você sempre foi uma pessoa guerreira e bem batalhadora.

Lembro de quando arrumou um emprego, você tinha dezesseis anos.

Por incrível que pareça, nossos pais quase te mataram porque eles queriam que você focasse nos estudos, mas você bateu o pé e disse que conseguiria fazer os dois.

Seu argumento era que você não queria mais ficar pedindo dinheiro a eles, queria sua própria independência financeira mesmo sabendo que não precisava disso.

Mas se sentia mal em sempre ter tudo de mão beijada e não trabalhar duro por isso.

Eu achei uma atitude admirável.

E cá entre nós, nossos pais também.

Eu sei porque os ouvi conversando sobre isso.

Acredite, eles ficaram bastante orgulhosos.

Até porque, se você for parar pra pensar, não é todo mundo que iria querer isso.

Pelo menos não tão cedo.

O melhor de tudo é que você conseguiu cumprir o que disse, estudou e trabalhou.

Mesmo sabendo o quanto aquilo estava sendo pesado e cansativo pra ti, nunca te vi cogitar em desistir.

Às vezes te via morrendo de estudar e caindo no sono em cima dos livros.

Era eu quem ia lá te cobrir tanto as vezes que você dormiu na sua cama, quanto às que você dormiu no sofá ou na cadeira da mesinha do computador.

Se eu te aguentasse, te pegaria no colo e te colocaria num lugar mais confortável para dormir, que nem nossos pais faziam conosco quando éramos criança.

Mas você é mais pesado que eu, não é?

E bem mais alto também, pois meus 1.59 e 45 quilos, não se comparam aos seus 68 e 1.85 de altura.

Nossa mãe e nosso pai não foram nada justos conosco, deram um tamanho maior pra você e esqueceram o meu sei lá onde.

Isso me deixa indignada.

Depois eles ainda dizem que amam nós dois igualmente, sendo que te fizeram mais alto.

Talvez eu reclame no RH de pais e ganhe uns cm a mais com o resultado do processo.

(Brincadeira).

Acho que vou é no RH dos irmãos mesmo, porque só eu sei as zoações que sofri por causa da nossa diferença de tamanho.

"Mãe, pai. Esperem a outra parte da Emma chegar antes de sairmos de casa, é que só chegou a metade até agora. Ah não, pera... você é só meio metro mesmo."

"— Quando eu era pequena...
— Correção maninha, quando você era mais nova, porque de crescer você esqueceu."

"Você com raiva parece aquele cachorro, o pinscher, só falta se tremer todinha."

Isso são só algumas das inúmeras vezes que sofri, sem contar os apelidos: toquinho de amarrar burro, meio metro, até de Davi eu já fui chamada porque em uma dessas zoeiras suas eu respondi ironizando "ah tá, falou o gigante Golias".

Só Deus sabe o quanto eu sofri, mas o pior/melhor de tudo, é que mesmo reclamando e querendo de matar, ainda mais quando você resolvia implicar comigo junto com o Charlie, eu amava isso tudo.

Amava/amo você e todos os nossos momentos juntos.

Nossa relação era incrível, tivemos muita sorte pelo fato da vida ter nos feito irmãos.

Obrigada, Drake.

De verdade.

E ah, antes que eu vá, sua meta pra semana é:
quero que você crie coragem e invista no seu sonho de tocar em algum lugar com seus amigos.

Eu já escutei os ensaios de vocês escondida – sim, talvez eu tenha feito muito isso – e sei como são bons.

Acho que deveriam investir, ainda mais por saber o quão revigorante é cantar e ouvir música.

Mal posso esperar pra te ver se dando bem, depois de tanto batalhar, a felicidade é pouco pro que você merece.

Espero que dê tudo certo, ok?

Qualquer coisa eu estarei aqui cuidando de ti, mesmo que de longe, eu ainda estarei contigo a todos os momentos.

Eu prometo.

Te amo, Drake.

Com amor, Emma.

Cartas para aqueles que deixei - #EscritoresDeOuroWhere stories live. Discover now